Especialistas alertam: explosão de casos de Covid-19 acende preocupação com retorno presencial às aulas


Sem medidas para conter o contágio da Covid-19, impulsionado pela variante ômicron, e com a vacinação das crianças ainda na fase inicial, cresce a preocupação com o retorno às aulas presenciais, previsto para o dia 21 de fevereiro. 

 Nas últimas 24 horas, o Brasil ultrapassou mais de mil mortes por Covid-19  – desde agosto do ano passado o país não registrava um número tão alto – e mais de 298 mil pessoas infectadas.

Para a infectologista pediatra do hospital Moinhos de Vento, Fernanda Varela, as famílias e as escolas devem ficar atentas e reforçar os cuidados através de orientações como o uso de máscara, atentando para a colocação e a retirada corretas;  a higiene das mãos e também para que não ocorra o compartilhamento de lanche com os colegas.  “Elas estão apenas iniciando sua vacinação e sabemos que ela terá seu impacto quando tivermos um grande número do público infantil com a vacinação completa, sem esquecer que ainda permanecemos com os menores de cinco anos não imunizados”, observa. 

Ano letivo iniciará com vacinação infantil ainda em andamento

O Rio Grande do Sul foi o último estado a iniciar a vacinação infantil, em 19 de janeiro, fato visto com preocupação por especialistas, ainda mais com a previsão de aumento dos casos nas próximas semanas. 

Em entrevista ao jornal Correio do Povo, o gerente de Risco do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, Ricardo Kuchenbecker, afirmou que o crescimento de infecções no estado ainda deve se estender pelas próximas três semanas. 

Para diminuir a circulação do vírus, o especialista reforça a importância da imunização: “A essa altura do campeonato a gente tem vários motivos para vacinar as crianças. Primeiro porque com a vacinação dos adultos as crianças passaram a ser uma população vulnerável. E isso, em especial no contexto da ômicron, fez subir muito as infecções em crianças”.

Para o chefe do setor de infectologia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, Eduardo Sprinz, o retorno das atividades presenciais pode causar um aumento ainda maior do número de casos. 

“Aumentando a mobilidade e a exposição das crianças, com o agravante de que temos uma cobertura vacinal ainda pequena, corre-se o risco do aumento significativo de casos”. 

Para o especialista o ideal seria adiar o início do ano letivo de 2022: “Por isso, uma medida mais prudente seria adiar o início das aulas por umas duas semanas para podermos proteger nossas crianças. Temos que pensar que elas que irão socializar mais e que o retorno das aulas gera maior circulação. Isso servirá como um combustível a mais para a pandemia”, avalia. 

Falta de estrutura e EPI’s insuficientes também geram apreensão

A flexibilização total das medidas de prevenção, a imunização ainda incompleta das crianças e o número considerável de escolas sem a estrutura adequada para garantir a segurança sanitária de estudantes e educadores(as), como denunciou a Caravana do CPERS em novembro do ano passado, agravam o cenário que já é preocupante. 

“Com o cenário atual, onde há registro de milhares de novos casos em um dia, é imprescindível oferecer toda a segurança possível aos educadores e à comunidade escolar”, frisa a presidente do CPERS, Helenir Aguiar Schürer.

Inúmeras escolas públicas estaduais esbarram na falta de condições para garantir um retorno presencial seguro. Muitas estão com obras inacabadas e que demandam tempo para a conclusão, outras não possuem estrutura adequada, como salas de aula pequenas que não possibilitam o distanciamento entre as classes, por exemplo. 

Além disso, é urgente que o governo repasse para as direções de escolas orientações para evitar o contágio e reforce distribuição de EPI´s e álcool. 

Quanto as máscaras, vale ressaltar que o item foi fornecido apenas uma vez e deixou a desejar quanto à qualidade. Atualmente, a categoria adquire a proteção com recursos próprios. 

O Sindicato também reafirma a importância da realização da testagem e da vacinação em massa para garantir um início de ano letivo com maior segurança para professores(as), funcionários(as) de escola, estudantes e comunidade.

Estado e municípios não agem para conter avanço de casos

O sistema 3As de monitoramento, (Aviso, Alerta e Ação) estruturado pelo governo Eduardo Leite (PSDB), tem se mostrado ineficaz. Porto Alegre, por exemplo, recebeu Alerta pela terceira semana consecutiva, mas a prefeitura não tomou nenhuma medida efetiva para conter a propagação de casos. Sendo que, pelo sistema, os municípios têm 48 horas para apresentar um plano de ação.  

“Com o atual cenário da pandemia são necessárias medidas mais enérgicas. Os prefeitos passaram a ser co-responsáveis e co-gestores das políticas de combate. Mas até o momento, nem o governo do Estado, nem as municipalidades têm tomado qualquer atitude e isso é preocupante”, avalia o 1º vice-presidente do CPERS, Alex Saratt. 

No dia 21 de janeiro, o Ministério Público do Rio Grande do Sul lançou uma nota técnica, manifestando-se pela obrigatoriedade da vacinação contra a Covid-19 nas crianças de cinco a 11 anos.

Já no dia 31 do mesmo mês, o Executivo Estadual emitiu uma nota que ignora o cenário atual e desconsidera as recomendações do MP e de especialistas. 

O CPERS seguirá vigilante ao andamento da vacinação do público infantil, bem como a todas as ações necessárias para conter a transmissão da Covid-19. “Defendemos a vacinação das crianças, pois a ciência já comprovou que os imunizantes são seguros. Não podemos arriscar. O covid mata, vacinas salvam vidas”, destaca Helenir.

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