No último dia 14, a EEEF Carlos Chagas, de Viamão, completou 59 anos. Na data que seria de comemoração, a direção da escola recebeu da 28ª Coordenadoria Regional de Educação (CRE) o comunicado sobre a possibilidade de fechamento da instituição.
A professora Cássia de Souza Fay, que atua há mais de 16 anos na escola, relata que no dia 13 de julho a diretora Fábia Borcelli Olle foi chamada na Coordenadoria, onde comunicaram sobre o fechamento e que os prédios deveriam estar disponíveis já em agosto.
“Ela conseguiu que a escola permanecesse aberta até o final do ano, pois estamos com nossos alunos no modo presencial e remoto”, explica.
Como ex-aluna e professora, ela se diz inconformada em ver que pode desaparecer uma escola que formou gerações de cidadãos. “Eu sempre me dediquei para dar o melhor aos meus alunos. Hoje eu me sinto triste e frustrada ao ver a atitude dos governantes.”, lamenta.
Diante das dúvidas e insegurança quanto ao futuro da escola, a educadora questiona. “De onde os municípios irão tirar os recursos para suprir os custos que antes eram do Estado? A qualidade do ensino será a mesma? Irão lotar as salas de aulas? Farão concursos para chamar novos professores ou usarão os mesmos métodos do Estado, contratos temporários? E o patrimônio do estado será doado ou uma concessão para o município?”.
Segundo ela, nos próximos dias será realizada uma reunião com a comunidade escolar para comunicar a situação.
Insegurança e preocupação
A auxiliar administrativa, Ana Cristina Silva Pinheiro, 39 anos, foi aluna da Carlos Chagas e hoje, sua filha, Luísa Helena, cursa a 1ª série no local. “Foi uma experiência que ficou na memória porque sempre nos ensinaram com atenção e amor. Sei da luta e dedicação de todos para mantê-la em funcionamento, mesmo com dificuldades”, observa.
Conforme ela, a comunidade escolar tem uma boa relação com a escola e os pais estão extremamente preocupados quanto ao possível fechamento. “Não vamos ficar de braços cruzados esperando o pior acontecer. Nossa vontade e opinião têm que ser levadas em conta, pois sem a educação ninguém chega a lugar nenhum.”
Para o educador social Adriano Steinmetz Costa, a questão vai muito além do fechamento da escola. “É uma chaga que se tenta abrir no peito da comunidade que, há 59 anos constrói diariamente ali, uma história de amor, educação e superação”, afirma.
Passaram pela Carlos Chagas a esposa e a filha mais velha de Costa. Agora, seu filho caçula começa a descobrir ali o mundo das construções cognitivas. “É uma lástima que o caminho se construa assim, sem diálogo com a comunidade, com as mães e os pais que depositam tanta fé e tanto respeito na escola”, pondera.
“Quantas vezes os senhores e senhoras que estão à frente desta empreitada de municipalização levaram em consideração as pessoas? Vemos falar de prédios, de estruturas políticas, de acertos entre entes federados, mas as pessoas e suas necessidades, as famílias e suas vidas, me parecem, são meros peões neste jogo.”
CPERS quer explicação do governo e da prefeitura
O tesoureiro do 22° núcleo (Gravataí), Jussemar da Silva, recorda que essa não é a primeira escola da cidade a enfrentar ameaça de fechamento e municipalização. De acordo com ele, as instituições Caldas Júnior, escola rural Liberato Salzano da Cunha e Ana Jobim também passaram pela mesma situação. “Agora estão tentando fechar a Carlos Chagas, uma escola que tem uma história muito forte com a comunidade da Santa Isabel.”
Logo após ser informado pela diretora da instituição sobre a possibilidade de fechamento, Silva foi visitar o local.
“Constatamos excelentes espaços físicos e ótimos equipamentos na sala de informática. Biblioteca, salas de aula e demais espaços em perfeitas condições. A escola presta um ótimo atendimento, por isso não entendemos a razão de fechamento por parte do governo do estado em parceria coma prefeitura”, indaga.
O diretor também ressalta que a instituição possui um número bastante expressivo de alunos com necessidades educacionais especiais e que são atendidos com muita dedicação pela equipe.
“Estamos buscando junto ao governo e à prefeitura uma reunião para ver quais as razões que eles apresentam para o fechamento, o qual consideramos injustificável. Seguiremos acompanhando de perto toda a situação”, afirma.