Seminário pedagógico da CNTE debate ensino híbrido e enfrentamento à precarização do trabalho docente


Na manhã desta terça-feira (2), a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE) promoveu o seminário pedagógico para debater o ensino híbrido e o enfrentamento à precarização do trabalho docente. O encontro reuniu mais de 500 participantes de todas as regiões do país, incluindo representantes dos sindicatos, diretores e diretoras da CNTE e a participação especial da professora de didática da Unirio, Maria Luiza Süssekind, primeira secretária da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação (Anped).

Representando o CPERS participaram da atividade o 2º vice-presidente, Edson Garcia, a secretária-geral, Candida Rossetto, os(as) diretores(as) Alda Bastos Souza, Cássio Ritter, Glaci Weber, Rosane Zan, Sônia dos Santos Viana, Vera Maria Lessês  e os diretores dos Núcleos do Sindicato.

O presidente da CNTE, Heleno Araújo, explica que o encontro se propõe a pensar novas práticas pedagógicas para o momento de pandemia de Covid-19 que estamos enfrentando: “Vamos elaborar propostas para o enfrentamento necessário. Estão impondo medidas e ações que nos preocupam na ordem do emprego e da entrada do setor privado dentro da educação pública. Por isso é importante ouvir o que os estados estão trazendo para que possamos juntos encontrar formas e fazer o enfrentamento necessário”, ressaltou.

Panorama internacional

O secretário de Relações Internacionais da CNTE, Roberto Franklin de Leão, compartilhou um breve relato sobre a situação mundial: “A Internacional da Educação (IE) tem discutido o retorno às aulas. A grande preocupação dos trabalhadores é como se dá esse retorno às aulas presenciais, como fica a vida dos trabalhadores a partir do que vier a acontecer com o fim da pandemia e do que já está acontecendo, o ensino híbrido e como fica a jornada de trabalho”. Ele também mencionou preocupação com a privacidade: “O país inicia o retorno às aulas e os trabalhadores da educação já tiveram sua privacidade violada a partir do momento que começaram o ensino a distância. O celular do profissional já está na mão de todo mundo, horário de trabalho não existe, e isso é uma coisa que precisamos debater, precisamos regrar essas questões, para que possamos viver a nossa vida com o mínimo de privacidade”.

A secretária geral da CNTE, Fátima Silva, que também é vice-presidente da Internacional da Educação para América Latina (IEAL), falou sobre a experiência de países vizinhos: “Em todo continente estamos em um grande debate. O Uruguai se destaca por ser o país que menos tempo fechou as escolas, mas isso ocorreu por conta de um sistema de saúde bem consolidado, e que controlou a pandemia. A Argentina colocou professores na prioridade da vacina”, destacou.

Na avaliação de Fátima Silva, o setor da educação é o que mais sofreu profundas transformações, os negócios educacionais se incrementaram nas compras de plataformas virtuais e compras de equipamentos eletrônicos: “Isso traz mudança do nosso modelo de trabalho – todas as análises mostram que esse modelo mesclado com o virtual, híbrido, veio para ficar. Como dirigentes sindicais vamos fazer negociação no setor público e no setor privado. Então esse seminário é para dar unidade na nossa ação e conhecimento para aquilo que está acontecendo em nosso país, pra ter como parâmetro, e não como cópia”.

Desafios no Brasil

Os participantes do seminário relataram diversas situações de sobrecarga de trabalho, ausência de acessibilidade e de apoio para desenvolver o ensino híbrido. Em alguns estados os governos cortaram auxílios, verbas indenizatórias e horas extras, sendo que trabalhadores e trabalhadoras tiveram que investir do próprio bolso em equipamentos e internet.

A professora Maria Luiza Süssekind, da Anped, começou sua intervenção abordando a desvalorização da categoria: “Nós somos uma categoria vítima de demonização, de um tipo de ataque que é um processo de demonização porque o professor está sempre aquém do que a sociedade exige. Mas nós temos toda a qualificação necessária para estar na sala de aula, abrimos nossas casas, estamos trabalhando muito mais do que nossas cargas horárias”. Na avaliação dela, a pandemia é atravessada por questões globais e esgarçou questões que já existiam: “As infraestruturas escolares, o excesso de trabalho, os problemas de acessibilidade, de insatisfação dos docentes, tudo isso mostra o número de trabalhadores que já eram insatisfeitos com o que faziam. E sobretudo há a exposição, profissionais estão expostos e controlados. Estamos assistindo um barateamento em todos os níveis, um crescimento da aceitação do homeschooling, se valendo de uma aliança nefasta da pandemia com o ensino remoto, abrindo portas para a vaucherização”.

A secretária da Anped, Maria Luiza Süssekind, trouxe também o debate de gênero e do trabalho infantil que atravessa a educação pública: “O cenário que temos hoje a enfrentar é complicado do ponto de vista educacional, da saúde e econômico. Mas é preciso fazer um corte de gênero, raça e classe. Os índices de violência e feminicídio cresceram assustadoramente e as vítimas são as mulheres pobres e negras. O índice de trabalho doméstico aumentou, são os filhos jovens das empregadas domésticas que não estão indo às aulas porque estão cuidando dos irmãos menores. É preciso contar que está crescendo o trabalho infantil nas ruas e dentro das casas”.

Na avaliação de Maria Luiza Süssekind, para enfrentar essa situação é preciso trabalhar com o conceito de ensino remoto emergencial: “É preciso criar modelos híbridos, é preciso ter tempo, planejamento, para criar esse modelo. Não é possível operar desse modo sem gestão democrática. Não podemos continuar entendendo que currículos podem ser espalhados e o professor que se vire – não é possível reduzir ensino a currículo”. Para a professora, é preciso confiar na autonomia e competência dos professores e comunidades escolares: “Nós precisamos inventar os currículos, mudar a seriação, parar o isolamento do professor. Nós existimos em rede, não podemos colocar a política pra gente competir entre nós mesmos. Precisamos enfrentar a disciplinarização, o paradigma da aula expositiva, precisamos de currículos que falem de vida, de morte. As mortes estão silenciadas, os sinos das igrejas não tocam. Que sociedade é essa que é majoritariamente católica mas que não cobra dos padres que os sinos dobrem?”.

Informações: CNTE

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