Fica Lila: comunidade protesta por permanência de monitora na escola Presidente Roosevelt


Após sete anos cuidando e criando vínculos com os estudantes da escola Presidente Roosevelt, de Porto Alegre, a monitora Joil Braga passa por um processo forçado de despedida.

Sem diálogo com a comunidade ou justificativa plausível, a 1ª Coordenadoria Regional da Educação (CRE) ordenou a redução de carga horário de Lila – como é carinhosamente conhecida – de 40 para 20 horas. O restante da jornada seria cumprido na EEEF Willian Richard Schisler.

“A diretora da outra escola nos ligou dizendo que não solicitou a monitora. Ficamos sem entender por que querem retirá-la da nossa instituição”, afirma Marisa Marques da Silva, diretora da Presidente Roosevelt. A escola tem outra monitora 20h. Mas, com 1040 alunos, necessita de três profissionais.

Indignada com a decisão, a comunidade se mobilizou nesta quinta-feira (26) para exigir a permanência da funcionária. Estudantes, pais e educadores(as) protestaram em frente à escola e caminharam até a CRE para uma audiência. O CPERS também esteve presente por meio da diretora Sônia Solange Viana.


A redução da carga horária afetaria a segurança dos alunos e os cuidados dispensados aos nove estudantes com necessidades especiais. Conforme a diretora, é Lila que fica com eles até que os pais cheguem para buscá-los. “A outra monitora não está nesse horário, então só contamos com ela. Às vezes é 19h e ainda tenho alguns alunos aqui”, explica.

Afeto e cuidado

Lila e os estudantes se sentem abalados com a possível despedida. “Me apeguei muito aos estudantes. São uns amores de crianças, temos muita troca afetiva. Não podemos deixar essas crianças desassistidas. Não adianta tirar de uma escola e deixar a outra sem. Os pais também estão mobilizados, ninguém quer que eu saia daqui. Eles confiam os filhos deles a mim”, declara Lila,  emocionada.

O estudante Emannuel da Silva, 18 anos, desabafa: “ela é uma parceira, uma amiga, uma mãe, uma irmã que eu nunca tive. Muitas vezes, quando o professor não sabe responder, ela sabe. Se ela saísse eu não teria mais com quem conversar, pois tenho muita confiança nela”.

Para a aluna Letícia Camargo, 18, o governo deveria aumentar o número de monitores, e não reduzir. “A Lila é uma baita profissional e eu acredito que em nossa escola, ainda mais por ser pública, precisamos de várias monitoras. Já temos um número restrito. Muitos alunos acabam se dispersando pela falta de maturidade e a Lila está ali para ajudar”, diz.

“Ela é mais que uma monitora. Ela abraça todo mundo do colégio. Para nós, é literalmente aquela pessoa família que está de braços abertos quando precisamos, sempre à disposição para ajudar.”, observa a estudante Emanuele Santos Tavares, 19 anos.

Seduc promete solução, mas o destino de Lila é incerto

Após o ato público em frente à escola, docentes, estudantes e comunidade escolar seguiram em caminhada até a 1ª CRE. No local, uma comissão composta por representantes da direção, do Conselho Escolar e do CPM reuniu-se com a diretora do RH, Mari Sandra Giordani.

Após quase duas horas de reunião, a coordenadoria informou que buscará outro profissional para atender a escola Willian Richard, mas até lá, Lila será deslocada. A monitora deve se apresentar na nova escola já na próxima semana.

“Vamos continuar mobilizados e buscar mais assinaturas para o abaixo-assinado que pede a permanência da Lila nas 40 horas aqui na escola e levaremos este pedido ao Ministério Público”, afirma a diretora Mariza.

O vice-presidente do Círculo de Pais e Mestres (CPM) da escola, Antônio Saldanha, participou do protesto e reitera a importância da permanência da monitora. “A Lila é uma pessoa que conhece todos os alunos da escola, eles se identificam com ela. Nós tivemos, há algum tempo atrás, problemas de insegurança. Pessoas que não eram da escola, acabaram entrando aqui. E a Lila cuida muito bem isso”, relata Antônio.

Ele destaca ainda que a instituição está sem equipe pedagógica e secretário(a). “E agora recebemos mais essa notícia. Toda essa precarização está prejudicando o dia a dia dos nossos filhos”, destaca.

A professora de geografia Paola da Costa Silveira defende a colega: “todos nós gostamos dela. Ela tem este jeito carinhoso com todos, professores, funcionários e alunos. Os nossos estudantes a amam. Quando contamos para eles sobre a possibilidade de reduzir a carga horária dela aqui na escola, a gurizada se mobilizou. Logo lançaram a hashtag FicaLila nas redes sociais, mandaram e-mails para coordenadoria e pediram aos pais que também se mobilizassem”.

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