Governo corta adicional de insalubridade de professores que lidam com agentes químicos e ensino técnico


Apesar da pandemia e da suspensão das aulas presenciais, o professor Igor não pôde adotar as medidas de isolamento social. O seu trabalho, em uma escola agrícola estadual, exige cuidado e dedicação integrais, de corpo presente.

“Temos criações, hortas e viveiros, verdadeiros laboratórios vivos, que não podem ser simplesmente largados”, conta o educador, que vive em uma cidade no interior de Santo Ângelo e pediu para não ser identificado com medo de represálias (o nome Igor é fictício).

Apesar disso, seu salário foi permanentemente reduzido em cerca de R$ 460 pelo governo Eduardo Leite (PSDB). Ele perdeu o adicional de insalubridade, gratificação à qual profissionais do Magistério não têm mais direito de acordo com o novo Plano de Carreira, mesmo quando expostos a riscos evidentes.

“Fui olhar meu contracheque e vi que o governo expressou toda sua gratidão à nossa abnegação e cuidado. Além de continuar trabalhando na pandemia, lido diariamente com agrotóxicos e agentes químicos e biológicos. Quem arquitetou esse desconto desconhece completamente a nossa realidade”, desabafa o educador.

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Assim como as demais mudanças e cortes implementados em plena pandemia – como a alteração do Difícil Acesso e o desconto da previdência dos aposentados(as) – a revogação da Gratificação Especial de Insalubridade pegou os trabalhadores(as) de surpresa.

 

É o caso de Kátia Bianca, professora de química da Escola Técnica Parobé, em Porto Alegre. Sua rotina envolve o preparo e testagem de experimentos antes de passá-los aos alunos.

A professora também manipula vidrarias e faz a limpeza do local para evitar contaminação. “Todos os dias estou lidando com agentes químicos nocivos. O próprio ambiente do laboratório já é insalubre”, explica.

As contas do mês não fecham

Não bastasse ter que lidar com o impacto do desconto do adicional de insalubridade, o professor Igor teve uma redução brutal dos seus proventos com outros cortes no contracheque. Ao todo, foram mais de R$ 1,9 mil de descontos, incluindo prestações de empréstimos acumulados.

O educador explica que a cada mês tem se tornado difícil equilibrar as contas e que a situação afeta muito o seu psicológico. “Mesmo tendo gastos programados, com todos esses descontos não vou conseguir pagar as minhas contas. A gente adoece com isso “.

Já para Kátia, o desconto da gratificação de insalubridade foi o que mais abalou o seu orçamento. A professora perdeu cerca de R$ 300 e relata que seus colegas tiveram descontos do adicional de R$ 600 a R$ 700 no contracheque.

“É um dinheiro que estava contando. Desde 2007, quando entrei no Parobé, recebo o adicional. Hoje esse valor faz falta. A gente é a classe que menos recebe entre os servidores públicos. É muito injusto”, desabafa.

“Acho que ele tirou nossos direitos nesse momento justamente porque a gente está nessa pandemia. Não podemos sair de casa para reivindicar nossos direitos. Ficamos de mãos atadas”, afirma a educadora.

O 2º vice-presidente do CPERS, Edson Garcia, avalia como desumana a retirada de direitos em um período de extrema fragilidade.

“Se não tivermos o adicional de insalubridade pra quem lida com máquinas, animais, eletricidade, não vamos ter nunca uma educação profissional funcionando a contento. Não vamos ter laboratórios operando como deviam. Não teremos nenhum estímulo. Cortar na carne de quem trabalha exposto a inúmeros riscos é perverso”, declara Edson.

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