“Desde que entrei no Estado, tenho consciência de que se filiar é essencial pelo contexto em que vivemos e pelo significado histórico da luta coletiva e a importância da participação”, disse Yasmin Davila, professora de história contratada, gestante e mais nova sócia do CPERS, ao término do 3º Encontro do Coletivo de Juventude do Sindicato, neste sábado (8).
O ato simbólico de filiação de Yasmin enseja o próprio significado do evento: a renovação dos quadros sindicais, o fortalecimento da consciência de classe entre jovens educadores(as) e a oxigenação das lutas. O presente está grávido do futuro.
Por dois dias, profissionais da educação de todo o estado com até 35 anos de idade reuniram-se no CPERS para debater a realidade da escola pública e os desafios do movimento sindical. Em comum, a vontade de unir forças para superar as incertezas do período, marcado por ataques a direitos e a precarização do trabalho no chão da escola.
O segundo dia foi dedicado à avaliação da participação dos jovens no Sindicato, reflexões sobre o mercado de trabalho e considerações sobre como ter a presença mais efetiva dos jovens educadores(as) tanto na entidade quanto na categoria.
Mercado de trabalho
No início do Encontro, a economista e Mestre em Sociologia pela UFRGS, Mariana Hansen Garcia, apresentou os dados de sua pesquisa Jovens Trabalhadores e o Movimento Sindical: Percepções e Participação Sindical.
Ela expôs pontos que preocupam como o fato do desemprego e a informalidade entre os jovens. Cerca de 23% não estudam e nem trabalham, a rotatividade nos empregos é elevada, com alta transição entre diversas ocupações. Apenas 6% trabalham no que gostam e 79% pensam em um trabalho que gostariam de fazer.
Outro ponto discutido foi a descrença nas instituições, verificada através de fatores como a desconfiança na política tradicional. Em sua pesquisa, a economista mostra que apenas 54% acham que política é algo muito importante, 88% não participariam de partidos políticos e 59% não integrariam um sindicato.
“A política partidária é importante, mas precisamos pensar em como não afastar aqueles que ainda não têm a compreensão disso. Há ainda a falta de conhecimento sobre o que é um sindicato e como funciona. Tem uma zona cinzenta que precisa ser esclarecida através de movimentos de transparência e de aproximação”, ponderou Mariana.
Os jovens e o Sindicato
Na seqüência, o diretor do Departamento da Juventude do CPERS, Daniel Damiani, expôs o tema Dificuldades e Possibilidades da Sindicalização de Jovens no CPERS, baseado em sua pesquisa de pós-graduação.
O estudo aponta que situações como baixos salários, precarização e desemprego, aliados à narrativa liberal e individualista – que vende a ideia de que todos devem ser empreendedores -, contribuem para o afastamento dos jovens do movimento sindical.
Mas os números não corroboram o senso comum. Embora a quantidade de educadores(as) com até 35 anos tenha caído acentuadamente – uma redução de 29% entre 2011 e 2019 -, a taxa de sindicalização entre trabalhadores(as) da mesma faixa etária cresceu, passando de 30,92% para 32,3% no mesmo período.
Mas o crescimento não compensa a perda em números absolutos, e hoje há menos jovens associados. “Em contraponto, verifiquei que, em geral, gostamos da nossa profissão, apesar de todos as dificuldades. Isso nos difere no mercado de trabalho”, apontou Damiani.
“Enfrentamos os mesmos problemas que os demais sindicatos no mundo do trabalho como a precarização e os baixos salários. A nossa diferença é que temos uma identidade muito grande com o nosso trabalho, a maioria de nós gosta do que faz. O baixo número de jovens na categoria é um problema que está além do Sindicato. Não há como evoluir na sindicalização de jovens sem a valorização profissional da categoria, através de concurso público e melhoria salarial. Precisamos lutar por isso’, concluiu.
Organizar a luta
Os participantes também construíram colaborativamente os próximos passos do Coletivo, avaliando os principais desafios e ações necessárias para superá-los, além de debater o planejamento do ano para o Departamento de Juventude.
Entre as medidas sugeridas, constam um maior engajamento dos jovens nos espaços do Sindicato, reuniões mais frequentes do Coletivo, valorizar a história do CPERS, elaborar novas abordagens discursivas para atrair jovens, qualificar a comunicação e, em especial, investir na formação política de jovens educadores(as).
A mestre e doutora em Educação, Fernanda Paulo, concluiu a programação trazendo Paulo Freire ao debate e apresentando a atualidade de sua teoria para as perguntas que povoaram o encontro.
“Como ter consciência de classe, como trabalhar com colegas que estão desacreditados e não querem correr o risco de perder o emprego? Freire contribui para isso pensando a ousadia como método. Temos uma história de mais medo do que ousadia. Não existe pedagogia revolucionária sem luta, sem ação. Não é possível idealizar um outro mundo possível sem ir para a rua e ocupar espaços”, disse.
“Por isso um lugar potente dos sindicatos é disputar conceitos e sentidos políticos. Debater a concepção de currículo, de sujeitos, de escola e de sociedade para a construção de uma educação realmente popular”, concluiu.
Acesse aqui a apresentação da pesquisa Dificuldades e possibilidades da sindicalização de jovens no CPERS Sindicato