“Mudei minha rotina diária de trabalho faz uns dois meses, pois tive muitos problemas relacionados à ansiedade e ao estresse, inclusive três ataques de pânico, sendo dois em agosto, quando decidi mudar a rotina, mas não sei quais serão as consequências”, esse é o relato da professora de sociologia e história, Estela Simone Rodrigues de Menezes, 43 anos, de Uruguaiana.
Pressão, carga horária imprevisível, estresse, ansiedade e insegurança têm marcado o dia a dia dos trabalhadores(as) em educação durante a pandemia.
Pesquisa realizada pelo CPERS e consolidada pelo Dieese revelou que 98% dos professores(as) estão trabalhando mais do que as horas contratadas e sem qualquer auxílio do Estado.
Estela leciona no IEE Elisa Ferrari Valls e atende cerca de 300 educandos(as), divididos em seis turmas de 3º ano e quatro de 2º ano do Ensino Médio.
De maio a agosto, quando decidiu priorizar a saúde física e mental, a professora conta que trabalhava o dia inteiro, incluindo aos finais de semana, parava somente para dormir e ainda não dava conta da demanda.
“Trabalhava de 10 a 16 horas por dia. Agora decidi trabalhar apenas as 20 horas de minha carga horária. Para isso tive que passar a usar recurso de áudio para os conteúdos e sintetizar e simplificar ao máximo as aulas e as atividades de avaliação”, explica.
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O processo de reorganização e autocuidado de Estela passou por encarar de outra maneira as exigências e a pressão por parte do Estado.
“Não estou acompanhando mais as lives da Secretaria Estadual de Educação, portanto não tenho os atestados de participação das mesmas. Não sei quais serão as consequência. Agora também diminuíram as fichas e planilhas que nos mandam para preencher, mas decidi não preencher nada e não realizar nada que não caiba em minha carga horária”, continua Estela.
Outro dado levantado na pesquisa do Sindicato aponta a dificuldade de conciliar o aumento na carga de trabalho com o cuidado de filhos pequenos, o preparo das refeições, o trabalho doméstico e os cuidados com a saúde.
A educadora confirma. “Os cuidados comigo e com a casa estavam extremamente prejudicados, recém estou pondo aos poucos as coisas em ordem. ”
Governo Leite desrespeita e massacra educadores: “Me sinto esgotada”
Professores e funcionários de escola já amargam quase seis anos sem reajuste salarial e 57 meses de salários parcelados e atrasados, além da redução de direitos em meio à pandemia com a aplicação das mudanças na carreira aprovadas por Eduardo Leite (PSDB.
À ansiedade do período e à necessidade de assegurar o acesso à educação, soma-se a dificuldade de honrar contas básicas como aluguel, luz, e alimentação.
“Me sinto esgotada. Como disse já tive problemas como ansiedade e ataques de pânico. Sempre que o governo apronta mais uma, já fico mal e nem posso ir na psiquiatra com quem faço tratamento porque o IPE não cobre. Nem meu salário dá conta”, desabafa Estela.
A educadora diz que participou da última greve da categoria e os prejuízos financeiros continuam sendo contabilizados até hoje.
“Me foi retirado muito mais de um salário de um mês e ainda não foi reposto, nunca tinha entrado no cheque especial e desde então vivo no limite, além de ter contraído vários empréstimos. Ou seja, vivo pagando os juros desse ataque desse desgoverno que para mim foi terrível tanto financeiramente quanto moralmente”, destaca.
Além de todos ataques, os educadores(as) ainda precisam lidar com o receio de uma possível volta prematura das aulas presenciais proposta pelo governador Eduardo Leite (PSDB).
“É péssimo ter que lidar com as ameaças constantes de retorno às aulas em meio a pandemia, sendo que não temos estrutura nem em tempos normais”, frisa a professora.
Estela critica as imposições do governo relacionadas ao modo de oferecer as aulas remotas, que fere a autonomia docente e a gestão democrática.
“Eu não estou usando, nem vou usar recurso de vídeo, mas tenho medo de ter que enfrentar muito estresse se o governo quiser obrigar especialmente se voltarem às aulas presenciais concomitantemente com as remotas. De momento as atividades síncronas faço por bate-papo nos comentários do mural do Classroom”, explica.
Outro dado preocupante levantando pela pesquisa da entidade é que 40% dos respondentes relataram que não possuem acesso à Internet com a velocidade e estabilidade adequadas para realizar o trabalho a distância.
“A internet do governo, que só chegou agora, é inútil. Só pode ser usada em celular e é paga com o dinheiro público, enquanto ele nos rouba. Para mim isso também é um ataque”, denuncia Estela.
Orientações do CPERS para evitar a sobrecarga
▶️ Nenhum educador(a) deve aceitar trabalhar para além das horas contratadas. Vídeos de formação (letramento digital) são opcionais e devem ser assistidos dentro da carga horária normal. O atendimento de pais e alunos(as) também deve observar este cuidado;
▶️ Caso o educador(a) não tenha condições de realizar aulas síncronas, ou qualquer outra modalidade de aulas remotas – seja por falta de recursos, conexão, equipamentos adequados ou outra situação – deve registrar os motivos e comunicar a direção escolar e a mantenedora;
▶️ Ninguém pode ser obrigado a fazer um trabalho cuja realização depende de condições que a mantenedora não fornece. De acordo com a Secretaria da Educação, a efetividade não será prejudicada desde que o educador(a) justifique suas dificuldades com o trabalho remoto;