#AbraceQuemEduca: um professor inteiro feito por cacos coloridos | por Dilso José dos Santos


por Dilso José dos Santos*

Hoje vim aqui para, através de um professor, reverenciar aos demais. Escolhi este porque ele extrapola as quatro paredes de sua sala de aula. Sua preocupação social engorda esperanças e desarma o “destino” que foi determinado para os excluídos sociais. Sim, a voz deste mestre ultrapassa os centros acadêmicos, vai às margens, aos círculos tristes e esquecidos das margens…

Eu mesmo já o ouvi bradando esperança e informação num educandário de periferia. E naquele palco precário de escola pública, o mundo parou. Os olhos escandalizaram-se em catarses necessárias e claras – e em sua postura preocupada e nos olhares que falavam junto com as mãos, os ouvidos foram se abrindo e, inquietos, aquecidos por utopias necessárias. O público era justaposto por estudantes noturnos, trabalhadores que encontravam claridade naquele homem pequeno e que, sem saber, transformava-se no arauto dos “sem-vozes”. Ah! E naquelas “noturnações” estudantis de proletários, saímos mais iluminados e ricos.
Naquele dia, o professor Caco ainda não sabia de mim. Mal tinha ciência de que, uma década antes, eu já havia sido um daqueles ouvintes.

Operário braçal e quixotesco, fui um estudante teimoso e quebrado, bem dos tipos que os livros fazem. Lembro-me bem daquele tempo, havia momentos em que eu ficava confuso acreditando que meu lugar não era na academia, que precisava mesmo era abraçar-me à minha enxada de “não-existir” e capinar para sempre “com lágrimas nos olhos de ler o Pessoa”, tal como descreveu Belchior. E com a pasta de livros numa mão e na outra uma mochila cheia de roupas sujas e uma panela vazia, resolvi assistir a uma fala no auditório. Desencantado da vida, aos poucos aquelas vozes foram trazendo aquela panelinha de trabalhador, bem ali, da sacola para dentro do peito. Então cresci. Vi para dentro da pele que não havia problema nenhum em lutar, pois quem me determinava eram os cacos que tinha que juntar e, um a um, colar-me à alma. Saí feliz e, silencioso, amei por muitos anos aquele Caco que me fez inteiro e num mosaico de muitas possibilidades.

Enfim, são dois os professores que me inspiram a ser mais do que um docente encaixado entre quatro paredes: o primeiro foi Paulo Freire; o segundo, o professor Caco Baptista. Mestres vivos que me vestiram e ainda vestem por dentro para que eu possa retribuir ao mundo escolar a escola do mundo que me ofereceram. Pois é. E pensar que fui um. Mas quantos não foram salvos e iluminados por essas vozearias? Às vezes fico pensando nisso. Penso enquanto tiro para fora um aluno triste. Penso enquanto as lágrimas adolescentes rolam sobre meus ombros. Então penso, penso… e existo. EU EXISTO!

Obrigado, professor!

*Professor e mestre em Letras

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