Aos 71 anos, a merendeira Tereza Pereira Ruch, caminhou 15 quilômetros sob um sol escaldante, lado a lado com seus colegas educadores, para denunciar à população os ataques brutais do governo Eduardo Leite contra os direitos da categoria. Esta foi a primeira vez que Tereza realizou uma caminhada tão longa. Quando perguntada de onde tirou forças, ela respondeu: “da revolta que sinto pelo que o governo está fazendo conosco. Já temos tão pouco e eles ainda querem nos tirar mais. Trabalho há 16 anos na mesma escola e ganho pouco mais de R$ 1.100,00. Como é que vai ficar se reduzir ainda mais”, indagou.
O trajeto percorrido pela merendeira e por professores, funcionários e comunidade das escolas de Viamão teve início às sete horas da manhã de hoje, quando ocorreu a concentração em frente ao IEE Isabel de Espanha. Diante das altas temperaturas e do sol forte o grupo percebeu que o desafio pensado durante uma reunião entre professores e diretores, seria grande, mas não desistiu. Com chapéus, bonés e garrafinhas de água seguiram com passos firmes em direção à capital.
“Sabíamos do tamanho do desafio, que intensificou com o calor, mas não desistimos. Durante todo o trajeto recebemos a solidariedade de motoristas, moradores e outros servidores. Também tivemos o importante apoio do Simvia e do Simca, sindicatos dos municipários de Viamão e de Cachoeirinha. Para nós, caminhar em defesa da educação pública é uma tarefa permanente”, ressaltou Jussemar da Silva, diretor da escola Farroupilha.
“Nossa caminhada foi cheia de simbologia. As camisetas brancas que vestimos significam democracia e cultura de paz. O vir a pé até a capital revela nosso empobrecimento, mas revela também nosso espírito de luta contra o pacote do governador. Somos resistência e luta. São cinco anos sem um centavo de reposição, 48 meses de atrasos e parcelamentos. E agora o pior: querem tirar os poucos direitos que conquistamos com muita luta. Ao fazer isso o governador atinge mortalmente a rede pública do estado”, salientou o professor Sérgio Kumpfer.
Nem a perna fraturada e com rompimento do ligamento impediu que a diretora da escola Isabel de Espanha, Sabrina Senra da Silveira, participasse da caminhada. “Claro que não pude caminhar todo o trajeto, mas vim e segui com eles até o final. De forma alguma poderia deixar de participar, porque nosso futuro depende de mobilizações como esta. Já passamos por tantas dificuldades, não seria uma fratura na perna que me impediria de estar junto com meus colegas hoje”, afirmou.
Após horas de caminhada, o grupo chegou à Praça da Matriz, em Porto Alegre, e foi recebido com uma salva de palmas dos educadores do Acampamento da Resistência do CPERS. “Em nome de todos nós do Acampamento, quero agradecer a este povo que chegou aqui cansado, mas ainda com disposição para a luta. Nós precisamos de educadores com esta garra, que se anima a vir de outra cidade até aqui para dizer um sonoro não ao pacote do governo”, disse a diretora do Departamento dos Aposentados do CPERS, Glaci Weber.
Cansada, mas com um enorme sorriso de satisfação, a vice-diretora da EEEM Governador Walter Jobim, Rosane Dorneles de Azevedo, disse que a caminhada redobrou sua disposição para fazer a resistência contra o pacote do Executivo. “Confesso que foi cansativo, mas muito gratificante. Durante todo o trajeto um dava força para o outro. Foi de arrepiar a emoção que senti, me segurei para não chorar. Esse é o espirito: união e força para seguirmos firmes em nossa luta”, destacou.
Sentado no chão, exausto, em frente ao acampamento, o estudante do último ano do ensino médio, Dariél Vicenze da Silva, ainda processava a emoção de ter participado da caminhada. A decisão veio após ouvir dos seus professores como o pacote do governo, se aprovado, pode atingir a educação pública. “Quando entendi as consequências do projeto, vi que precisava ajudar de alguma forma e vim me somar na caminhada. Confesso que o cansaço foi extremo, mas a sensação é gratificante. É incrível ver que não estamos sozinhos”, observou.