Diversos estados adotam testagem em massa como requisito para retorno das aulas presenciais


Sem maiores explicações, recorrendo à ladainha de que é impossível e caro demais, o governo gaúcho descartou a possibilidade de testagem em massa para professores(as), funcionários(as) e estudantes da rede estadual antes da volta às aulas.

Mas a estratégia – além de estar alinhada ao que preconizam especialistas e órgãos internacionais – está sendo adotada por diversos estados e municípios no Brasil.

Em São Paulo, estado governador pelo mesmo partido (PSDB) de Eduardo Leite, Dória anunciou neste mês testes para alunos e servidores da rede estadual não só para diagnosticar possíveis contaminações pelo novo coronavírus, mas também como método para pensar as estratégias adicionais na volta às aulas.

Os testes vão abranger escolas distribuídas por 20 municípios. O governo estadual paulista pretende aplicar os testes em 100 alunos por escola. Já os servidores passarão TODOS por testes de Covid-19.

No Rio de Janeiro, os testes serão realizados antes mesmo do retorno, através de uma parceria entre as secretarias estaduais de Saúde e de Educação. 

No Ceará, o governo anunciou que alunos, professores e demais funcionários de instituições de ensino irão realizar testes de diagnóstico para coronavírus semanalmente abrangendo todos os níveis de ensino, tanto da rede pública, quanto particular de todas as regiões que se tornarem aptas ao retorno presencial do ensino.

No
Amazonas, o primeiro estado a retomar as aulas presenciais na rede pública no Brasil, 619 profissionais de educação apresentaram diagnóstico positivo para Covid-19 após dez dias de testagem em massa.

Por lá, desde o início da utilização de um aplicativo para o monitoramento da situação, no dia 13 de agosto, foram notificados 170 casos suspeitos de Covid-19. Desse total de notificação, 164 eram professores, um aluno e outros cinco são profissionais da comunidade escolar.

A experiência amazonense reforça a declaração de Lucia Pallanda, reitora da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA) e presidente do Comitê Cientifico de Apoio ao Enfrentamento da Pandemia Covid-19 no Rio Grande do Sul. Segundo ela, o risco de contaminação para os professores e funcionários é muito maior, já que esses tem contato com muitos estudantes. 

Ela ainda recomenda que somente se considere o retorno às atividades presenciais quando houver desaceleração significativa do número de casos e capacidade de rastreamento e testagem de todos os novos casos nas escolas.

Em
entrevista ao jornal Estadão, Pedro Hallal, epidemiologista e reitor da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), responsável pela pesquisa EpiCovid-19, declarou que qualquer retomada de atividades deve vir acompanhada de um protocolo de testagens.

“A iniciativa de testar todos os estudantes e professores antes de retomar às aulas é uma ótima ideia e tem de ser elogiada”, disse Hallal sobre a iniciativa do governo de São Paulo.

O especialista também explicou que a testagem deve ser usada de forma contínua e que a cada vez que haja uma contaminação na escola, deve haver um protocolo de ação previamente pensado.

Na mesma reportagem, Domingos Alves, professor da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (USP), destacou que as testagens são importantes, mas o ideal seria mesmo a vacina. “As evidências que existem em qualquer pandemia é que proteção é dada por vacina”, declarou.

Na última Assembleia Geral Extraordinária do CPERS, uma das propostas aprovadas pelos quase 2.000 educadores que participaram foi a exigência de testagem RT-PCR em massa para professores, funcionários e estudantes, de forma imediata e com periodicidade.

O retorno das aulas presenciais e a segundo onda de casos de Covid-19

Em diversos países, principalmente da Europa, o retorno das aulas presenciais está diretamente ligado ao surgimento de novos casos de Covid-19, a chamada segunda onda. 

Segundo estudo publicado pela revista Lancet, a reabertura das escolas pode levar a uma segunda onda de infecções, com pico previsto para dezembro de 2020. Ainda de acordo com a pesquisa, a segunda onda poderá ter até 2,3 vezes o tamanho da atual. 

O estudo, divulgado pelo Dieese, também aponta que a capacidade de rastreamento de casos estará ligada a esse aumento ou não das infecções. 

Tipos de testagem

O CPERS exige o teste RT-PCR, que são amostras coletadas com cotonetes inseridos no nariz ou na garganta. Esse tipo de teste traduz um cenário mais atual de contaminações em comparação com um inquérito sorológico, que analisa amostras de sangue.

O RT-PCR foi o método preferido pela Prefeitura de São Paulo, por exemplo, o que garante monitoramento em tempo real da circulação do vírus nas áreas testadas. 

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