Na tarde desta quarta-feira (20), a sala de reuniões do CPERS foi tomada por um grupo simpático e com muita disposição para a luta, formado por ex-dirigentes e aposentados que atuaram nas principais greves da entidade.
A visita tinha o objetivo de firmar a entrega de uma carta dirigida ao sindicato e à sociedade, apresentando a indignação com os rumos da educação no estado, mas também serviu para uma necessária troca de experiências.
Ao saudar os representantes do grupo, a 1ª Vice-presidente do CPERS Solange Carvalho, se disse emocionada com a visita e ressaltou a importância da unidade.
“Vocês são o patrimônio do nosso Sindicato. Tudo o que foi conquistado e que está em jogo com o governo de Eduardo Leite, foi ganho através das lutas de vocês. Tê-los ao nosso lado engrandece a nossa causa”, afirmou Solange.
O movimento foi organizado pelo professor Tomaz Wonghon, que esteve presente nas principais lutas do Sindicato desde a década de 70.
“Nós estamos aqui hoje para registrar o nosso apoio e solidariedade, mas também para mostrar que a luta vale a pena. Todas as conquistas que tivemos no passado foram através de muito esforço e dedicação, mas no fim perseveramos. Não desistam!”, clamou Tomaz.
A diretora do CPERS, Rosane Zan, agradeceu o apoio e os relatos dos professores presentes. “Vocês são a história viva desse sindicato. São muitas lutas que vocês travaram para que chegássemos até aqui. Vamos lutar cada dia mais para manter essas conquistas”, disse.
O professor aposentado, Pedro Mattos, se disse preocupado com atual cenário nacional e estadual para a educação.
“Percebo que, desde o golpe de 2016, com o avanço do neoliberalismo, o que vemos é uma tentativa de desmonte da Constituição Federal. Por isso a luta de vocês é muito maior, é uma luta em defesa também da Constituição. Não tem outra saída senão lutar para enfrentar esse pensamento neoliberalista”, afirmou Pedro.
Para a diretora do CPERS, Vera Lessês, que relembrou que foi aluna do Professor Zanetti, presente no encontro, a história de luta inspira deles inspira para as batalhas que virão.
“Em comparação com vocês, eu estou recém começando na luta sindical. É muito bom esse apoio de quem ajudou a construir nossa história”, disse Vera.
A construção do Plano de Carreira do Magistério
O professor Hermes Zanetti, que presidiu o CPERS por dois mandatos (de 1975 a 1978 e de 1978 a 1979), e comandou a primeira greve do sindicato em 1979, durante a Ditadura no país, relembrou durante a reunião um dos marcos da história da categoria.
“Além de professor, eu sou advogado, por isso eu participei da formulação do Plano de Carreira do Magistério. Desde aquela época o nosso maior objetivo era que a excelência da educação estivesse fundada na qualificação do professor”, contou Zanetti.
Quando questionado sobre as mudanças pretendidas pelo governo Eduardo Leite, ao plano que foi formulado com o objetivo de qualificar a educação gaúcha, o professor se diz revoltado.
“O objetivo da divisão em seis níveis era para que todos chegassem ao doutorado, e o incentivo para isso evidentemente era uma melhor remuneração. Quando eu vejo que com as mudanças do novo plano a diferença entre o primeiro e o último nível vai passar de 100% para 7% eu me revolto. Assim não dá, né menino governador?!”
Para Zanetti, as consequências da aprovação do pacote de Eduardo Leite serão devastadoras. “Precisamos lembrar que a melhor formação do professor é sempre traduzida na melhor formação para o aluno”, ressalta.
Confira abaixo a íntegra da carta entregue pelo grupo:
Ao CPERS /Sindicato e à Sociedade Gaúcha
Perplexos com a virulenta investida do Governo do Estado contra os professores do Rio Grande do Sul e demais funcionários(as) públicos, contra sua Entidade representativa e por conseguinte, contra a educação, ex-dirigentes presentes neste Ato, ou representados por familiares, registram publicamente SOLIDARIEDADE com nossa Entidade e com a história de lutas que ajudamos, em distintas épocas, a construir.
As diferentes concepções políticas, individuais, em nada arrefecem a compreensão coletiva da necessidade de intransigente defesa deste patrimônio da Democracia, construído “a duras penas”.
Ao contrário, apontam como referência a imprescindível busca de “unidade na luta” sobressaindo o “bem comum” sobre a “convicção individual”.
Sirva este nosso gesto de estímulo, ânimo e convite a que cada Professor(a), Pai, Mãe e Aluno(a) perfilem-se nas trincheiras de resistência, atentos às diretrizes de seus “COMANDOS DE GREVE” legítima e democraticamente eleitos em suas assembleias.
“NINGUÉM SOLTA A MÃO DE NINGUÉM”
Porto Alegre, 20 de novembro de 2019.