Brigada Militar dispersa com bombas manifestação que tentou chegar ao Palácio Piratini


A Brigada Militar dispersou com bombas de gás, balas de borracha e cavalaria o quarto grande ato contra a PEC 55, o governo Temer e o pacotaço de Sartori que reuniu, no início da noite desta terça-feira (13), alguns milhares de manifestantes no centro de Porto Alegre. A manifestação desta terça foi tensa desde o início, na tradicional concentração realizada na Esquina Democrática. Antes de iniciar a caminhada, a Brigada Militar deteve um estudante que carregava bolitas em sua mochila. Sob protestos de seus colegas, o manifestante foi levado para o posto da Brigada no Largo Glênio Peres. Ali, os homens do Batalhão de Choque da BM fizeram sua primeira formação para barrar os estudantes que protestavam contra a detenção de seu colega que, mais tarde, acabou sendo liberado.
Com estudantes secundaristas na linha de frente e aos gritos de “Fora, Temer”, “Ocupa Tudo” e “Desocupa aí, fora Sartori do Piratini”, a caminhada saiu pela avenida Júlio de Castilhos e ingressou no Camelódromo, repetindo o percurso feito na manifestação anterior. Neste caminho, alguns estudantes colaram cartazes em paredes alertando a população sobre as conseqüências da PEC 55 sobre os serviços de saúde e educação prestados à sociedade. Na estação de ônibus que fica embaixo do Camelódromo, a palavra de ordem mais gritada foi “Trabalhador, presta atenção, são 20 anos sem saúde e educação”.
O ato seguiu pela Dr. Flores , ingressou na Salgado Filho e depois subiu a Borges de Medeiros. Quando tudo indicava que a caminhada seguiria pela Borges, os manifestantes deram uma rápida guinada entrando na Riachuelo na direção da Praça da Matriz. Neste momento iniciou a ação do Batalhão de Choque da Brigada que lançou bombas de gás e balas de borracha contra a linha de frente da caminhada. Os estudantes carregavam escudos de madeira improvisados para se proteger das balas de borracha. Com as bombas lançadas, foram obrigados a recuar e se dispersaram em dois grupos pela Borges de Medeiros. A Brigada também acionou a cavalaria contra os estudantes que, na dispersão, quebraram as vidraças de algumas agências bancárias.
Na Riachuelo, a Brigada ainda disparou bombas de gás na direção da Biblioteca Pública, onde alguns manifestantes protestavam contra a ação dos estudantes. A fumaça das bombas acabou subindo em direção à Praça da Matriz onde ocorria uma audiência pública com a participação de servidores da Companhia Estadual de Energia Elétrica (CEEE), Companhia Riograndense de Mineração (CRM) e Sulgás. Um novo destacamento do Batalhão de Choque da Brigada desceu do Palácio Piratini e se postou na esquina da rua Jerônimo Coelho, ao lado da Praça da Matriz. Esse efetivo acabou retornando minutos depois e se posicionou na porta de entrada do Palácio Piratini, que foi alvo de um grande protesto de servidores públicos na parte da tarde.
A maior parte da manifestação dirigiu-se então para a Cidade Baixa e uma nova concentração se formou na avenida Loureiro da Silva, na esquina com a José do Patrocínio. Com a avenida já bloqueada pela EPTC, os manifestantes fizeram uma fogueira com caixas de madeira, no meio da avenida. Após reagrupar forças, em um tamanho já menor devido à ação da Brigada, os estudantes retomaram a caminhada pela José do Patrocínio. Neste percurso, vários contêineres de lixo foram virados e uma agencia da Caixa Econômica Federal e outra do banco Itaú foram atacadas com pedras. Por alguns minutos, a José do Patrocínio virou uma praça de guerra.
Após a passagem dos manifestantes, um caminhão do Corpo de Bombeiros chegou para apagar focos de fogo em contêineres e na entrada do Itaú. Um destacamento do choque da Brigada Militar chegou ao local e saiu em um micro-ônibus atrás dos manifestantes. Um helicóptero da Brigada também acompanhou o protesto, desde a Avenida Borges de Medeiros.
Os alvos preferenciais dos manifestantes foram bancos, apontados por eles como os principais articuladores do golpe e da implementação de uma agenda que retira e congela recursos de áreas essenciais do serviço público como saúde e educação, aumentando os repasses para o setor financeiro. Como ocorreu em outras manifestações em Porto Alegre e em outras cidades do país, as polícias militares ficaram com a tarefa de reprimir os protestos contra os governos que estão implementando essas políticas. Embora em estados como Rio de Janeiro e Pernambuco, alguns policiais militares já tenham passado para o lado dos servidores que protestam contra as políticas que estão sendo aprovadas no Congresso, os batalhões de choque seguem funcionando como uma espécie de guarda pretoriana dos atuais ocupantes do poder que parecem ter terceirizado a sua visibilidade para a ação repressiva policial.
No ato desta terça, em Porto Alegre, a maioria dos manifestantes era de estudantes secundaristas e universitários, além de servidores do setor público. Os frágeis escudos de madeira improvisados pelos estudantes que ocuparam a linha de frente da caminhada indicaram, por um lado, um romantismo arriscado diante do poder de fogo do aparato de repressão do Estado, mas, por outro, uma disposição incomum para uma luta de longo prazo de resistência a essas políticas. O cenário de guerra no centro da Capital e na Cidade Baixa indicou que o país vive tudo, menos uma situação de normalidade democrática.

Fonte: Sul 21 / Marco Weissheimer

Foto: Guilherme Santos

Notícias relacionadas