Níveis de transmissão no RS não permitem aulas presenciais com segurança, afirma infectologista do HCPA


Nesta segunda (5), o governo Eduardo Leite (PSDB) recorreu mais uma vez ao Supremo Tribunal Federal contra a liminar que mantém suspensas as aulas presenciais no estado. De diversos setores, cresce a pressão sobre o Judiciário contra a medida conquistada pelo CPERS e pela Associação Mães e Pais pela Democracia.

Mas a postura do governo e dos defensores da retomada ignora uma premissa crucial para a segurança no ambiente escolar: os níveis de transmissão comunitária da Covid-19 no Rio Grande do Sul e no Brasil. A avaliação é do médico Alexandre Zavascki, chefe dos serviços de Infectologia do Hospital de Clínicas (HCPA) e do Moinhos de Ventos, na capital.

“O ponto principal a ser observado é o nível de transmissão comunitária. O que não vem sendo feito. Todas as entidades que lançam protocolos, internacionalmente, para o retorno das aulas presenciais, consideram isso como crucial”, ressalta.

Segundo Zavascki, se fosse observada a recomendação do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), dos Estados Unidos, não seria possível retomar as aulas presenciais, visto que o nível requerido para o retorno híbrido ou presencial jamais foi atingido desde o início da pandemia.

“Aqui no Rio Grande do Sul nunca tivemos o nível de transmissão comunitário recomendado para voltar às aulas de forma minimamente segura. A transmissão aqui é altíssima, principalmente nesse momento”, alerta.

 Se queremos reduzir a transmissão temos que manter as escolas fechadas

Outra questão a se observar, segundo Zavascki, é o fato de que manter as escolas fechadas tem um impacto significativo na melhora dos indicadores. “Temos bons estudos que demonstram isso. A redução está associada a toda movimentação que envolve o retorno das escolas. Se queremos reduzir a transmissão temos que manter as escolas fechadas”.

Zavascki também destaca que inúmeros estudos comprovam que as crianças adquirem a doença e transmitem, em oposição à afirmação da nova secretária da Educação na última semana. “São inúmeras as evidências. Crianças pegam e transmitem, mesmo que não sejam, em si, o maior número de casos e que, geralmente, não adoeçam de forma mais grave”.

“Há surtos dentro da escola e esses surtos passam por crianças, que podem transmitir para professores e funcionários e vice-versa. Essa chance de ocorrerem surtos é diretamente proporcional ao tamanho da epidemia fora da escola”, acrescenta.

Ciclo vicioso

Para que se possa pensar em reabrir as escolas é imprescindível, de acordo com Zavascki, que os níveis de transmissão estejam baixos. Trata-se de um ciclo vicioso; “porque abrem-se antes atividades não essenciais para girar a economia, mantém-se a transmissão alta e nunca fica seguro para a escola abrir.”

“O que temos sempre proposto é façam as medidas necessárias que incluem muito além de fechar ou abrir, passa por expansão de teste diagnóstico, rastreamento, entre outras ações. Mantém-se o nível de transmissão baixo e aí sim se pode reabrir as escolas com mais segurança”, conclui.

O CPERS considera a ampla vacinação dos trabalhadores(as) da educação, mais recursos humanos, físicos e financeiros para as escolas e estratégias de testagem, rastreamento e monitoramento dos casos nas escolas como condicionantes mínimos de um retorno seguro às aulas presenciais.

Para aprender e ensinar, é preciso ter saúde. #EscolasFechadasVidasPreservadas

 

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