“Temos colegas que nos procuram chorando por não conseguir acompanhar as decisões da Seduc com tamanha velocidade e falta de humanidade.”
Na última terça (21), 27 diretores(as) e vice-diretores(as) de escolas da abrangência da 28ª CRE assinaram e enviaram à mantenedora uma carta que detalha a situação crítica vivida pela comunidade escolar durante a pandemia.
Leia a íntegra do documento aqui.
Sobrecarga de trabalho, imposições pedagógicas e burocráticas, orientações confusas e contraditórias e desrespeito à gestão democrática têm marcado a gestão da Secretaria em meio à crise sanitária.
O documento traz uma série de reivindicações para mitigar a exclusão, melhorar as condições de trabalho e preservar a saúde física e mental de educadores(as), estudantes e suas famílias.
Mais agilidade na entrega de cestas básicas à comunidade e auxílio financeiro para arcar com gastos de internet, luz e aquisição e manutenção de equipamentos são algumas das demandas.
Demanda a carta: “Sobre a internet que está sendo prometida pelo governo, a informação é que precisamos chegar a 70% dos acessos ao classrroom para que a mesma seja disponibilizada. Avaliamos que deveria ser o contrário: liberar a internet para que se chegue aos 70% de acesso.”
As direções também requerem a disponibilização de auxílio psicológico para todos e afirmam que a profusão de “lives e palestras de coach” promovidas pelo governo indicam pouco caso com a categoria.
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A insatisfação da comunidade escolar tem motivado crescentes questionamentos e episódios de sublevação na rede estadual.
Nesta semana, 118 escolas estaduais da capital assinaram um documento intitulado “Nosso compromisso é com a vida, com a escola pública e com o conhecimento para todos!”, que também denuncia as cobranças abusivas das mantenedoras.
Avanço da Covid-19 preocupa direções
A carta entregue à 28ª CRE critica, ainda, a condução por parte do Estado do debate sobre a volta às aulas presenciais.
O governo determina protocolos de segurança sem ouvir quem trabalha no chão da escola e, ao mesmo tempo, terceiriza suas responsabilidades para as equipes diretivas.
“Não somos apenas tarefeiros(as), garantimos que somos responsáveis pelo que decidimos, como não fomos ouvidos na consulta ‘pública’ (realizada através do questionário disponibilizado pelo governo sobre o retorno das aulas), não podemos responder pelo retorno”, afirma o texto.
“E se ocorrer alguma contaminação, algum óbito, a responsabilidade será da(o) Diretora(o)? Isso é muito sério. Não somos especialistas, técnicos da área da Saúde, e, sim, da área da Pedagogia e Gestão Escolar”, continua.
Nesta sexta (24), a escola Ponche Verde, de Gravataí, uma das instituições que assinou o manifesto, divulgou comunicado pelo Facebook que aponta dois casos de coronavírus. Uma das educadoras se encontra em estado grave.
Assim que soube dos casos de contaminação, a direção buscou orientações junto ao jurídico do CPERS e comunicou imediatamente a Seduc. Os plantões presenciais foram suspensos e, em breve, será realizada a dedetização da escola.
“A funcionária que trabalha na escola está recuperada. Já a professora está internada no hospital de campanha de Gravataí. Faz mais de 30 dias que ela foi na escola”, afirma a diretora da instituição, Letícia Gomes.
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