Comitê Cientifico do próprio Estado não recomenda o retorno às aulas presenciais


“Se não tiver como testar e rastrear a gente recomenda que não volte”.

Esta foi a declaração de Lucia Pallanda, reitora da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA) e presidente do Comitê Cientifico de Apoio ao Enfrentamento da Pandemia Covid-19, durante audiência da Comissão de Educação da Assembleia Legislativa do RS, nesta terça-feira (6).

O Comitê, formado por pesquisadores das universidades gaúchas e autoridades científicas de diversas áreas do conhecimento, foi instituído em março pelo Estado para prestar apoio às atividades de enfrentamento à pandemia.

Durante o encontro o 2º vice-presidente do CPERS, Edson Garcia, apontou que o governo Eduardo Leite (PSDB) está transferindo a sua responsabilidade para os pais, que terão que assinar um termo para que seus filhos voltem a escola, e  para os Comitês Operacionais de Emergência em Saúde (COEs).

“Temos muitas escolas que o COE é formado por pessoas da direção da instituição, pelo porteiro, assistente de limpeza. Como essas pessoas serão responsabilizadas sem ter nenhum conhecimento técnico sobre o assunto?”

Edson ainda lembrou que mais de 150 educadores foram contaminados pela Covid-19 durante os plantões nas escolas e também denunciou a falta de estrutura e recursos humanos das instituições estaduais para seguir o protocolo do governo.

“Nós não temos funcionários para manter a higienização necessária. A nossa preocupação é pela vida, que é o que importa. Temos um governo que em sete meses não fez nada para melhorar as aulas remotas”, declarou.

O professor também criticou que as máscaras e álcool em gel que o governo diz que vai fornecer não são suficientes para a proteção dos educadores(as) ou dos estudantes.

“Quando falamos em máscaras e álcool em gel, isso não significa EPIs para mim. Queremos que o estado invista para que possamos voltar com segurança. Voltar neste momento é uma atitude extremamente irresponsável deste governo”, concluiu.

Vera Maria Lessês, coordenadora do Departamento de Saúde do Trabalhador do Sindicato, destacou que o governo desconsidera o que os pais querem nesse momento.

“Faltam profissionais para o retorno, a questão da comorbidade é muito grande na categoria. O governo desconsidera a pesquisa feita com os pais que acena para o não retorno. Estamos temorosos com a vida dos nossos educadores e estudantes”, afirmou.

Vera também pediu o apoio da comissão para que as aulas não retornem. “O que puderem fazer para nos ajudar para as aulas não retornarem nós agradecemos. Temos a convicta clareza que esse não é o momento certo, temos que ter um declínio considerável do vírus a até mesmo um esforço grande do governo para que tenhamos uma vacina quanto antes”, finalizou.

“Um surto em uma escola pode levar o SUS ao caos”

O Comitê Científico de Apoio ao Enfrentamento da Pandemia Covid-19 recomenda que somente se considere o retorno às atividades presenciais quando houver desaceleração significativa do número de casos, capacidade de rastreamento e testagem de todos os casos novos nas escolas, além de garantia de estruturas para aplicação dos protocolos de segurança necessários.

Lucia Pallanda explica que as crianças apresentam um risco mais baixo de contágio, mas não estão imunes ao vírus.

“Não sabemos se as crianças transmitem mais que adultos, mas sabemos que crianças e jovens circulam mais. O potencial de transmissão para a família é alto. No Rio Grande do Sul tivemos 15 óbitos de crianças. Parece pouco, mas não é. Cada uma dessas mortes é uma vida, é uma família que está sofrendo a perda”, destaca.

A reitora também chama a atenção que dos países que retornaram às aulas, nenhum estava com o nível tão elevado do vírus como estamos.

“Em países que voltaram, teve óbitos de professores e funcionários. Se nós como epidemiologistas pudéssemos escolher, diria para não voltar nesse momento”, afirma.

A epidemiologista frisa que o risco de contaminação para os professores e funcionários é muito grande, já que esses tem contato com muitos estudantes e recomenda que todos usem, além da máscara, o escudo de proteção.

“A gente se pergunta se não tem outra maneira de fazer isso sem colocar toda uma comunidade em risco, em vista que ainda estamos em um nível elevado do vírus. Um surto em uma escola pode levar o SUS ao caos”, observa.

Lucia destaca que não só os grupos de risco estão em perigo, mas todas as pessoas, pois cada organismo reage de um jeito ao vírus.

“Temos casos de pessoas que ficam com o vírus por meses no organismo e muitos assintomáticos. Sabemos que ficar com o vírus por muito tempo afeta o sistema nervoso, perda do paladar e terão mais consequência que ainda não temos conhecimento”, explica.

“Sabemos que a escola é muito mais que conteúdo. Temos que pensar que nesse momento podemos ensinar para nossas crianças como cuidar do próximo, do planeta. Para voltarmos, temos que ter um longo debate com a sociedade. O ano letivo a gente recupera. Cuidar da saúde das crianças e educadores para mim, é prioridade”, conclui a reitora.

Confira aqui a íntegra da nota técnica do Comitê Cientifico da UFCSPA com as considerações sobre a volta às aulas.

Ao fim do encontro, a deputada Sofia Cavedon, presidente da comissão ainda destacou: “O ano letivo está em um ritmo, a gurizada pegando o jeito com as aulas remotas. Há alternativas sim para os nossos estudantes adquirirem conhecimento”.

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