Posições convergentes em defesa da vida marcaram reunião convocada pelo CPERS na manhã desta quinta (25), com a presença do presidente da Federação das Associações de Municípios do Rio Grande do Sul (Famurs), Eduardo Freire, e da deputada Sofia Cavedon (PT), presidente da Comissão de Educação da Assembleia Legislativa.
Em debate, o avanço da pandemia em todo o estado, o contágio que já se alastra na comunidade escolar devido aos plantões e atividades presenciais, a realidade dos municípios e a falta de diálogo do governo Leite na definição dos protocolos de segurança para o retorno às aulas.
Todos concordam: sem testes, sem controle e sem segurança não há como reabrir escolas no Rio Grande do Sul.
“Antes do mês de setembro não temos sequer como discutir o retorno das aulas presenciais. Se a pandemia continuar evoluindo, em pouco tempo teremos uma catástrofe. Como voltar às aulas assim?”, ponderou Eduardo Freire, que além de presidir a Famurs, é prefeito de Palmeira das Missões.
“A vida não tem preço. No atual cenário, não temos condições de retomar as aulas presenciais, pois não há segurança a educadores e estudantes. Quando o governo nos ouve, não considera o que temos a dizer na construção dos protocolos”, destacou a deputada Sofia Cavedon.
Freire também criticou a falta de escuta da gestão Leite, a ausência de uma política de testagem em massa e a frequente mudança dos critérios utilizados para balizar as cores no Sistema de Distanciamento Controlado, em geral realizadas para atender a anseios econômicos em detrimento da vida.
“Essa insistência em antecipar a abertura prejudica tanto a economia quanto a saúde, e cria uma falsa ilusão na população de que a situação vai se resolver rapidamente”, observa o prefeito.
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Sobre a retomada do ensino presencial iniciar pela educação infantil, Freire ressaltou que a posição da Famurs é a de que a etapa seja a última a voltar.
“Nessa idade será muito difícil manter o distanciamento necessário entre as crianças. Como fazê-los compreender que não podem brincar ou que devem ficar longe dos colegas e dos professores?”, observou a presidente do CPERS, Helenir Aguiar Schürer.
Freire demonstrou preocupação com o desconhecimento da real situação da pandemia em muitos municípios, alertando para o fato de que há gestores que não fazem testes para evitar o registro de um maior número de casos e, assim, manter uma bandeira de menor risco no modelo estadual.
“O governo não pode deixar para os municípios a responsabilidade de decidir se abrem ou não as escolas municipais”, considerou. A Famurs tabém protocolou um documento junto a Seduc e ao governo solicitando um estudo técnico que comprove a segurança para o retorno das aulas presenciais.
Após plantões nas escolas, educadores são contaminados
“Na coordenadoria de Santa Maria temos a informação de que quatro professoras foram contaminadas. Devido aos plantões, diretores, professores e funcionários estão com Covid-19. A pandemia está longe de ser controlada”, expôs Helenir.
“Já pedimos ao governo a suspensão dos plantões nas escolas e a sanitização onde houve a contaminação. Se o secretário de educação não nos responder até hoje, vamos entrar com um pedido de mediação no Ministério Público”, afirmou Sofia.
Sônia Solange Viana, diretora do departamento dos funcionários de escola do CPERS, denunciou que há profissionais que mesmo sendo do grupo de risco estão fazendo plantão por medo de serem demitidos. “Uma diretora nos relatou que precisa comparecer três vezes por semana à instituição, inclusive quem é do grupo de risco. Há uma pressão e um assédio moral muito grande em cima dos educadores”, observou.
A falta de estrutura e de equipamentos de proteção também foram apontados. “Os funcionários estão usando as máscaras que têm em casa e, muitas vezes, eles só têm uma. O repasse do governo para as escolas estava atrasado, então não há recursos para comprar os EPIs, máscaras e produtos para higienização. Fora o número insuficiente de funcionários”, alertou.
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Sobre a discussão quanto aos protocolos adotados na retomadas das aulas presenciais, Helenir frisou que o governo não inclui o CPERS nas discussões. “Somos nós que fazemos a educação, que conhecemos nossos alunos. E o governador não nos chama para participar. Estão decidindo nossa vida sem nos ouvir”, destacou.
Contradições entre Seduc e governo
A coordenadora da área técnica de Educação da Famurs, Fátima Ehlert, relatou que a entidade já realizou diversas reuniões com o secretário de educação, Faisal Karam, e que percebe uma disposição favorável do secretário para construir, mas não do conjunto do governo.
“Percebemos que o secretário tem a visão de que não tem como retomar as aulas presenciais. Chegou a dizer que não há possibilidade antes de outubro. Mas vemos que ele está num embate muito forte com o governo nesse sentido”.
Encaminhamentos
Ao final da reunião ficou definido que o CPERS, a Famurs e a Comissão de Educação irão exigir testagem em massa dos profissionais que estão realizando plantões nas escolas, e que a prática se torne um padrão quando do retorno às aulas.
“O governo poderia envolver as universidades na testagem e fazer testes rápidos nos profissionais da educação, da saúde e em fábricas e frigoríficos. Os educadores que estão fazendo plantão deveriam ser testados, por exemplo, a cada dez dias”, considerou Freire.
“A testagem é considerada, assim como o isolamento, uma ação eficaz no combate ao coronavírus. Inclusive, em outros países, é considerada fundamental para o retorno às aulas presenciais. Vamos exigir do governo a aplicação dos testes. Vemos a Comissão e a Famurs como grandes parceiros”, afirmou Helenir.
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