Dezenas de trabalhadores de fundações e empresas estatais ameaçadas de extinção pelo governo de José Ivo Sartori reuniram-se no início da manhã desta terça-feira (13) na Praça da Matriz, diante do Palácio Piratini, para um “café da manhã”. A finalidade era a de iniciar os trabalhos do que está sendo considerado o dia de mobilização contra o pacote de ajuste fiscal encaminhado à Assembleia Legislativa. O ato também contou com a participação de deputados estaduais contrários ao chamado “pacotaço”, funcionários e apoiadores da FEE, FDRH, FZB, Fundação Piratini, Fepagro, Cientec, Sulgás, Corag, SPH e CRM, que fizeram buzinaços e falas fortes contrárias aos projetos e em defesa das fundações.
Para o engenheiro e ex-presidente da Cientec Luiz Antonio Antoniazzi, propor a extinção de fundações “é um ato de insanidade”. “Nós consideramos um ato de insanidade. É desconhecer toda uma história de prestação de serviços fundamentais para o desenvolvimento do Estado. Extinguindo essas fundações, o Estado vai ter que comprar esses serviços no mercado”, afirma.
Ele cita, por exemplo, que a Cientec participa, em conjunto com o Ministério Público e a polícia, de uma força tarefa para o combate da fraude de combustíveis. Técnicos da fundação são responsáveis por inspecionar e fazer laudos sobre os produtos comercializados nos postos do Estado. “Esse trabalho vem sendo feito há 15 anos. O RS é o estado do Brasil com menor índice de fraude em combustível. Fechando a Cientec, como será?”
Antoniazzi afirma que dizer que o trabalho desenvolvido pela Cientec e outras fundações continuará, de alguma forma, sendo feito pelo governo “é uma tentativa de enganar a população”. “As pessoas sabem que todo esse trabalho é feito dentro de laboratórios, não é feito em cima de uma escrivaninha. Todas essas entidades são especializadas no que fazem e trabalham junto a equipamentos e instalações. Isso é impossível de absorver”, pontua.
Já a economista da FEE Iracema Castelo Branco pontua que grande parte das fundações ameaçadas são da área de pesquisa e prestam serviços essenciais, não só para o Estado, como também para municípios e a sociedade em geral. “A FEE existe há 43 anos e possui uma base de dados que vem de mais de 100 anos. Para que se tenha qualquer tipo de informações sócio-econômicas do Estado, dos municípios, para tomada de decisões, tanto do setor público, quanto do setor privado, é indispensável os dados da fundação da FEE. Nós somos responsáveis pelos cálculos da população, do PIB, dos indicadores, tanto sociais como econômicos, dados de desemprego, essas informações que são fundamentais para a população e o desenvolvimento do Estado”, diz
Segundo ela, a mobilização desta terça, que continuará de tarde com grandes atos marcados para o Largo Glênio Peres e de novo diante do Piratini, é importante para mostrar para o governo e para os deputados justamente a importância das fundações.
Iracema faz parte da comissão de trabalhadores da FEE que tem visitado as bancadas de deputados estaduais. Ela tem ouvido por parte dos parlamentares mensagens de reconhecimento da importância do trabalho da Fundação, mas sem a garantia de que se posicionarão contra os projetos de extinção das entidades. “O que nós dizem é ‘sim, nós sabemos a importância da fundação, mas os votos são políticos’. Isso nos preocupa muito”, afirma.
Presente no ato, o deputado Juliano Roso (PCdoB), avalia que o trabalho de mobilização é essencial para mudar votos dentro da AL e que mesmo deputados de partidos da base sólida do governo, como o PMDB e PP, podem ser convencidos, individualmente, a votar contra algumas medidas do pacote. “O clima na AL, mesmo para quem é da base do governo, é desconfortável. Os deputados não estão contentes em votar esses projetos”, pondera. “Fechada 100% com o pacote nenhuma bancada está, nem a do PMDB. Existem, na bancada do PMDB, defecções que podem ocorrer, deputados que podem se ausentar da votação de alguma proposta”, complementa.
Para o deputado, a extinção das fundações tem o objetivo de “apequenar o Estado”, mas não irão trazer resultados para a crise financeira do Estado. “Pelo contrário, vão agravar” “São projetos que demonstram que esse governo não tem um projeto para o Estado do RS, para o desenvolvimento. Não faz sentido abrir mão de estatais e fundações que são fundamentais para a retomada do crescimento econômico, como é o caso da FEE, da Cientec, da SPH, da Sulgás, da CEEE, da CRM, entre outras”.
O ato também contou com a participação de outros parlamentares, como Tarcísio Zimmermann (PT), que criticou o pacote e disse que o atraso de salários do funcionalismo público é uma decisão política e não financeira, e Manuela D’Ávila (PCdoB).
Fonte: Sul21 / Luís Eduardo Gomes
Fotos: Maia Rubim