Reposição já para toda a categoria: entenda o cálculo da matemática imoral de Eduardo Leite


Baseado em uma matemática imoral, o governador Eduardo Leite (PSDB) enviou projeto de reajuste do Piso do Magistério para a Assembleia Legislativa na última quarta-feira (8), deixando de fora grande parte da categoria.

Na realidade, o governo finge dar aumento a todos, mas, na prática, apenas alguns servidores verão diferença em seus contracheques, quebrando uma isonomia histórica entre os trabalhadores. A proposta do governo exclui mais de 30 mil professores aposentados e quase 25 mil funcionários de escola, ativos e inativos. Estes educadores não receberão nenhum centavo dos 32% de reajuste anunciado pelo Executivo, caso o PL seja aprovado desta forma.

Na alteração do Plano de Carreira, o Executivo extinguiu o tempo de serviço e agrupou os valores numa parcela denominada de “irredutibilidade”. Agora no novo Projeto de Lei pretende absorver esta parcela no subsídio, fazendo com que para 33% dos inativos não haja qualquer aumento e apresentando uma relação de proporção inequívoca: quanto mais antigo e com maior tempo na carreira, menor o reajuste.

Para o CPERS, o projeto excludente de Leite não atende às suas reivindicações. O Sindicato está desde o início do ano em campanha de valorização salarial  para TODA a categoria. Os educadores, sem reposição há sete anos,  já tiveram seu salário reduzido em 51,3% pela inflação desde novembro de 2014.

“Durante todo este ano, em nossa campanha salarial, afirmamos para o governo que queríamos reajuste igual para todos. O que foi apresentado a nós pela Seduc e pela secretaria da Fazenda desrespeita a própria lei aprovada pela Assembleia Legislativa em 2019”, ressaltou a presidente do CPERS, Helenir Aguiar Schürer.

Leite mente e propõe calote na educação

  • 55,8% (33.820 professores) dos ativos em sala de aula NÃO receberão o reajuste do piso nacional em 2022 (31,3%)
  • 38,4% (23.269 professores) dos ativos em sala de aula NÃO receberão sequer o INPC do período do governo Leite
  • 30.933 professores(as) aposentados(as) não terão nenhum reajuste;
  • 24.664 funcionários(as) de escola, ativos(as) e inativos(as), não estão contemplados de forma alguma na proposta.

Entenda o cálculo ardiloso de Eduardo Leite baseado no contracheque de uma educadora com nível 3, classe D, 20 horas: 

Atualmente a educadora recebe R$ 1754,11 (subsídio) + R$ 973,59 (parcela de irredutibilidade) = R$ 2727,70

  • Calcule o valor do percentual de aumento de 32% no subsídio

R$ 1.754,11 (subsídio atual) + 32% (R$ 561,32) = R$ 2.315,42 (novo valor do subsídio na proposta do governo)

  • Conforme a nova proposta, o valor do aumento será absorvido da parcela de irredutibilidade. Portanto, se o valor do reajuste for menor que a parcela autônoma, o educador não terá aumento real.

R$ 973,59 (parcela de irredutibilidade atual) – R$ 561,32 (32% de reajuste) = R$ 412,27 (nova parcela de irredutibilidade)

Conclusão:

Pela nova proposta a educadora receberia R$ 2.315,42 (subsídio) + R$ R$ 412,27 (parcela de irredutibilidade) = R$ 2727,70 ou seja: REAJUSTE ZERO!

Ao invés de valorização, descaso

Dina Marilú Machado Almeida, professora de Matemática, com 25 anos em sala de aula, integra a extensa lista de aposentados que não receberá o reajuste.

“Recebo, em pleno final de ano, depois de um ano de muita luta, a triste notícia de que não receberei nada. Estou indignada, mas com disposição para a luta”, lamenta a professora Dina Marilú Machado Almeida, professora de Matemática aposentada.

Além de parte significativa dos aposentados não ser contemplada na proposta de reajuste, desde 2019, com a mudança do plano de carreira da categoria, orquestrada pelo Executivo, eles passaram a pagar novamente o desconto da previdência.

“No início desse ano o governo nos fez passar a pagar de novo a previdência. Desde então tenho o desconto de R$ 500,00 no meu salário. Esse valor faz muita falta na alimentação, na medicação, no gás, enfim em tudo”, expõe Dina.

“Me entristece muito que alguns políticos não cumpram com sua palavra. A parcela que foi assegurada em lei, que não poderia ser reduzida, agora o governo Leite quer mexer. Realmente temos novas façanhas no Rio Grande do Sul: a palavra de um governador não tem mais credibilidade”, ressalta a educadora aposentada, Jussara Domingues.

 Contrato temporário para complementar a renda

“Considero uma injustiça, afinal essa parcela é fruto de uma vida dedicada à educação. Cada triênio foi conquistado com merecimento e muita disciplina. E também com tristeza, pois sem reposição há sete anos e a imposição do desconto previdenciário, já não tenho um salário compatível com minha formação e necessidades”, desabafa a professora aposentada Magda Suzana Schmitt.

O encolhimento do salário obrigou a educadora a reduzir ainda mais as despesas, além de ter que recorrer a empréstimos. “Diminui a contratação de serviços e cuidados pessoais como check-ups de saúde anuais e reduzi o investimento em livros e em lazer. E tive que me submeter a um contrato de trabalho temporário para complementar a renda”, relata.

Funcionários: sem reajuste, desamparados e com sobrecarga de trabalho

Conforme a proposta apresentada pelo governo, os funcionários de escola não terão reajuste. Esta significativa e importante parcela da categoria recebe como salário base R$ 620,72 e encontra-se sobrecarregada, visto que desde 2015 o Estado diminuiu em 38,8% o número de trabalhadores efetivos.

Após 29 anos de trabalho no estado, a agente educacional Marta Simone Barcelos recebeu com desalento a notícia de que o governo não incluiu os funcionários de escola na proposta de reajuste.  “Eu acho um absurdo, pois além de não nos abranger, vão mexer no plano de carreira. Isso vai acarretar na diminuição do índice de reajuste oferecido e na parcela autônoma. Ou seja, se for aprovada essa proposta nós seremos ainda mais prejudicados”, preocupa-se Marta.

Luciara Damasceno, funcionária de escola há 29 anos classifica como um grande desrespeito a proposta do governo.  “Estou indignada com o descaso do governo em ter nos deixado de fora do aumento da educação. Nós fazemos parte do quadro da educação, somos educadores também, e sempre recebemos reajuste junto.”

Indignação: categoria mostrará sua contrariedade em ato em frente ao Palácio

Para demonstrar a insatisfação da categoria com a proposta exposta pelo governo, professores e funcionários de escola de várias regiões do estado realizarão protesto em frente ao Palácio Piratini.

A manifestação ocorre na próxima terça-feira (14), a partir das 9h, e todos os educadores estão convidados a unir forças e lutar pelo justo reajuste a toda a categoria.

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