Na última semana, denunciamos a escandalosa morosidade da Seduc na admissão de contratados(as) e convocações; educadores(as) chegam a trabalhar por até seis meses sem receber um centavo até o primeiro contracheque. Nas mesmas escolas, encontramos direções indignadas com a inépcia do novo governo para cumprir atribuições mínimas na gestão da educação.
Apesar do discurso de eficiência e racionalização, na prática o governo Eduardo Leite se mostra incapaz de resolver problemas básicos do ano letivo, respondendo solicitações com meses de atraso, sobrecarregando quem trabalha no chão da escola e deixando milhares de estudantes sem aulas.
Na EEEF Souza Lobo, na Zona Norte da capital, por exemplo, faltam professores(as) para as séries iniciais, artes e supervisão, bem como uma merendeira.
“A Secretaria de Educação está levando um tempo interminável para responder nossas solicitações”, conta a diretora Karla Bolson. “Uma das professoras está sem receber desde o início do ano. Levaram três meses só para responder que o cadastro tinha algo errado. Toda hora é um documento diferente faltando. Aí tu faz, refaz e eles levam mais três meses para responder”, explica.
Karla lembra que, como diretora, tem prazos a cumprir e não pode faltar com suas atribuições, sob pena da escola ser penalizada. Enquanto isso, o governo caduca. “Eu tenho compromisso com a vida funcional dos profissionais que estão na escola, e não sinto esse retorno da mantenedora. Com esse governo piorou infinitamente”, desabafa.
A diretora conta, ainda, que a escola fechou duas turmas do 3º ano em 2019 e que outras duas serão encerradas no próximo ano. “É um desgaste emocional imenso, pois sou eu que tenho que dar uma resposta para a comunidade escolar. Eu me sinto enrolando os pais, porque o governo está me enrolando, então é um ciclo vicioso”, finaliza.
A vice-diretora da EEEF Aldo Locatelli, Mariane Rocha Dias, relatou as mesmas dificuldades. Duas turmas de 9º ano e uma 8º estão sem aulas de português desde maio, faltam duas professoras de anos iniciais, a biblioteca está sem uma profissional e há uma vaga em aberto para merendeira.
“No dia em que a única merendeira da escola não vem, somos nós que preparamos a comida. Então oferecemos frutas ou bolachas, pois não podemos cozinhar. E ainda temos que fazer um relatório explicando por que não oferecemos a merenda prevista no cardápio da Seduc”, afirma.
A diretora também critica a morosidade do governo. “A resposta da Seduc é que eles não tem quem mandar. Estão naquele enxuga enxuga de outras escolas para mandar um professor para cá. Não contratam, não chamam os nomeados, não abrem contratos, então é essa a situação”, observa.
Não é apenas no refeitório que a equipe diretiva se desdobra para garantir o atendimento aos estudantes. “Há professores dando aula para duas turmas juntas, fazendo de tudo para manter os alunos. Todos nós, diretora, vice-diretora, estamos em sala de aula para não perder esses estudantes. Mas chega uma hora em que não aguentamos mais”, confessa.
Caos planejado
Em meio ao caos, a Seduc não dá sinais de novos concursos públicos para preencher a falta de pessoal e precariza cada vez mais a condição dos contratados emergenciais. Resta a dúvida: quais são as reais intenções desse governo? Porque, quando o Estado assume a política deliberada de piorar seus serviços, prenunciam-se medidas ainda mais violentas, como a privatização do ensino e a terceirização dos profissionais da educação.
A desorganização do ano letivo não é por acaso. Consta, no planejamento da Seduc, a meta de reduzir duas mil turmas até o final de 2019. Seriam cinco mil turmas a menos até o final do governo. Como disse Darcy Ribeiro, a crise da educação não é crise, é projeto.
Mas faltou ao governador combinar com a realidade. Somente neste ano, a rede pública recebeu 30 mil estudantes a mais do que em 2018. A conta não fecha.
Exigimos esclarecimentos e soluções imediatas. A escola pública atende mais de 80% dos estudantes do Rio Grande do Sul. Não é possível que, além de trabalhar com salários atrasados há 44 meses e congelados há mais de quatro anos, não tenhamos o mínimo de tranquilidade para desenvolver o processo educacional e garantir a qualidade do ensino.