A censura ao livro “O Avesso da Pele”, escrito por Jeferson Tenório, por parte da diretora de uma escola em Santa Cruz do Sul, no Rio Grande do Sul, que repercutiu nacionalmente no último final de semana, reforça o que o CPERS Sindicato defende em sua essência: para avançarmos em direção a uma sociedade mais justa e igualitária, precisamos, primeiramente, de uma educação sem barreiras raciais, onde o conhecimento seja uma ferramenta para quebrar os grilhões do preconceito e construir um futuro mais justo para todos e todas.
O episódio do livro de Tenório merece uma reflexão crítica. A alegação de que o vocabulário da obra é de baixo nível e a solicitação de sua retirada do currículo escolar são atitudes que vão contra princípios fundamentais da educação e da liberdade de expressão.
Em primeiro lugar, é importante ressaltar que “O Avesso da Pele” aborda um tema crucial para a sociedade brasileira: o combate ao racismo. Em um país onde a violência policial contra jovens negros é alarmante, obras como essa têm o papel vital de promover a reflexão e a conscientização sobre a questão racial. A narrativa do livro pode servir como uma ferramenta poderosa para despertar o debate e incentivar a mudança de comportamentos.
Vale ainda destacar que grande parte da crítica ao livro se deu em razão de grupos bolsonaristas ligarem a aquisição da obra ao governo Lula, mas a aprovação para a sua distribuição nas escolas ocorreu ainda em 2021.
Além disso, é preciso considerar o público-alvo da obra: estudantes do Ensino Médio. Este grupo está em uma fase crucial de desenvolvimento intelectual e crítico, capaz de compreender e analisar textos de forma contextualizada. A abordagem franca e direta, presente no livro, pode ser um estímulo valioso para que os jovens desenvolvam uma consciência social mais ampla e empática.
É alarmante também notar o contexto educacional no Rio Grande do Sul, onde muitas escolas estaduais carecem de recursos básicos, como bibliotecas. Em um ambiente tão carente de acesso à cultura e à diversidade de ideias, a censura a uma obra como essa representa um retrocesso significativo no desenvolvimento intelectual e crítico de alunos e alunas.
O que mais preocupa e deve estar no cerne do debate é tentativa de censura imposta. O artigo 206 da Constituição Federal já diz que o ensino deve ser ministrado com a liberdade de aprender e de ensinar e deve conter pluralidade de ideias e de concepções pedagógicas. É preciso combater todas as formas de perseguição às(aos) educadoras(es) e a excrescência do fascismo.
Para o CPERS, é fundamental defender o fim da censura e garantir que obras como “O Avesso da Pele”, que debatem temas com o intuito de romper paradigmas, possam ser acessadas e discutidas no ambiente escolar. A luta contra o racismo começa na sala de aula, onde é possível promover a reflexão e o diálogo. Restringir o acesso a obras que abordam questões tão importantes é um obstáculo para o progresso social e educacional do país!