#NovembroAntirracista: CPERS mobiliza trabalhadores na luta por uma educação sem racismo


Desconstrução de estereótipos e preconceitos, além de fortalecimento da identidade negra. Estes foram alguns dos objetivos do Encontro de Formação do Coletivo Estadual de Igualdade Racial e Combate ao Racismo do CPERS, que se reuniu na sede do Sindicato, em Porto Alegre, nesta segunda (20) e terça-feira (21), para debater os próximos passos da luta por uma educação sem racismo em todo o Rio Grande do Sul.

A Lei 10.639, que completa 20 anos e estabelece as diretrizes e bases da educação nacional para inclusão no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira” e a Lei 14.723/2023, que atualiza a Lei de Cotas no Ensino Federal e prevê a reserva de vagas nas universidades federais e instituições de ensino técnico de nível médio federais para negros, indígenas, pessoas com deficiência, estudantes de escolas públicas e, agora, também para quilombolas, estiveram no centro do debate.

No primeiro dia de atividades, na segunda-feira (20), Dia da Consciência Negra, os representantes dos núcleos do Sindicato debateram as ações em andamento e a sua participação na Marcha Independente Zumbi Dandara 2023.

Na abertura do evento, Edson Garcia, 2º vice-presidente do CPERS e coordenador do Coletivo Estadual de Igualdade Racial e Combate ao Racismo do Sindicato, apresentou o objetivo do Coletivo. “Esse grupo não tem partido ou correntes, porque ele não é para desunir; transitamos em todos os meios na luta por uma causa só. O objetivo é mudar a educação das mais de 2 mil escolas que temos no estado. Por muito tempo fomos invisibilizados, mas hoje temos consciência da nossa importância”, destacou o educador.

Edson também apresentou uma retrospectiva de como o Coletivo se formou, ainda em 2015. “O Coletivo nasceu como política na nossa primeira gestão. Temos aqui algumas pessoas que estão desde a sua construção e é muito importante que vocês continuem esse trabalho nos núcleos, para a nossa causa avançar. Muito me honra estar à frente desse coletivo”, ressaltou.

A presidente do CPERS, Helenir Aguiar Schürer, parabenizou os presentes e Edson pela coordenação do grupo. “Muito nos orgulha o coletivo antirracista que temos no CPERS. Nosso Sindicato é referência nacional neste quesito”, observou Helenir.

O combate ao racismo é diário

Para o CPERS, o compromisso com a mudança social e a promoção de um estado mais justo e equitativo perpassa as questões do racismo. Por isso, entendemos que essa luta precisa ser diária, abrindo assim caminho para um Rio Grande do Sul mais justo e unido, onde todos sejam valorizados e respeitados, independentemente de sua origem étnica.

Para Edson, o combate ao racismo deve estar em todos os espaços. “O racismo no Brasil é estrutural, mas aqui, através das nossas ações, nós estamos desconstruindo ele todos os dias. O combate ao racismo é uma pauta permanente, pois ele se reinventa, se nós não nos unirmos, não refletirmos, não avançamos”, frisou.

Durante o encontro, a diretora do 13º Núcleo do CPERS (Osório), Marli Aparecida de Souza, relatou a importância de denunciar casos de racismo e os aprendizados que teve com o Coletivo. “Quando aconteceu comigo, eu chamei a polícia. O inspetor chegou e pediu para alguém testemunhar e ninguém queria. Na delegacia, a pessoa que me atendeu, me desestimulou a fazer o B.O., mas mesmo assim eu fiz. Eu sofri muito com racismo, mas foi aqui no CPERS que eu me empoderei. Por isso, o Sindicato e o Coletivo são muito importantes para mim”, finalizou Marli.

A tesoureira do 24º Núcleo (Pelotas), Ana Paula Rosa, relatou sobre a criação do Coletivo no 24º Núcleo, intitulado “Mestre Griô Sirley Amaro”, no dia 25 de julho deste ano. “Nosso próximo passo será uma formação”, ressaltou.

