Artigo de Helenir Aguiar Schürer publicado originalmente no Sul 21*
O Sistema de Distanciamento Controlado do Rio Grande do Sul trabalha com a doença, não com a preservação da saúde.
Ao estabelecer bandeiras de menor risco de acordo com a quantidade de leitos de UTIs disponíveis, o governo Eduardo Leite (PSDB) age de forma a contar com um número cada vez maior de pessoas internadas.
De forma perturbadora, uma cidade pode melhorar no ranking de bandeiras se deixar morrerem os pacientes que ocupam UTIs. Desde a última alteração no sistema, uma disparada no número de mortes pesa menos do que a taxa e ocupação de leitos.
Para combater a Covid-19, portanto, Leite aposta no contágio, por um lado, e na morte, por outro.
Sem testes, sem casos
Em paralelo, o governo desestimula a testagem nos municípios, visto que a prevalência de casos positivos é outro fator a pesar na definição das restrições.
De acordo com levantamento do portal Nexo, o estado está em 23º lugar no ranking de testes por 100 mil habitantes, em franca contrariedade com a recomendação de especialistas e autoridades sanitárias.
Temos cidades, como Palmeira das Missões, que estabeleceram convênios com a Universidade Federal de Santa Maria para adquirir testes em grande quantidade e com o custo muito abaixo do mercado.
Mas não testar parece ser uma política do governo Leite, já que em momento algum o Estado coordenou esforços para fazer uso da inteligência e da capacidade instalada no seu território.
Dança das bandeiras
Qualquer manual de como gerir uma situação de emergência ou calamidade pública dirá que é necessário ter uma estratégia de comunicação clara e objetiva.
Mas a dança das bandeiras, com duas revisões semanais, regras complexas e mudanças periódicas nos próprios critérios de definição, confunde e deseduca.
Mesmo em sua característica mais básica e de fácil compreensão, o modelo falha.
Quando a bandeira é amarela, o povo sai às ruas. Afinal, é o nível de risco mais baixo possível. Quando muda para laranja, o povo sai às ruas; pois não é a vermelha. Se é vermelha, continuam a sair; a preta é a pior.
Pá de cal
Nesta semana, a pressão de municípios e federações empresariais transformou 18 bandeiras vermelhas em oito num passe de mágica, apesar da expansão acelerada de contágio e de óbitos.
Já desmoralizado e despido de qualquer verniz científico, o Sistema de Distanciamento Controlado dava seus últimos suspiros enquanto o estado assistia ao “grenal da infâmia”. Agora, emulando Bolsonaro, o governador repassará a terceiros – os municípios – a definição das restrições. É a pá de cal na credibilidade do sistema.
Estamos à deriva enquanto Eduardo Leite admira sua própria imagem no espelho, dobra a aposta em discurso vazios e trabalha para tirar de si a responsabilidade pelo fracasso.
*Helenir Aguiar Schürer é professora do Estado há mais de 30 anos e atual presidente do CPERS Sindicato
