O segundo momento do Encontro do Movimento Pedagógico Latino Americano realizado hoje pelo CPERS, em parceria com a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação – CNTE, apresentou o painel Diálogo entre a universidade e a educação básica: realidade e desafios. Para analisar este cenário, especialistas na área da educação do Chile, da Argentina e de Porto Alegre apresentaram suas análises.
O primeiro a abordar a questão foi o professor Guilhermo Scherping, do CPC do Chile. O educador apresentou uma análise do panorama atual da educação no Chile e avaliou a educação básica no país, a qual chamam de mundo escolar, e a educação superior.
Segundo ele, está em debate hoje no Chile a formação de docentes, principalmente do ensino médio, que em todo continente se encontra em crise. “Hoje, não representa nem as necessidades do país, nem as dos estudantes. O Chile foi um grande experimento do neoliberalismo. O terrorismo do estado se instalou, foi perdida a escola pública, entregue aos municípios. Hoje, procuramos recuperar essa escola. Há um projeto de lei no Congresso para que a escola pública retorne ao estado”, explicou.
O professor destacou que existe um absoluto divórcio entre o mundo escolar e a educação superior. Ou seja, onde se formam os docentes não há relação com o mundo escolar.
Atualmente, está em debate no Chile a reforma da educação no Ensino Médio. “Nós, os docentes, temos que ser autocríticos. Temos também que discutir o que a unidade sócio educacional, o que vamos fazer com ela. A Mostra Pedagógica do CPERS demonstra saber e pensamento pedagógico, isso é ótimo”, afirmou.
Segundo ele, é pensar nos docentes do ensino médio como especialistas em juventude. Essa é a primeira expertise. “Não somente conhecer a juventude, mas saber como podemos desenvolver ao máximo suas potencialidades. Vamos dar possibilidade de desenvolvimento ou vamos limitar nossos alunos?”,questionou.
O futuro da educação pública na Argentina e no Brasil
A representante da Federação Nacional dos Docentes Universitários – CONADU/Argentina, Yamile Solovski, observou que a universidade dificilmente pensa nela mesma como um espaço que precisa de reflexão crítica, sobre suas práticas pedagógicas e seus sentidos políticos.
Yamile analisou também que a universidade chega tarde ao mundo sindical e que isso tem a ver com o lugar onde esta a docência universitária, com condições de trabalho. “Não é só um problema do desenvolvimento da consciência de classe, mas também com as condições em que se desenvolvem as universidades. Esse desencontro entre o mundo universitário e o mundo da educação básica tem a ver com uma diferença nas funções com o resto do sistema educacional”, ponderou.
Ela analisou que a educação básica é um direito, mas que não se pode esquecer que também existe o direito a educação universitária. “Isso obriga a modificar o ponto de vista de como vemos a universidade e nos ajuda a pensar nesse diálogo entre universidade e educação básica”, afirmou.
Em relação ao Brasil o presidente da Federação dos Sindicatos dos Professores e Professoras de Instituições Federais de Ensino Superior e de Ensino Básico Técnico e Tecnológico – PROIFES, Eduardo Rolim ( ADUFRGS-Sindical) abordou os aspectos políticos do painel. Para ele, a educação pública vive um momento de crise profunda. “O principal problema de hoje é que não sabemos o futuro da educação pública, tanto no ensino fundamental, quanto no médio e no superior”, afirmou.
Rolim observou as deficiências na formação dos professores de matemática, fisica e química e as dificuldades que os professores enfrentam diariamente dentro da sala de aula. Ele reforçou ainda que a reforma do ensino médio é uma maneira de emprobecer a capacidade intelectual dos estudantes.
O professor ressaltou que caso a PEC 55 seja aprovada, será o apontamento de um caminho de destruição do ensino público e da valorização do ensino privado. “Se não formos pras ruas convencer a sociedade sobre o que realmente é a PEC 55, eles continuarão acreditando no que olham na televisão e escutam no rádio. E esse é o papel fundamental de entidades como a CNTE e o CPERS no momento em que vivemos”, finalizou.