A situação do colégio Julinho foi descrita no Radar do CPERS sobre a Realidade das Escolas da Rede Estadual do Rio Grande do Sul 2025 e apurada detalhadamente pelo Sindicato.
Todo dia, as(os) 980 estudantes e 100 trabalhadoras(es) do Colégio Estadual Júlio de Castilhos, em Porto Alegre (39º Núcleo), precisam lidar com a falta de ar condicionado, a insuficiência de funcionárias(os) e o risco de furtos e arrombamentos. Atualmente, a escola possui aparelhos de climatização apenas em áreas administrativas, além de contar somente com um guarda e quatro auxiliares de limpeza para cuidarem de uma extensa área educacional.
Diante dos diversos problemas de infraestrutura da instituição, o governo de Eduardo Leite (PSDB) deu ordem de início, em fevereiro, à obra que será executada por uma empresa do Ceará, que já possui histórico de reformas atrasadas e inacabadas. Conforme o previsto, o mesmo cenário tem se repetido no Julinho. “Temos observado uma série de percalços: não concluíram o isolamento do tapume, deixaram água vazando ao retirar as hidras do banheiro e ainda não mexeram no telhado, que é o principal problema da escola”, explica o vice-diretor do CE Julio de Castilhos, Daniel Damiani.
Nas redes sociais, o governador publicou um vídeo celebrando o investimento milionário na escola, entretanto, mantém silêncio quanto à realidade material de sua administração. “Ficam desfilando funcionários por aqui, mas muito pouco da obra tem sido feito”, conta Damiani. Mesmo que a restauração do Julinho esteja sob responsabilidade de uma companhia que venceu a licitação, é papel crucial das secretarias de Obras e de Educação fiscalizarem o cumprimento do serviço prestado e fazerem a pressão necessária por agilidade e qualidade no trabalho que foi encarregado ao licitado. Afinal, trata-se de dinheiro público e de uma das instâncias mais fundamentais do compromisso do Estado: a educação.
Conforto térmico é demanda emergencial
Enquanto a reforma se arrasta, a crise climática avança. Durante as ondas de calor extremo no verão deste ano, as quase mil pessoas que frequentam o CE Julio de Castilhos diariamente precisaram enfrentar temperaturas acima dos 35°C sem climatização. “Tivemos professores reclamando de mal-estar e faltando, muitos alunos também deixaram de vir. Medimos os graus nas salas de aula no final da manhã e início da tarde e onde tinha incidência direta do sol estava acima de 40 °C, nas salas com cortina chegava a 37 °C”, relata o vice-diretor.
Quando o Sindicato visitou a escola para fazer fotos, nesta segunda-feira (24), os termômetros na capital indicavam 29ºC e já era desconfortável circular pela instituição. Hoje em dia, o Julinho tem aparelhos de ventilação apenas em áreas administrativas e em uma sala multimídia, que é de uso das(os) alunas(os). De acordo com Damiani, o ideal, seriam 64 aparelhos, dois por sala.
Insegurança no prédio e escassez de profissionais
Fora a falta de cuidado do governador com o bem-estar das(os) educadoras(es) e das(os) estudantes, Leite também não preza pela salvaguarda do patrimônio do colégio. Há 3 anos, entraram pela janela e roubaram carne do refeitório, há 2 anos, furtaram fios no segundo andar do Bloco B e cinco aparelhos de ar condicionado e, em 2024, furtaram Chromebooks e televisores. Ou seja, o problema de insegurança é de longa data, persiste e ainda não foi solucionado.
“Uma escola do tamanho do Julinho precisa de mais guardas, precisa de um sistema mais eficiente de monitoramento com câmeras e alarmes. Na praça na frente da escola, muito raramente existem policiais da Brigada Militar”, expõe o vice-diretor.
Parte da fragilidade da vigilância da escola está atrelada ao desinteresse do governo estadual em abrir concurso público e incorporar mais servidoras(es) ao quadro de funcionárias(os) do estado. O vigia Vinicius de Almeida é o único responsável pela proteção da instituição e tem cumprido uma jornada exaustiva, trabalhando 12 horas por três dias seguidos e folgando um.
A sobrecarga de trabalho, conjuntura alarmante das(os) profissionais da rede estadual de ensino, se estende a toda categoria no Julinho. No turno da manhã, há somente duas monitoras para dar conta de três andares de sala de aula e de um pátio grande. Segundo Damiani, a equipe diretiva acaba somando esforços nas áreas externas da escola para assegurar a atenção necessária às(aos) educandas(os). Ainda, somente quatro auxiliares de limpeza zelam pelo ambiente. “Necessitamos de, no mínimo, mais dois para não sobrecarregar os que temos”, informa.
A realidade do CE Julio de Castilhos, tão discrepante da mídia publicada por Eduardo Leite e pela Secretaria de Educação, é uma constante em diferentes escolas estaduais do Rio Grande do Sul. Redes elétricas defasadas, telhados com goteiras, insuficiência de recursos humanos e educadoras(es) exaustas(os). Assim como em instituições de ensino de outros municípios, o Julinho é a prova de que quem mantém a escola pública de pé são as(os) trabalhadoras(es) da educação. O CPERS reafirma seu compromisso com a denúncia do que o governador e seus aliados desejam manter debaixo dos panos. Por melhores condições de trabalho, por reconhecimento salarial e por uma escola pública de qualidade!