A cheia dos rios que inundou centenas de municípios gaúchos e interrompeu as aulas de 741 mil estudantes no Rio Grande do Sul não é o único evento climático severo que tem transformado o dia a dia de educadoras(es) e educandas(os). Em 2024, além da quantidade inédita de água que caiu no estado, a seca na região amazônica pausou o funcionamento de aproximadamente 1.700 escolas, mais de cem delas localizadas em terras indígenas, impactando o processo de ensino-aprendizagem de 436 mil alunas e alunos.
Ao todo, no Brasil, foram 1,17 milhões de jovens e crianças afetadas(os) educacionalmente pela crise do clima. Os dados são do estudo “Aprendizagem interrompida: Visão global das interrupções escolares relacionadas ao clima em 2024”, produzido pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF).
> Confira o relatório completo, em inglês.
No restante do mundo, não foram as enchentes ou as secas que mais retiraram estudantes da sala de aula. Foram as ondas de calor. Enquanto Porto Alegre batia seu recorde histórico de volume de chuva – 513,6mm no mês de maio –, as temperaturas no sul da Ásia alcançavam 47ºC, colocando as crianças em risco de insolação. Bangladesh e as Filipinas registraram fechamentos generalizados de escolas, enquanto o Camboja reduziu o horário escolar em duas horas.
“As crianças são mais vulneráveis aos impactos das crises relacionadas com o clima, incluindo ondas de calor, tempestades, secas e inundações mais fortes e mais frequentes”, afirmou a Diretora Executiva do UNICEF, Catherine Russell. “Os corpos das crianças são particularmente vulneráveis. Eles aquecem mais rápido, suam com menos eficiência e esfriam mais lentamente que os dos adultos. As crianças não conseguem concentrar-se em salas de aula que não oferecem proteção contra o calor sufocante e não conseguem chegar à escola se o caminho estiver inundado ou se as escolas forem destruídas. No ano passado, o mau tempo manteve um em cada sete estudantes fora das aulas, ameaçando a sua saúde e segurança e impactando a sua educação a longo prazo”.
De acordo com o material elaborado pela UNICEF, a recorrência de desastres ambientais e de desconforto térmico não produz consequências apenas imediatas, mas intensifica a evasão escolar e a desigualdade de gênero, já que coloca as meninas em maior risco de casamento e trabalho infantil. O levantamento observa que as escolas e os sistemas educativos estão, em grande parte, pouco equipados para proteger as(os) estudantes, uma vez que os investimentos financeiros centrados nos impactos climáticos na educação continuam sendo surpreendentemente baixos.
Diante dos impactos climáticos severos que têm afetado diretamente a educação no Rio Grande do Sul e em todo o Brasil, o CPERS reforça a urgência de políticas públicas eficazes para garantir a segurança e a continuidade do processo de ensino-aprendizagem. É fundamental que o poder público invista em infraestrutura escolar resiliente, além de medidas que minimizem a evasão escolar e as desigualdades agravadas por esses eventos. A educação é um direito fundamental, e não podemos permitir que as mudanças climáticas interrompam o futuro de nossas crianças e jovens. O Sindicato seguirá lutando por um ambiente escolar seguro e inclusivo, capaz de enfrentar os desafios impostos pela crise climática.
Com informações da UNICEF.