Folha de São Paulo publica artigo racista e antidemocrático


Em um cenário onde cotidianamente é preciso enfrentar um governo negacionista, que ataca as cotas e o movimentos antirracistas, é no mínimo revoltante deparar-se com um artigo racista e antidemocrático como o escrito pelo antropólogo Antonio Risério, publicado neste domingo (16) na Folha de São Paulo.

Intitulado “Racismo de negros contra brancos ganha força contra identitarismo”, o texto demonstra, além do racismo, a má fé do autor e da própria Folha.

Risério afirma, ao longo do texto, que o movimento negro reproduz um projeto supremacista branco, criando uma espécie de “neorracismo identitário”, que, em outras palavras, seria “racismo reverso”, o que comprovadamente não existe.

Não há no Brasil histórico de negros com poder financeiro para oprimir a população não negra. Fazer tal afirmação, além de ser uma postura leviana, é um desconhecimento cultural proposital, pois desconsidera todo o contexto histórico do Brasil, marcado pela herança escravocrata e o racismo estrutural.

Não é nenhuma novidade que o 13 de maio de 1888, data oficial da abolição da escravatura, não rompeu com a cultura escravocrata.

Os escravizados que se tornaram livres demoraram mais de quatro décadas para ter acesso à educação formal, com a instituição do ensino básico obrigatório no início da era Vargas.

A população negra, em sua grande maioria, é a que ocupa os piores índices sociais, conforme demonstram os dados do IBGE. De acordo com a entidade, eles são minoria (29%) nas funções de gestão e têm rendimento médio mensal 57% menor que o dos trabalhadores brancos, enquanto, entre os 13 milhões de desempregados, eles correspondem a 64%.

Ignorando os fatos históricos e a realidade, Risério menciona em seu artigo situações desconexas e isoladas na tentativa de validar o termo racismo reverso, amplamente rejeitado por especialistas e pesquisadores da área. E ainda acusa a esquerda, o movimento antirracista e a imprensa de reproduzir um “projeto supremacista” cujas vítimas seriam os não-negros.

É inadmissível admitir tal postura de um veículo de comunicação diante de um governo que vem acabando com políticas afirmativas que, dentre elas, inclui-se a da promoção da igualdade racial.

O CPERS, por meio do Coletivo de Igualdade Racial e Combate ao Racismo, manifesta seu repúdio ao artigo publicado na Folha de São Paulo.

O diretor do Coletivo e 2º vice-presidente do sindicato, Edson Garcia, reforça que, comprovadamente, o racismo reverso não existe e que este sempre está vinculado ao poder econômico e, infelizmente, não nas mãos da população negra. “Isso ocorre porque historicamente existe um racismo estrutural que faz com que essa realidade não seja modificada. Mas os movimentos negros e antirracistas estão aí para escrever uma outra história. Sempre defendemos o debate racial em nossos fóruns educacionais de discussão, exatamente por entendermos que o racismo, além de ser criminoso, não pode ser tratado como uma pauta identitária, mas sim social. Somente assim enfrentaremos e assimilaremos este tão importante debate. Hoje, no Brasil, não temos uma democracia racial”, observa.

O sindicato segue firme na luta contra o racismo, a discriminação e o preconceito.

 

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