A foto que ilustra esta nota é de uma escola estadual gaúcha na primeira semana de junho.
No mesmo período, o estado registrava recordes de novos casos, mortes e ocupação de UTIs. Em um mês, a média de contágios diários triplicou.
Por bom senso, e por força da Lei, a escola deveria estar fechada. Mas a realidade é outra em muitos estabelecimentos da rede estadual.
Pais e alunos fazem fila na entrada para entregar trabalhos. Professores(as) fazem fila para coletar as atividades. Funcionários(as) da limpeza e de outros setores trabalham diariamente, mesmo sem protocolos claros ou treinamento específico.
Direções escolares se desdobram para atender às ordens vacilantes e contraditórias do governo Leite. Na TV, o governador diz uma coisa. Na prática, outras acontecem.
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A pressão das CREs se dá por vias informais. Não há oficialidade, mas uma burocracia clandestina que opera por grupos de whatsapp, áudios de coordenadores, rumores e documentos vazados.
Sem documentos, sem provas. Assim o governo se resguarda legalmente de responder por eventuais contágios no período de aulas “remotas.”
Quem vai se responsabilizar quando um estudante contrair Covid-19 e a escola tornar-se um foco? Quem armou essa bomba biológica?
Promessas vazias
Quando as aulas presenciais recomeçarem, que garantias teremos de que o Estado cumprirá seus protocolos de segurança?
Os educadores, com os salários confiscados e os direitos cortados, sabem bem: o que o governo promete não é o que o governo cumpre.
Estes protocolos sanitários, vale lembrar, foram construídos a portas fechadas com empresários e investidores da rede privada, sem consultar quem realmente conhece o chão da escola.
São regras ditadas justamente por quem tem urgência em abrir as escolas. Pessoas que têm compromisso com o lucro, não com a vida.
Não há, por exemplo, mecanismos previstos para denunciar eventuais falhas no cumprimento das normas ou falta de equipamentos de proteção.
Caberá, mais uma vez, a entidades representativas dos trabalhadores(as) atuarem informalmente como órgãos de fiscalização e denúncia.
É também pela falta de diálogo com a categoria que os protocolos ignoram o elemento humano e afetivo. Como explicar aos nossos pequenos que não poderão abraçar a professora ou a “tia da merenda”?
Como garantir que não compreendam o afastamento como rejeição? Quantos psicólogos teremos ao dispor da rede para cuidar dos aspectos emocionais dos nossos jovens e crianças?
Crise e ansiedade
Já as constantes mudanças de metodologia das aulas programadas têm sido um vetor de crise e ansiedade.
Desconectado da realidade social e ignorando as desigualdades de condições da rede, o secretário Faisal Karam age de forma deslumbrada.
Enquanto a Secretaria afirma que a Google vê o estado como um case mundial no uso da plataforma Classroom, há educadores(as) contando dinheiro para comer, tirando do próprio bolso para arcar com dados móveis e dar aulas.
Mesmo sem salário, sem respeito e sem suporte do governo, os professores(as) estão trabalhando mais, atendendo pais e estudantes a qualquer horário e usando equipamentos próprios.
À revelia da gestão democrática, toda a comunidade escolar é submetida a verdadeiras gincanas digitais, em uma clara instrumentalização da pandemia para acelerar a implantação do EAD.
Estado e grupos como a Lemann veem na tragédia humanitária uma oportunidade para pôr em prática planos que podem levar à redução de recursos humanos e à privatização da educação.
Tempos incertos
Também é evidente que as escolas precisam de recursos extras para adequar o trabalho e os espaços escolares.
Mas, sejamos francos: em tempos normais, o governo sequer repassa em dia verbas obrigatórias para a manutenção e aquisição de bens essenciais para o seu funcionamento diário.
Quem acredita que terá capacidade de mantê-las abertas e em segurança em meio à pandemia?
São tempos incertos. Mas temos uma certeza: não é hora de retornar.
A pandemia está distante do pico e o consenso científico não mudou desde o primeiro fechamento das escolas: isolamento social é a única forma de conter o avanço da Covid-19.
Mesmo quando se constatar o pico, uma curva descendente não deve servir de parâmetro único até que o tempo permita concluir a redução constante e acentuada de casos e mortes.
O caminho para a normalidade sanitária será longo e árduo. Faltam testes, falta controle, falta segurança.
Governador, não falte com as vidas do povo gaúcho.
Feche todas as escolas e não abra até que a pandemia esteja, de fato, sob controle.
Assinam esta nota:
CPERS/Sindicato
AIERGS – Associação dos Inspetores de Ensino do RS
AOERGS – Associação dos Orientadores Educacionais do RS
ASSERS – Associação dos Supervisores de Educação do RS
Comitê Popular Estadual de Gestão da Crise Educacional
Representantes do CPERS no Conselho Estadual de Educação (Ceed)