Estudantes que compõem a Frente Gaúcha de Juventude em Defesa da Educação realizaram protesto simbólico às portas do Palácio Piratini contra a volta às aulas presenciais no Rio Grande do Sul nesta quarta-feira (23). A mobilização também ocorreu em frente às Coordenadorias Regionais de Educação (CREs) em diversas regiões do estado.
As atividades fazem parte do Dia Nacional de Lutas em Defesa da Educação, que registrou atos em todo o país. O CPERS, que através da campanha escolas Fechadas Vidas Preservadas, manifesta-se firmemente contra o retorno presencial das aulas, esteve presente apoiando a iniciativa.
“Nós, professores e funcionários, já deliberamos que não há condições para esse retorno. Pais e alunos também não querem voltar agora. Então, a gente questiona essa decisão do governo”, destacou o diretor do Departamento da Juventude do CPERS, Daniel Damiani.
Ele também chamou atenção para as falhas no plano do governo Eduardo Leite (PSDB), lembrando que o estado de Pernambuco, ao pensar na retomada do ensino presencial, teve como uma das primeiras iniciativas a realização da testagem em massa.
“Aqui nem se fala nisso. Não tem recursos humanos e nem EPIs. Querem a volta de 800 alunos e 50 mil professores e funcionários sem a mínima responsabilidade com suas vidas. Voltar sem testagem é uma grande irresponsabilidade. As juventudes acertam em fazer a denúncia”, observou.
Diversos representantes de entidades estudantis participaram do ato. Em suas falas, os jovens classificaram a atitude do governo como um ato criminoso.
“Os estados que voltaram às aulas, como o Amazonas, já têm mais de mil professores contaminados pelo coronavírus. Isso é um atentado à vida daqueles que estão trabalhando pela educação e a todas as famílias que poderão ter seus filhos infectados e precisam do SUS funcionando para serem atendidos”, frisou Regina Brunet, primeira vice-presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE).
“Nós também estamos, hoje, em ato nacional, reivindicando uma verba justa para a educação. Bolsonaro colocou no decreto orçamentário uma diminuição de mais de 10% para no orçamento da educação para o próximo ano”, denunciou.
Marcela, da UJC frisou a irresponsabilidade do governo e lembrou dos constantes ataques contra a educação pública. “O governador demonstra que não se preocupa com a saúde da comunidade escolar ao querer reabrir as escolas neste momento. Sofremos mais um ataque que foi o arrombamento da escola Rio Grande do Sul. O governador já vem há meses tentando fechar a escola e a comunidade escolar segue resistindo. Não sairemos da escola até que a vontade da comunidade seja respeitada.”
“Nós, estudantes, vamos lutar junto com os professores para que as aulas presenciais não sejam retomadas. É um absurdo ignorarem os dados que mostram o perigo que isso representa para a vida de todos”, frisou Nicolas Alcântara, do Movimento Fora da Ordem.
Há pesquisas mostrando que crianças e jovens são assintomáticos, mas também os que mais transmitem. As escolas e comunidades periféricas já enfrentam inúmeros desafios e agora o governo quer colocar mais esse”, disse a estudante e produtora cultural, Taís Silva.
“Estamos aqui, mais uma vez, pedindo ao governador que respeito os estudantes e os educadores. Não aceitamos o retorno às aulas porque o governo não apresenta nada eficiente para a nossa segurança”, afirmou Marcos Júnior, vice-presidente da Umespa.
Damiani informou que nesta sexta-feira, dia 25, o CPERS realizará Conselho Geral para deliberar quais os passos para resistir ao retorno às aulas presenciais.
“Não é só uma palavra de ordem dizer que a volta às aulas é um ato criminoso. Nós constatamos nas escolas que não há condições para um retorno seguro. Vamos resistir nos organizando a nível estadual, mas também a partir de cada escola. É importante que cada escola se organize para não retornar, fazer o levantamento da falta de condições e o parecer dos conselhos escolares que não aceitam o retorno”, afirmou.
Intervenção na UFRGS quer acabar com a autonomia da universidade
Giovani Culau, presidente estadual da UJS destacou a falta de diálogo do governo com educadores e estudantes e a crueldade em propor a retomadas das aulas presenciais. “A pandemia escancara as desigualdades que nós enfrentamos. Há inúmeros estudantes sem condições adequadas de estudo. E quando se fala em volta às aulas isso fica ainda mais claro. As escolas públicas padecem com a falta de investimentos, infraestrutura e não têm as condições sanitárias adequadas para o retorno ao ensino presencial”, salientou.
Culau também frisou a absurda interferência do governo Bolsonaro no resultado das eleições para reitor da UFRGS. “Atitude antidemocrática em uma das principais universidades federais do nosso estado. Construímos uma universidade de qualidade para os filhos dos trabalhadores e eles querem desmontá-la. Defender a educação neste momento é defender o Brasil, a ciência, a tecnologia e a democracia.”
Regina endossou a observação feita por Culau quanto a intervenção do governo federal à UFRGS. “É um ataque a autonomia universitária e a democracia. Nós fizemos nossa escolha através do voto e o governo elegeu o último colocado desrespeitando o Conselho Universitária e a comunidade acadêmico”, ressaltou.
Phillipe Almeida, representante do Movimento Eu Defendo a UFRGS ressaltou que a força das universidades públicas ameaçam o governo Bolsonaro. “Essa tentativa de retorno às aulas é criminosa. Falando pelo Movimento sabemos que Bolsonaro sabe que o seu projeto fascista, que já está em curso, corre risco se deixar as universidades independentes e autônomas. Continuaremos resistindo a intervenção.”