Riqueza da escola pública é evidenciada em webinário da Comissão da Educação


A riqueza das experiências pedagógicas produzidas no chão da escola foram apresentadas no quarto webinário da 1ª Mostra das Boas Práticas da Escola Pública do Rio Grande do Sul.

Promovido pela Comissão de Educação, Cultura, Desporto, Ciência e Tecnologia da Assembleia Legislativa, o evento selecionou 71 projetos que evidenciam a qualidade do ensino público gaúcho. Cinco deles foram apresentados na tarde desta segunda-feira (9) por videoconferência.

Tecnologia, meio ambiente e literatura são algumas das temáticas abordadas.

“A maior ênfase do seminário de hoje é a literatura. Queremos mostrar o que vocês fazem, apesar do congelamento e salário baixo e endividamento da categoria. A gente tem tentado demonstrar que os altos números do ENEM são devido à garra e dedicação das escolas”, afirmou a deputada Sofia Cavedon, presidente da Comissão.

Na ocasião, a deputada Sofia referiu-se à Mostra Pedagógica do CPERS como inspiração para a criação da Mostra das Boas Práticas da Escola Pública e pontuou que em breve será produzido um material impresso com todos os trabalhos selecionados.

Para a presidente do Sindicato, Helenir Aguiar Schürer, estes espaços oportunizam o reconhecimento da qualidade e da riqueza do ensino público gaúcho.

Começamos a Mostra Pedagógica em 2015.  Tivemos mais de 200 trabalhos inscritos. Esse é o fortalecimento da escola pública. Sabemos do compromisso de cada um de vocês com a educação e na elaboração de projetos que dão voz aos nossos alunos”.

“Sou professora de português e literatura. Sei a importância que tem a leitura nas escolas e um dos maiores erros desse governo é fechar bibliotecas. Tenho muito orgulho de ser professora de escola pública e sei o quanto é importante estimular a criatividade dos nossos alunos”, concluiu Helenir.

A secretária-geral do CPERS, Candida Rossetto, parabenizou os colegas que compartilharam experiências inovadoras e que ratificam o bom trabalho desenvolvido nas instituições de ensino.

“É uma alegria estar aqui. Apesar de tudo o que estamos vivendo com o massacre do governo, nos sentimos muito bem representados com a diversidade do que foi apresentado, com práticas significativas e de relevância social”, destacou.


“Quero parabenizar cada colega que apresentou seu projeto. O que me chamou atenção foi a diversidade e a riqueza da escola pública, ressaltando a tolerância e estimulando a criatividade dos nossos alunos. Isso nos fez lembrar do nosso início, quando começamos a gestão no CPERS e criamos a Mostra Pedagógica. Viva a educação pública”, frisou o 2º vice-presidente, Edson Garcia.

Confira, abaixo, os projetos apresentados no webinário desta segunda.

CONSCIÊNCIA NEGRA: RESPEITANDO AS DIFERENÇAS
EMEF Boaventura Cardoso da Silva – Camaquã RS
Professora Stephanie Lindmann

O projeto foi desenvolvido pela escola rural em 2019 com a turma do nono ano, cujo objetivo principal foi o reconhecimento e incentivo à leitura africana.

No fim de 2018, a diretora trouxe exemplares para a escola do livro Úrsula, de Maria Firmina dos Reis, primeira mulher negra a escrever um romance abolicionista. 

No ano seguinte, a professora de literatura Stephanie Lindmann desafiou os alunos a realizarem a leitura da obra. Os alunos se dividiam em grupos e realizavam a leitura coletiva.

“Foi aí que começou tudo. Eles se sentiram desafiados com a leitura e começaram a mergulhar nesse universo, se aprofundando também com a história da escravidão no Brasil. Os estudantes foram muito além do que podíamos imaginar, pesquisaram sobre a história de Zumbi dos Palmares, quilombos, entre outras temáticas”, destacou a professora.


O projeto contemplou ainda atividades como elaboração de máscaras e bonecos africanos, oficinas de turbante, desenhos que valorizam a diversidade e apresentações de dança da cultura negra.

Também ultrapassou os muros da escola, onde os alunos participaram de feira do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia (IFsul). Por fim, a ação ainda ganhou menção honrosa no Prêmio RBS de Educação. 

FLOR DE CACTO
EEEM Jardim América – Capão do Leão RS
Professores Angela Corrêa Papaiani e Guilherme Matheus Bourscheid

A partir de um anseio dos alunos de realizarem algo diferente, o projeto, criado na disciplina de Literatura e Arte, transformou o papel do estudante de mero espectador a protagonista.

Em conversa sobre o protagonismo das mulheres e o seu papel na sociedade, na comunidade e na escola, o “Flor de Cacto” deu voz aos alunos, possibilitando que se sentissem parte da escola. Eles apresentaram uma peça que denunciava as diversas formas de opressão da sociedade. O projeto também participou da Mostra Pedagógica do CPERS.

