“Tem dias que sobrevivemos de pipoca”; terceirizada dá calote e dispensa funcionários de escola


“Estou vivendo de doações. A cunhada paga minha luz, água e dá um rancho, mas tem dias que comemos, eu e minha filha, pipoca”, desabafa Cláudia Leal Souza, uma das funcionárias que trabalhou de graça como terceirizada da empresa Yc Serviços Ltda.

Cláudia começou a atuar no dia 19 de novembro na limpeza da EEEM Morada do Vale I, de Gravataí. Cerca de um mês depois, às vésperas do Natal, foi dispensada por Whatsapp. Até hoje, ela e outras treze colegas não receberam um centavo.

Ainda à procura de emprego, Cláudia montou uma vaquinha para conseguir colocar comida na mesa, mas ainda não recebeu apoiadores pelas dificuldades em divulgar. Clique aqui para ajudá-la!


A Yc foi a principal beneficiada das contratações realizadas pelo governo Leite (PSDB) para terceirizar a limpeza de escolas no retorno às aulas presenciais, recebendo uma fatia de R$ 2,8 milhões do bolo de R$ 3,5 mi.

A empresa foi contratada apesar do histórico de calotes.

Em 2019, um grupo de funcionárias de escolas municipais de Parobé protestou em frente à sede da empresa denunciando três meses de atraso no pagamento e um quadro criminoso de ameaças pessoais, desrespeito e extravio de documentos.

Um dos sócios da YC, Marcio Adriano Cezar, foi candidato a vereador no pleito de 2020 pelo MDB. A empresa, que declara um capital social de R$ 2,4 milhões, alega que o governo não repassou a verba. O governo alega que a situação será resolvida, mas não dá detalhes.

Promessas vazias

Em dezembro, um funcionário da empresa enviou um áudio pelo Whatsapp pedindo para que as trabalhadoras tivessem “calma” pois todas receberiam o saldo devido antes do Natal. Não receberam.  

“É para o pessoal não se preocupar, que todo mundo vai receber. Hoje a gente estava fazendo o lançamento das contas, agora mesmo saí com o governo do Estado, em uma reunião, para arredondar tudo certinho. Qualquer outra empresa pagaria esse saldo que vocês têm para receber somente no 5º dia útil de janeiro e a gente não. A gente vai fazer para que todo mundo receba antes do Natal, do Ano Novo, talvez o pouquinho que vai receber vai ajudar”

Já em janeiro, quando o CPERS denunciou pela primeira vez a situação, funcionárias protestaram novamente em frente à empresa. Um representante da YC havia se comprometido em realizar o pagamento no mesmo dia. Mais uma vez, era mentira.

Na última semana, a YC prometeu pagar as trabalhadoras até a sexta-feira anterior ao carnaval, dia 12. Nada feito. Em conversa por WhatsApp, uma funcionária da YC avisou que o pagamento seria transferido para a próxima semana, pois o governo “não repassou o dinheiro.”

Também há denúncias de não pagamento de funcionários em outras cidades, como Parobé, Canoas, São Borja, Santa Cruz do Sul e Vera.

Cláudia clama por justiça. “Essa luta precisa ser ganha. Estamos mais que 100% desvalorizadas, esquecidas e esgotadas. E o governo não vê isso. Temos filhos e contas para pagar; não limpamos privada por opção, limpamos porque precisamos de dinheiro”, conta.

“Estou à procura de emprego, envio currículo para muitas empresas, mas como fiquei fora do mercado de trabalho por 15 anos, fica difícil ser contratada, ainda mais com 46 anos”, completa.

Desmonte e precarização

Passados dois anos do início do mandato, o governador Eduardo Leite (PSDB) se utiliza da terceirização para ofertar uma solução paliativa para o problema crônico e persistente de falta de profissionais na rede. 

Mais do que falta de gestão, a não realização de concursos públicos é parte de um projeto político de sucateamento da educação pública, enxugamento da folha e favorecimento do setor privado.

A terceirização ignora a importância dos vínculos do trabalhador(a) com a escola e sua comunidade, remunera mal, reduz a qualidade do serviço prestado e deixa trabalhadores(as) em situação de absoluta fragilidade, sem direitos ou segurança no emprego.

É, também, um prato cheio para fraudes e relações questionáveis entre público e privado.

A intenção de Eduardo Leite é clara: abrir espaço para tornar permanente a política emergencial e levar a terceirização também às funções docentes.

Depois de tentar acabar com o Plano de Carreira, o governador quer acabar com a própria existência de uma carreira.

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