O Quilombismo e o Movimento Quilombista Brasileiro

O professor de história, Waldemar Moura Lima, conhecido como Mestre Pernambuco, é ativista social e uma liderança no movimento quilombista, que tem como base a mobilização da população negra a partir de suas próprias origens culturais e históricas.

“O quilombismo, ou vocês têm dentro de si, ou não têm. O quilombismo é uma doação ao outro, é uma filosofia de vida”, externou.

Mestre Pernambuco apontou ainda que a sociedade vive numa grande escravidão. “Todos nós somos escravos do sistema. Escravo, não na maneira simbólica da palavra. Somos escravizados pelo sistema, ele que determina o que temos que fazer”, reforçou.

Para ele, ser antirracista exige pressão e unidade. “Fazer a crítica é fácil, mas vir para Porto Alegre fazer a luta é difícil. Na mobilização contra o racismo há uma necessidade de ação que exige duas coisas, atitude e desconforto e ninguém quer o desconforto”, afirmou Pernambuco.

Segundo o ativista, é doloroso o negro reconhecer a sua negritude. “Somos induzidos a ser inferiores, dizem que nosso cabelo é ruim. A forma que somos violentados desde pequenos fez com que seja muito difícil um negro olhar para um branco na mesma altura. O negro sempre abaixa a cabeça. Por isso, temos que ir atrás da nossa história, conhecer as nossas raízes. Precisamos entender quem somos e que papel desempenhamos nessa sociedade”, concluiu.

A população negra no mercado de trabalho e o uso das pílulas antirracistas

A secretária de Combate ao Racismo da Central Única dos Trabalhadores(as) (CUT) do Rio Grande do Sul, Ísis Garcia, explanou sobre “Pílulas Antirracismo”, uma campanha da CUT, que inclui vídeos e cards que buscam a conscientização e o despertar, não só da classe trabalhadora, mas de toda a sociedade brasileira sobre a luta antirracista.

“Esse processo de desacomodação é lento e pedagógico.  As pílulas têm o objetivo de ampliar a reflexão sobre como o racismo se estrutura e se perpetua no cotidiano das pessoas até os dias de hoje”, reforçou Ísis.

A secretária destacou que pessoas não pretas não têm culpa do racismo acoplado na sociedade, mas que o processo de combate ao racismo exige comprometimento e empatia. “Vivemos em um sistema racionalizado, que distancia as pessoas por terem a cor de pele diferente. Não é culpa o que queremos, é comprometimento daqueles que não vivem com a cor da nossa pele”, refletiu

A secretária afirmou que os sindicatos têm um importante papel no combate ao racismo. “A gente precisa de espaços como esse aqui para que mudemos essa triste realidade. Nós, juntos, olhando dessa forma fraterna e comprometida, é o que nos dá forças para continuar o trabalho”, finalizou.

No fechamento do 1º dia de encontro, as(os) educadoras(es) do Coletivo, juntamente com o Mestre Pernambuco, cantaram a versão do hino riograndense apresentada pelo Movimento Negro Quilombista Brasileiro, em um momento em que se debate no parlamento gaúcho algumas estrofes de cunho racista contidas no hino do Rio Grande do Sul.

A música foi ressignificada: a troca por “foi o 20 de novembro o precursor da liberdade” e “povo quando é traído, acaba escravizado”, representa a ação crítica contra a imutabilidade dos símbolos estaduais.

52ª edição da Marcha Independente Zumbi Dandara

Logo após, os participantes da atividade somaram-se à 52ª edição da Marcha Independente Zumbi Dandara, com o tema “Poder para o povo preto, nossa identidade gaúcha e pelo direito à cidade”. A atividade teve concentração, na Esquina Democrática, em Porto Alegre, e culminou até o Largo do Zumbi.

O encerramento do segundo dia do encontro, realizado nesta terça-feira (21), contou com a apresentação do espetáculo “Lanceiros Negros – a história que não é contada”, do grupo Brasil Estrangeiro.

>> Confira abaixo as fotos da Marcha e dos dois dias de formação do Coletivo: 

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