A apresentação é dividia em três momentos: o primeiro, é a leitura do poema “Ciranda das Loucas”, de Juçara Dutra; o segundo, aborda o relato dos alunos de experiências racistas, abuso sexual, bullying, violência física e psicológica; e no terceiro, há a participação do público, que compartilha suas próprias vivências.

“Que mulher não entrou em depressão por se deparar com situações opressivas e machistas?”, questionou a professora Angela Corrêa Papaiani.

“Mesmo com tudo isso que esses alunos passaram, não deixaram de seguir em frente. Temos alunos que concluíram o Ensino Médio e que continuam no projeto. Seguimos na luta por igualdade de direito e para dar voz a essas mulheres que passaram por tanta coisa na vida”, finalizou.

“Quanto mais espaços de sociabilização, mais elementos de qualificação da prática pedagógica teremos. Esse trabalho é de extrema importância para a formação da nossa sociedade. Estamos em uma situação de miserabilidade, nossa escola não tem um prédio próprio e o Secretário de Educação disse que não há verba. Mesmo diante de toda essa situação, temos um excelente projeto produzido pela educação pública”, afirmou o professor Guilherme Matheus Bourscheid.

MOMENTO LITERÁRIO DO DIA DA MULHER
EEEM Patrulhense – Santo Antônio da Patrulha RS
Professora Bianca Salazar dos Santos

Em 2017, quando a professora de História, Bianca Salazar dos Santos, ainda atuava na biblioteca da escola, deparava-se com a procura dos alunos por temas específicos em determinadas épocas do ano.

Atendendo a procura dos estudantes, foi aí que surgiu o projeto “MOMENTO LITERÁRIO DO DIA DA MULHER”, que se divide em três etapas: março, no Dia da Mulher, com leituras feministas; maio, no Dia Estadual do Livro, com literatura brasileira e estrangeira; e setembro, abordando o Setembro Amarelo.

Na ocasião, a professora destacou as leituras feministas e que valorizam as mulheres, organizado por um grupo de alunas, intitulado “Empoderadas”.

Entre os temas, a mulher na mídia jornalística, padrões impostos pela sociedade e o direito das mulheres.

As atividades incluíram uma semana dedicada à mulher, com debates e ações sobre feminismo. O projeto também foi apresentado em uma instituição de ensino privada e foi criada uma página no Instagram, o @vamosjuntaspatrulhenses, onde se trocam informações sobre segurança, autocuidado e empoderamento feminino.

“Temos certeza que essa sementinha foi plantada em muitos alunos. Sabemos que nos próximos anos, no mercado de trabalho, eles não vão aceitar imposições e abusos. O feminismo faz parte da democracia em sua essência. Todos precisam dele porque se trata de igualdade e cidadania”, expôs a professora Bianca Salazar dos Santos.

LIVROS QUE INSPIRAM: QUIXOTE: QUERER MUDAR SIGNIFICA ENXERGAR SOB OUTRO ENFOQUE
EEEM Professor Jacintho Silva – Cotiporã RS
Professoras Adriana Titon Balotini e Gisele Tafarel Marcholini

O livro Dom Quixote de la Mancha, do escritor espanhol Miguel de Cervantes, inspirou o projeto. Após um levantamento com os alunos, a obra foi escolhida por estimular a reflexão do olhar para o outro, para a realidade, os sonhos e objetivos de vida. Trata-se de um projeto interdisciplinar desenvolvido durante o ano inteiro.

“Nós percebemos que a escola é um espaço de movimento, de criação e produção. Existe a fé e a esperança no poder individual e coletivo de cada um”, disse a coordenadora pedagógica Adriana Titon Balotini.

Filmes e livros que inspiram a transformação social também foram trabalhados pelos projetos, como “O Menino que Descobriu o Vento” e a biografia “Eu sou Malala”.

Além disso, foram realizados concursos, palestras, esquetes teatrais, atividades de reciclagem e visitas para outras cidades, como o Parque Eólico de Osório, com a finalidade de aprofundar os conhecimentos sobre a obra.

LEITURANDO
Escola Municipal Conceição – São Sebastião do Caí RS
Professora Rita Cristiane Bender

O objetivo do projeto é estimular o hábito da leitura entre os alunos. Toda semana, o estudante é nomeado leitor e pode levar o livro para casa. No dia marcado, vai receber visitas de uma outra turma para quem contará a história. A todo momento, o protagonista é o próprio aluno.

“É o prazer de ler, de ser ouvido e valorizado. O aluno dá o melhor naquele momento. Temos um ótimo resultado já faz quatro anos. Eles pedem para ler. Eles leem porque gostam”, disse a professora Rita Cristiane Bender.

Notícias relacionadas

O CPERS lança, nesta segunda-feira (24), uma pesquisa destinada a …

24/03/2025

No segundo dia de reunião do Conselho Nacional de Entidades …

Enquanto o governador Eduardo Leite (PSDB) estampa um sorriso em …

21/03/2025

O Conselho Nacional de Entidades (CNE) da Confederação Nacional dos …