As mulheres educadoras agonizam no RS | por Valdete Moreira


artigo de Valdete Moreira*

No Congresso Nacional do PSDB no final de 2019, o governador do RS, Eduardo Leite afirmou em seu pronunciamento que “o PSDB tem compromisso com valores e princípios e deles não abro mão. É um partido que tem a convicção que promove iniciativas e propostas para melhorar a vida de todos os brasileiros.”

Em seu discurso, amplamente divulgado pela mídia hegemônica, o jovem governador falava sobre o Estado e sua responsabilidade com a vida das pessoas, a garantia do emprego, do sustento e da renda. Além de defender a democracia e o diálogo como modelos para a governança do RS. No entanto, Leite mentiu, foi desonesto e se mostra o mais desumano e cruel governador que o RS já teve a partir da assinatura da Constituição Federal.

Eduardo Leite age com irresponsabilidade, pois não consegue governar o RS e nem mesmo atender às necessidades da geração atual sem comprometer as gerações futuras. Pouco sobrará do estado após a passagem do PSDB pelo governo.

Há milhares de educadoras e educadores de todo o Estado que receberam o contracheque em branco. As professoras e professores, funcionárias e funcionários, e equipes diretivas têm feito um excelente trabalho, com aulas recuperadas, mantendo seu compromisso com a comunidade e cumprindo a lei.

Mas a Lei em nosso país tem partido e tem lado; seu rigor só é aplicado para avançar sobre o direito das trabalhadoras e trabalhadores. A justiça só enxerga o patrão, a justiça é injusta!

Nossa categoria é formada majoritariamente por mulheres e as desigualdades entre nós e os homens se dão em vários níveis: nas jornadas de trabalho que acumulamos, no enfrentamento ao machismo e sexismo, na falta de oportunidades para qualificação profissional, por sermos as mães e avós que cumprem sozinhas com a tarefa dos cuidados no lar.

Depois de cinco anos sem reajuste e com 50 meses de salários atrasados e parcelados, a única garantia que temos é a da miséria. E para nós, MULHERES, mães, provedoras de família que não recebemos salários, as dificuldades chegam antes. 

Encarar o prato sem comida, a panela vazia e a fome é difícil! A humilhação não nos poupa e o sentimento de impotência aumenta dia após dia, pior ainda é quando temos que enfrentar o machismo e a opressão. Essa vulnerabilidade é aproveitada ainda mais pelos abusadores e machistas assediadores.

Nós, mulheres que ousamos levar uma vida independente, sofremos com a desigualdade nos salários. Com um rendimento menor e sem estímulo para seguirmos em nossos estudos, é bem maior a nossa evasão em cursos de formação, sejam eles de graduação ou pós-graduação . Desistir é uma possibilidade que sempre nos oferecem. E como é fácil nos descartar.

Nosso lugar no mundo fica restrito à casa e ao trabalho. 

Nas universidades sempre tivemos um rendimento melhor que o dos homens. Nosso desempenho acadêmico só é menor quando sofremos a pressão do exercício das múltiplas funções. Nossas alunas testemunham as dificuldades e os problemas que enfrentamos, pelos olhares nos fortalecemos porque entre nós somos capazes de compreender a dificuldade de ser mulher e de lutar pelos nossos direitos.

No entanto, quando se fala do sistema educacional e dos problemas, somos nós, as mulheres, as primeiras a serem citadas nos índices de afastamentos e nos casos de saúde mental. Mas, na formulação das políticas públicas para a educação ou no debate sobre planos de carreira e previdência, nunca somos lembradas, não somos ouvidas, não contribuímos porque lá estão eles, os homens, sempre os homens, decidindo sobre as nossas vidas. Sempre os homens prontos para pôr em cheque nossa saúde psicológica ao nos ver em cargos de liderança ou frente a atos que exigem coragem ( quando não nos colocam à frente para garantir segurança para eles).

O Magistério Público Estadual do Rio Grande do Sul agoniza. A arrecadação de cestas básicas para alimentar os filhos das trabalhadoras e trabalhadores em Educação é de um constrangimento sem fim. Uma mãe trabalhadora nessa condição é o maior exemplo da agressividade de uma sociedade marcada pelo capitalismo violento e opressor, é uma marca invisível na sociedade machista e patriarcal do nosso tempo.

Não nos resta dúvidas que a opção de nos deixar sem salário foi uma escolha. Foi uma ofensiva para atingir quem ousou lutar. Quem ousou liderar frentes de ataque ao governo. Porque fomos nós que desorganizamos a base do governo, que fechamos as ruas, que lideramos as marchas, que abrimos assembleias, que apanhamos, que fomos chamadas de loucas, que fomos violentadas no psicológico, que mantivemos os acampamentos e as caminhadas ao longo destes meses todos. Diante do perigo, somos nós as primeiras a se levantar. E isso causa medo e o medo causa ataques, sejam eles covardes e machistas, sejam eles de imaturidade e infantilidade. 

 

Dedico este texto para todas as trabalhadoras em Educação do Rio Grande do Sul, mulheres fortes, militantes e guerreiras que ousaram enfrentar um sistema patriarcal e machista, que existe bem antes do capitalismo, na luta em defesa da educação em todos os espaços, no Sindicato, na escola, na sociedade e pela garantia do direito do acesso amplo, democrático e universal à escola pública e ao conhecimento. 

*Valdete Moreira integra a direção central do CPERS/Sindicato e coordena o Departamento de Formação Política e Sindical

 

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