Outubro rosa: como estão as educadoras demitidas pelo governo enquanto tratavam câncer de mama


O sorriso e a alegria contagiante são características marcantes da professora Léla, como gosta de ser chamada. Quem a vê hoje, cheia de energia e disposição, nem imagina a batalha recente que travou.

Ela foi diagnosticada com câncer de mama no ano passado. Após o tratamento com quimioterapia e radioterapia, quando estava prestes a realizar a cirurgia para retirada do câncer, Léla precisou lidar com a notícia de que o seu contrato com o estado havia sido rompido, apesar de ter sua licença garantida pelo INSS até o final deste ano.

A partir daí seguiram-se dias de angústia, incertezas e aflição. Uma das maiores preocupações da educadora, à época, era perder o plano de saúde do IPE. “Entrei em pânico por receio não conseguir arcar com os custos do restante do tratamento”, recorda.

Em seus dois vínculos com o estado, em escolas de Canoas e São Leopoldo, a educadora sentiu na pele a diferença na forma como foi tratada pelas mantenedoras. “Em São Leopoldo fui tratada como um ser humano, com empatia. Em Canoas me senti sendo apenas um número, justamente onde eu tinha a maior parte da minha carga horária de trabalho”, desabafa.

O descaso do Estado foi denunciado pelo CPERS e teve ampla repercussão na mídia.

A pressão e a repercussão  fez com que a Secretaria Estadual de Educação recuasse. “Me ligaram dizendo que eu poderia manter o vínculo até o término do tratamento”, relembra.

Porém, o desgaste físico e emocional ao qual foi submetida deixou marcas.  “A experiência de ter sido demitida do estado durante o tratamento, em um momento de tanta fragilidade, foi sem dúvida nenhuma a pior da minha vida”.

A sensação de não ter o apoio mínimo esperado em um momento tão delicado permanecia. Então, Léla decidiu buscar outros caminhos. “Quando eu estava finalizando o tratamento de radioterapia abriu processo seletivo para uma escola da rede privada. O tratamento finalizou e em seguida comecei a trabalhar nesta instituição. Os fatos foram se desenrolando da melhor forma possível, dentro do tempo necessário para que eu recebesse a alta médica do tratamento e o início na escola nova”, explica.

Hoje, Léla virou a página. “Se eu pudesse planejar os meus últimos 12 meses, certamente, seria diferente. Porém a vida me desafiou e eu vivi tudo com alegria e amor. Hoje, completa um ano do meu diagnóstico de câncer de mama”, comemora.

Da amarga experiência, ela quer apenas lembrar da vitória. “Com o auxílio do CPERS fui para a luta e não desisti. Por mim e por todos os colegas que passaram pela mesma situação. A luta vale a pena”, celebra.

Reincidência do câncer e demissão

Em 2014, a professora Savana Valenti Cauduro foi diagnosticada com câncer de mama, tipo de tumor mais comum entre as mulheres, respondendo por 22% dos novos casos de câncer no país, a cada ano.

Desde a descoberta da doença, Savana, que atuava como professora contratada no Estado há quase dez anos, realizou os tratamentos necessários e seguiu com acompanhamento médico. Em 2018, o câncer voltou. Quando mal havia assimilado a notícia da reincidência da doença e estava juntando forças para recomeçar o tratamento, ela foi informada pela Coordenadoria Regional de Educação (CRE) que estava demitida.

“Simplesmente deram a notícia de meu desligamento por telefone. Disseram que era para eu passar na coordenadoria e assinar os papéis”, relembra.

Diante da situação, ainda incrédula e preocupada com o que viria pela frente, a educadora tentou reverter o caso. “Expliquei o que estava passando, tentei sensibilizá-los. Me informaram que não tinham o que fazer, que infelizmente elas tinham que me demitir. Falaram que a ordem veio lá de cima. Liguei para a Seduc e me disseram que não estavam cientes. Mesmo assim, fui demitida”, afirma.

Atualmente, a educadora conta com o apoio da família para conseguir manter os altos custos do tratamento contra o câncer. “Estou pedindo auxílio para a família e também pra entidades que ajudam pessoas com câncer”, explica.

Além das dores com as quais convive diariamente, Savana precisa lidar com a sensação de descaso em um dos momentos em que mais precisa de amparo e respeito. “Meu sentimento é de muita raiva, pois sempre trabalhei, mesmo estando em tratamento. No momento em que mais precisei, me viraram as costas. Rompi o músculo do peito e tenho fortes dores no braço por tentar continuar uma vida normal e o que recebo é uma ligação informando para assinar meus papéis. Esse governador é desumano, o que será da educação daqui a uns anos? Teremos robôs nas salas?”, questiona.

Política de enxugamento faz com que educadores(as) escondam enfermidades

Léla e Savana são apenas dois exemplos dos inúmeros casos de educadoras(es) demitidos em licença-saúde devido a doenças graves como câncer, depressão e transtorno de ansiedade, que foram demitidas(os) pelo estado. Todos vítimas da política desumana de enxugamento e otimização de quadros implantada pelo governo Eduardo Leite.

O medo da demissão tem feito com que muitos professores(as) e funcionários(as) de escola escondam suas enfermidades e sigam trabalhando, mesmo doentes.

O desamparo justamente nos momentos de saúde frágil, quando mais se necessita de apoio e respeito, mostra a face real deste governo: cruel e desumano.

Vale lembrar que este mesmo governo, além de toda a insensibilidade com a qual trata educadores(as) doentes, não paga os salários da categoria, em dia, há 46 meses.

 

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