Risco de desabamento, falta de educadores, sem verba para EPIs; governo Leite abandona escola de Pelotas


Com a fachada interditada e sob risco de desabar a qualquer momento, sem verbas para EPIs e a falta de três professores, duas merendeiras, dois funcionários de limpeza e orientador educacional.

É assim que o governo Leite (PSDB) espera que a escola Osmar da Rocha Grafulha, de Pelotas, abra as portas para receber a comunidade em meio à pandemia.

A realidade da instituição – que atende 887 estudantes em três turnos – é um retrato da rede e do descaso das políticas neoliberais que sucateiam a escola pública no Rio Grande do Sul.

“Com as reformas e as mudanças no Plano de Carreira, muitos professores entraram em processo de aposentadoria para que não perdessem tanto em termos salariais. Nesses últimos meses foram cinco aposentadorias ou reduções de carga horária”, observa o diretor Lucas de Souza Barbosa.

A instituição tem dois funcionários do grupo de risco, uma monitora e uma merendeira, ou seja, neste momento o quadro ficaria somente com uma merendeira para atender os três turnos (887 estudantes).

Cumprir plano de contingência é inviável

Lucas afirma que, com a falta de recursos humanos, não seria possível seguir o plano de contingência proposto pelo governo.

“Precisaríamos de pelo menos mais dois funcionários de limpeza. No momento temos só dois para limpar os pisos, as classes e todas demais superfícies utilizadas em três turnos. Nossa escola é grande, ano passado passamos a maioria do ano com três funcionários e ainda assim era complicado manter tudo limpo entre os três turnos”, observa.

A verba para adquirir os EPIs e materiais de higiene é outra preocupação do diretor.

“Para os plantões compramos álcool gel, luvas e máscaras, mas tudo com a verba da instituição. O governo não disponibilizou nenhum dinheiro a mais para esses gastos”, denuncia Lucas.

“Para o retorno serão necessárias máscaras para todos os alunos, funcionários e professores. Só aí são quase mil máscaras, contando apenas uma por pessoa, que sabemos não ser suficiente”, continua o educador.

O diretor conta, ainda, que a maioria dos pais já informaram que os seus filhos não vão retornar à escola em função do medo da disseminação da Covid-19.

“Os pais entendem que a pandemia ainda não passou e que o retorno às aulas colocaria em risco não só os seus filhos, mas os familiares, já que vários alunos moram com pais mais velhos e avôs que estão no grupo de risco. ”

Como 86% dos educadores(as) – conforme levantamento do CPERS – Lucas não acredita que as atividades presenciais deveriam ser retomadas sem vacina.

“Se as aulas foram canceladas no primeiro momento para impedir a contaminação e agora existem muitos mais casos do que quando as aulas foram canceladas, não faz sentido voltar. Estaremos liderando um retorno até antes da maioria das escolas particulares. Parece que seremos cobaias para ver como funcionará”, argumenta.

Interdição da entrada da escola

A fachada da escola está interditada desde outubro de 2016, devido a risco de desabamento, sustentando-se sobre toras improvisadas.

“Assumi a direção faz pouco mais de um mês e ainda não recebi nenhuma informação sobre o progresso da reforma. Tenho tantas demandas para cumprir que ainda não consegui me informar sobre esta situação”, afirma o diretor.

Devido à situação, a escola precisou se adaptar e mudar o acesso para a avenida Duque de Caxias. Como o portão eletrônico fica distante da entrada, a escola fica aberta para o acesso da comunidade.

“Isso facilita o ingresso de pessoas estranhas que mexem nas bicicletas dos alunos, furtam bolas, fazem arruaça dentro do pátio externo”, diz Lucas.

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Um governo que deixa a escola cair aos pedaços em tempos normais vai cuidar dela em tempos de exceção?

Em março, defendendo pela 1ª vez a suspensão das aulas presenciais, escrevemos que o período “seria uma oportunidade para o governo reorganizar e retomar o ano letivo suprindo as atuais carências da rede estadual.”

À época, levantamento realizado pelo CPERS já demonstrava que faltavam, ao menos, 1,5 mil educadores(as) nos quadros de recursos humanos. Passados sete meses, nada mudou.

Pesquisa mais recente mostrou que mais de 90% das escolas estaduais não têm condições estruturais adequadas para a reabertura. Mais de 70% não recebem em dia os repasses do governo e a maioria sequer conseguiu oferecer máscaras durante os plantões presenciais.

Todas estes dados fortalecem a convicção de que não é possível retornar neste momento. Quem nunca cuidou da escola pública não o fará agora. Nossas vidas importam.

“Achamos prematuro voltar. A única forma de testagem que o governo vai disponibilizar para as escolas é a verificação da febre, quem é assintomático não aparecerá que está contaminado. Parece que o governo trabalha somente com a doença e não com a prevenção. Temos que trabalhar com a prevenção, pois são as nossas vidas que estão em jogo, dos nossos colegas e dos nossos alunos. Não queremos servir de cobaias”, observa a presidente do CPERS, Helenir Aguiar Schürer.

Nesta quinta-feira (8), o CPERS convoca a categoria para discutir e deliberar as estratégias de luta e resistência em Assembleia Geral. Veja aqui como participar!

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