Projeto de música da ETE Senador Ernesto Dornelles mostra a qualidade da educação pública


Frequentar aulas de música, gratuitamente, na própria instituição está longe de ser a realidade na imensa maioria das escolas públicas gaúchas. Mas, na ETE Senador Ernesto Dornelles, em Porto Alegre, este cenário é real. Não por ações do governo, mas por iniciativa de alunos(as) e da direção da escola.

Desde maio deste ano os estudantes participam do projeto “Música na Escola” e já realizaram diversas apresentações.

Diariamente, após o término das aulas, o estudante do curso técnico de Design de Interiores, Mário Mantovani, tocava o teclado doado por uma ex-professora. Vendo o talento do aluno, a diretora da escola, Isabel Lopes, sugeriu uma apresentação na festa de 76 anos da escola. Junto a outros estudantes, Mário realizou a apresentação e após isso vieram alguns convites para que o grupo se apresentasse fora da instituição.

Este foi o pontapé inicial para que Mário apresentasse o projeto à direção solicitando que fosse realizado na escola. A diretora abraçou a ideia e desde maio sete estudantes ensaiam no local.

“Ele propôs chamar os colegas que tocassem algum instrumento. E na festa de comemoração dos 76 anos da escola lá estavam eles ainda tímidos, em sua primeira apresentação. Eles já realizaram diversas performances, inclusive para um público com quase 500 pessoas. É lindo ver que eles sempre querem fazer melhor”, relata a diretora Isabel Lopes.

“É um projeto musical cultural dentro da escola, que tem como objetivo colaborar com a instituição apresentando conteúdo musical e cultural através da música usando os talentos existentes. Muitos têm instrumentos, sabem tocar mas não tinham oportunidade”, explica Mário.

“Quando vi o projeto concretizado, acontecendo mesmo, eu me senti realizado. É muito bom quando vemos algo que planejamos acontecendo na prática”, diz Mário.

O estudante, que toca teclado, bateria, violão e guitarra, já está pensa futuramente disponibilizar oficinas. Por enquanto, o projeto é oferecido aos alunos(as) que já possuem algum instrumento e saibam tocar. “No momento, fazemos os ensaios com a banda que montamos. Mas meu objetivo é ampliar o projeto, oferecendo oficinas para ensinar outros estudantes a tocar algum instrumento e , a curto prazo, melhorar a qualidade do grupo, ensaiando mais para apresentar um conteúdo cada vez melhor. No segundo semestre faremos uma nova chamada para alunos que queiram participar”, afirma.

“Mesmo sem verba pública para investir no Projeto, nem condições para ensaios, pois a música infelizmente não faz parte do currículo de formação dos estudantes, estaremos juntos dando o apoio e o incentivo que eles merecem”, incentiva Isabel.

>> Confira no vídeo trechos de apresentações do projeto “Música na Escola”:

Arte que inspira e transforma

Elisabete Sophia, aluna do 2º ano do Ensino Médio, toca flauta transversal no projeto e conta que no início teve um certo receio de participar, mas que hoje sente-se realizada. “Tinha vergonha, mas meus amigos me incentivaram. Foi uma das melhores coisas que fiz. Na escola, quase não se vê essa parte da cultura. Em pouco tempo já conseguimos nos apresentar na escola e em outros lugares. Sermos aplaudidos pelo nosso esforço é muito especial”.

Para Renan Ferreira, que está no 1° ano do Ensino Médio e toca guitarra e baixo, a iniciativa é um incentivo para que os estudantes possam expor seus talentos. “Despertou o interesse dos alunos e incentivou a exporem seus dons. Eu adoro tocar. Não imaginava que em tão pouco tempo já teríamos feito apresentações e lives. Antes eu ia de casa para o colégio e do colégio para casa e agora temos a banda. Estou amando”.

A diretora da Comissão de Educação do CPERS e tesoureira do Sindicato, Rosane Zan, teve a oportunidade de conhecer o talento dos alunos(as) em uma atividade da escola.

“Projetos como esse reafirmam que a escola pública tem muita qualidade. Apesar de todo o descaso e desafios que enfrentam, educadores e estudantes realizam ações que nos enchem de orgulho e que deveriam ser reconhecidas e incentivadas pelos governos que aí estão”, destaca Rosane.

Para o CPERS, iniciativas como a da escola Ernesto Dornelles são essenciais para o fazer-pedagógico no chão da escola. Promover ações que façam com que o educando confie em suas potencialidades e, apesar de uma realidade social cruel, possam acreditar que é possível mudar sua qualidade de vida através do trabalho desenvolvido na escola. 

Sair do convencional, do decorar conteúdo, faz com que os alunos(as) sejam agentes de construção, buscando conhecimentos que sejam do interesse deles e por conta disso participem mais ativamente do dia a dia das aulas. 

O Sindicato luta pela valorização dos projetos político-pedagógicos de cada instituição educacional e da necessária relação currículo-docência, que deve sempre afirmar a natureza e o caráter público, gratuito, laico, inclusivo e democrático na escola pública.

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