Minha velha mãe, a qual nasceu, viveu e morreu analfabeta, foi a melhor professora que eu tive em minha vida. Ela sempre dizia: “meu filho, contas claras conservam as amizades”. A frase não era dela, mas a transmissão oral a ajudou a se educar. A Carta que recebo em meu e-mail não carrega um conteúdo capaz de me fazer acreditar neste governo.
O diálogo era para ter começado no início do mandato. A construção das medidas encaminhadas para a Assembleia Legislativa, deveriam ter sido discutidas com transparência. O governo, agora embretado por sua falta de identificação popular, quer dialogar. Como dialogar com uma classe cuja língua foi arrancada e a dignidade subtraída? O que aconteceu que querem diálogo agora? Medo da unidade dos trabalhadores públicos?
Não estou aqui discutindo questões de preferências ideológicas, mas consternado diante da humilhação, desmoralização e abandono a que fomos submetidos. O Estado não nos respeita. A mídia não nos respeita, e, por consequência, a sociedade também não nos considera. O governo precisa saber o que minha mãe me ensinou e praticar a transparência. Precisa ver o funcionalismo público com parceiro na caminhada de desenvolvimento de um Estado politizado, de economia forte e empresas estatais com projeto de gestão que tenha cabeça, corpo e pernas, e que o Estado tenha o controle da lisura administrativa para evitar corrupção.
Nós, educadores, teríamos muito para colaborar uma vez que os governos tivessem a humildade de nos reconhecer como aqueles que enfrentam todos os dias o lado são e podre da sociedade. Não tenho como concordar com um governo que nos abandona e nos coloca a mais ultrajante humilhação, que impede que coloquemos comida na boca de nossos filhos. Nesta hora, o que mais precisamos em nossas vidas e profissão, é que o governo, mesmo que não tenha mesmo dinheiro, tenha a dignidade de sentar conosco e buscar juntos um jeito de evitar este tipo de constrangimento social.
A proposta, penso eu, deve nascer da colaboração humilde de parte do governo e do nosso guerreiro Magistério Público, o qual não está cometendo crime com a greve, mas tentando proteger seus filiados em sua dignidade. Um Estado forte só se constrói investindo em quem trabalha. Aqui tem sido o contrário, se retira investimento. Isso está errado. O governo precisa reconhecer seus equívocos. Seus melhores companheiros não são os membros de sua base, que precisam ser convencidos com base em cargos e dinheiro. Seus melhores parceiros estão lá protegendo o Estado, entregando sua vocação na área da saúde, da segurança e da educação.
Dizer que não tem recursos, não convence nem o louquinho que perambula pela minha cidade. Eu não acredito que não tenha dinheiro. Pode até não ter, mas a fragilidade dos argumentos deste governo não tem poder para me convencer. Transparência, diálogo, negociação, serenidade nunca deu dor de barriga em ninguém. A greve só vai parar a partir de negociação de princípios e compromissos claros. É um erro o governo ficar conclamando e pressionando os professores a retomar o trabalho. Não seja ingênuo, pelo amor de Deus!
Parem de ameaçar os pobres contratados que ganham menos que os garis que trabalham dignamente na minha rua. Hoje, para grande parte de nossos professores, varrer rua lhes daria maior respeito por parte do Estado e da sociedade atiçada injustamente pela mídia e pelo governo contra os professores. Se o governo quer um Estado forte, isso vai ter que ser conseguido conosco, funcionalismo público.
Professor Francisco P.L. Machado, do município de Tapejara