O novo precisa nascer: coletivo de juventude debate conjuntura e desafios do movimento sindical


Jovens educadores(as) de todo o Rio Grande do Sul estão reunidos no CPERS neste final de semana para discutir a realidade da escola pública e o futuro da luta sindical. São sócios(as) com até 35 anos, com entrada recente na rede estadual e conscientes da necessidade de unir forças para superar as incertezas do período, marcado por ataque a direitos e a precarização da profissão.


É o 3º Encontro do Coletivo de Juventude do CPERS, iniciado na noite desta sexta (7) na sede do Sindicato. Para Daniel Damiani, diretor do departamento responsável pelo segmento, as intensas transformações no mundo do trabalho impõem uma reflexão crítica sobre o fazer pedagógico e o papel da juventude na renovação das fileiras sindicais e da resistência.



“A participação e a integração de jovens filiados é um dos maiores desafios dos movimentos sindicais de todo o país. O encontro é fundamental para entender os anseios da categoria que está no início da carreira e organizar a luta frente à conjuntura estadual e nacional”, explica.


O primeiro dia foi de apresentação da proposta de trabalho, troca de experiências, discussão da conjuntura e confraternização. Na abertura do evento, um mosaico de expectativas foi construído pelos participantes no centro do auditório. Reflexão, crescimento, conhecimento, coragem, movimento e integração foram alguns dos desejos colocados no papel.


“Escolhi a palavra fortalecimento pois algo que me entristece é que muitos colegas jovens não vêm para a luta. Apoiam os atos mas não participam. Temos que lembrar que o Sindicato é forte sim, mas precisa que a gente bote a cara na rua e lute”, pondera Lucas Billo Dias, professor do 29º Núcleo.

Para Raquel Cordeiro Guedes, do núcleo de Osório, o Encontro é sinônimo de reaproximação. “Fizemos uma greve forte em 2016 e eu fui perseguida, colocada à disposição e sem escola para trabalhar. A luta no litoral está parada pois muitos ficaram com medo. Estou aqui para mostrar que precisamos ter coragem e construir uma nova oportunidade de lutar e vencer”, conta.



O debate da conjuntura foi orientado pela participação de jovens lideranças das centrais e do movimento secundarista. “Os maiores movimentos dos últimos anos, das ocupação à resistência contra o golpe, foram protagonizados pelos jovens. A gente tem uma vida pela frente e está sob risco de perder tudo, avaliou Letícia Raddats, secretária de Juventude da CUT/RS.

“Nossos colegas pensam cada vez mais em si e menos no coletivo. As pessoas pensam em greve como algo que afeta suas férias na praia, mas não sabem quantos anos perderão com a mudança da previdência por exemplo. Podem acabar ficando sem férias e sem aposentadoria”, colocou Wendel dos Santos Lima, educador de Santa Maria.



A greve geral e a preocupação com a ameaça à aposentadoria pautou as falas. “O que está sendo proposto vai prejudicar e atacar duramente os nossos jovens, que estão entre os mais afetados pelo subemprego. A consciência de classe é o principal, precisamos resgatar o sentimento de pertencimento entre trabalhadores(as)”, disse Rodrigo Callais, secretário de Juventude da CTB/RS.

O CPERS está elaborando, em construção conjunta com movimentos estudantis, uma cartilha para estimular e orientar a criação de grêmios nas escolas estaduais. A importância do tema foi abordada por Gleisson Minhos, presidente da UGES, que também fez um chamado à mobilização no dia 14. “Contem com os estudantes, que continuam organizados em defesa da educação e vão trabalhar em todo o estado para construir a maior greve geral da história”, afirmou.

A presidente do CPERS, Helenir Aguiar Schürer, propôs uma reflexão sobre as transformações da luta sindical e a mercantilização da educação em curso no Rio Grande do Sul.

“Quando ingressei no Sindicato, a gente lutava muito. Mas tinha algo que nos unia. A ditadura. Havia, no horizonte, a esperança de construir um país democrático, tínhamos um grande objetivo. Mais do que salário e condição, a gente queria a liberdade”, contou.



“Tudo no país e no estado indica que podemos, novamente, perder essa liberdade.  A luta está mais para o início do que o fim. E eu estou mais para o fim do que para o início. Nós precisamos trazer os jovens para dentro do Sindicato. A história vai continuar e a luta vai continuar”, completou.

A noite foi finalizada com um jantar e música ao vivo no Espaço 900, na Cidade Baixa. O encontro continua ao longo deste sábado, quando os participantes produzirão uma síntese da discussão e definirão os encaminhamentos para as ações do Departamento de Juventude do CPERS.


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