Mulheres educadoras se reúnem em Brasília para avaliar as políticas de igualdade de gênero no país


Nesta quarta-feira (22), mulheres sindicalistas das entidades filiadas à CNTE, de 19 estados e do Distrito Federal, reuniram-se na Chácara do Sinpro, em Brazlândia (DF), para o primeiro dia de reunião do Coletivo de Mulheres da Confederação. A secretária-geral do CPERS, Suzana Lauermann e a diretora, Vera Lessês, integrantes do Departamento de Gênero e Diversidade do Sindicato, participam da atividade.

O encontro, que se encerrará nesta quinta-feira (23) e é coordenado pela secretária de Relações de Gênero da Confederação, Berenice Jacinto, tem o objetivo de debater a atual conjuntura de políticas para as mulheres e esclarecer o papel das educadoras na defesa e fortalecimento das pautas de gênero na sociedade.

Durante a mesa de abertura do evento, a secretária Geral da CNTE, Fátima Silva, destacou que o coletivo também acontece em um momento simbólico de 21 dias de resistência e luta contra a violência de gênero, referindo-se ao período dedicado ao Dia Internacional de Erradicação da Violência contra a Mulher (25/11) e ao Dia Nacional de Mobilização dos Homens pelo Fim da Violência Contra as Mulheres (6/12). Segundo ela, esse é um crime multifacetado e que ainda afeta muitas mulheres em todo o mundo, principalmente pela falta de políticas públicas que garantam uma maior proteção.

“É triste não podermos considerar a violência gênero como uma página virada. A cada dia, estamos vendo o aumento de casos, principalmente de crimes de feminicídio. Mas é preciso entender que, por trás de cada vítima de feminicídio estão as consequências da ausência do estado e de ações que não conseguiram evitar o crime”, lamenta.

Para a secretária de Finanças da CNTE, Rosilene Corrêa, o período das eleições municipais de 2024 tornam ainda mais necessário o debate e a organização das mulheres sobre suas pautas. “É preciso entender que, apesar de termos hoje um Ministério Das Mulheres e um governo com olhar de perspectiva sobre nós, as coisas ainda não estão resolvidas”, ressaltou. “Como educadores sindicalistas, temos uma responsabilidade ainda maior de estar cada dia mais fortalecidos, para que, de fato, possamos derrotar o cenário de fundamentalismo e conservadorismo do nosso país”, concluiu.

“Temos um desafio de enfrentamento muito grande, não só ao machismo e à misoginia, como também ao racismo. Os debates que fizemos hoje trazem em pensamento a Conae 2024 e a Conferência de Mulheres, sempre fazendo a alcunha de vencer, de enfrentar e disputar a política de gênero, levando em consideração o recorte de raça e classe social”, ressaltou Berenice.

Ministério da Mulher

“Reconstrução das políticas sobre escombros”. Foi assim que a professora e pesquisadora Olgamir Amância definiu o trabalho feito pelo Ministério das Mulheres no atual governo. Segundo ela, apesar do órgão ter trazido consigo condições de esperanças, colocando a mulher como tema central de debates, ainda existem desafios que afetam a permanência e a resistência de trabalho do órgão.

“O Ministério das Mulheres tem sido reconstruído sobre bases extremamente conservadoras e difíceis. Não é uma tarefa qualquer, e nós da educação temos a obrigação de olhar para essa realidade através de muitas lupas, e não só por aquilo que nos apresenta à primeira vista”, enfatizou Olgamir.

Em um retrospecto sobre as conquistas políticas femininas, ela ressaltou que todos os direitos se deram graças à trajetória histórica de organização das mulheres e de ampliação da democracia. Contudo, levando em consideração a realidade do governo anterior, mencionou que a eleição democrática do governo Lula se deu em um contexto difícil e com um campo parlamentar que ainda é desfavorável às políticas da agenda feminina. “A misoginia não desapareceu com o governo democrático”, afirmou.

Para a secretária Nacional de Articulação Institucional, Ações Temáticas e Participação Política do Ministério das Mulheres, Carla Ramos, além do enfrentamento às violências de gênero e a luta pelos direitos, o papel da sociedade em refletir sobre essas políticas é mais um desafio a ser enfrentado. “A compreensão também é uma ruptura que nós mulheres precisamos fazer. É preciso refletir como estamos organizadas socialmente e como isso tem nos impactado”, afirmou.

Para fazer essa ampliação do discurso, Carla mencionou ser necessário ter mais secretarias municipais e estaduais na interlocução das pautas pelo país.

Papel de defesa por educadoras

Olgamir destacou ainda o desafio das educadoras em levar para dentro das escolas os debates sobre as desigualdades que existem na sociedade, em particular, as desigualdades de gênero, como forma de fortalecer essas discussões na sociedade através dos estudantes.

Para isso acontecer, ela ressaltou a necessidade de uma mudança na formação conservadora e fragmentada dos professores. “É preciso superar isso e entender que a formação vai além da dimensão técnica. Tem que ser trabalhada a formação mais humana e crítica da realidade, para que os estudantes possam se questionar também sobre a realidade em que vivem”, declarou.

Cor e gênero

Trabalhando o recorte de gênero e cor, a secretária de Promoção da Igualdade Racial dos Povos das Comunidades Tradicionais da Bahia, Daniele Costa, apontou sobre a importância de debater sobre as pautas femininas olhando, também, para o lado racial.

“São diversos os temas que necessitam a inclusão de gênero e raça no debate. Isso permite que tenhamos como sair de uma “abolição inacabada” para, de fato, efetivarmos direitos sociais e trazermos a grande maioria que constrói o dia a dia desse país, a partir das políticas de democratização de acesso”, afirmou Daniele. Para ela, pensar em políticas públicas a partir do conceito de interseccionalidade fortalece a perspectiva de uma igualdade racial.

Fonte: CNTE

 

Notícias relacionadas