Ensino remoto e volta às aulas presenciais pautam audiência da Comissão de Educação


Nesta segunda-feira (15), a Comissão de Educação da Assembleia Legislativa realizou audiência Pública por teleconferência para debater as atividades escolares remotas no mês de junho e a possibilidade de retorno às aulas presenciais.  

Participaram do encontro diversas entidades representativas da educação no estado, além de pais, estudantes, professores(as) e funcionários(as) da rede pública. 

Novamente o secretário de Educação Faisal Karam foi convidado para participar da audiência, mas não compareceu e também não enviou representante. 

A deputada Sofia Cavedon, presidente da Comissão e proponente do encontro, relatou que a audiência foi convocada em razão do decreto do governo de 4 de junho, que estabelece a criação dos Centros de Operações de Emergência em Saúde para a Educação (COE-E).

“Falamos com o governo, sugerimos propostas e não obtivemos respostas, então agora acionamos o Ministério Público para que intervenha porque é inviável que esses protocolos não tenham a participação da comunidade escolar. Quem sofre, quem vive, quem faz a educação precisa ser escutado pelo governo”, afirmou Sofia. 

A deputada ainda ressaltou que nesse mês de junho o governo já colocou em curso diversas medidas como a retomada das aulas através da plataforma Google Class, desconsiderando a quantidade de professores que não conseguem acessar ou que não receberam qualquer tipo de capacitação. 

A presidente do CPERS, Helenir Aguiar Schürer, expôs preocupação com os relatos que vem recebendo da realidade das escolas, principalmente, com o aumento dos casos de COVID-19 entre professores, funcionários e equipes diretivas.

“Precisamos destacar que mesmo indo à escola seja uma ou duas vezes por semana, ainda é um risco voltar. Não temos testagem em massa no Estado e nem mesmo a checagem da febre está sendo realizada nas escolas. Não é possível a gente voltar na situação atual”, declarou Helenir. 

Descaso do governo 

Dentre as entidades que participaram da audiência nessa segunda, a maior parte relatou dificuldades de diálogo com o governo e o quanto a sua não participação nestes encontros expõe o desinteresse em ouvir a comunidade escolar no momento da tomada de decisão. 

Além dos deputados(as) da Comissão de Educação e da direção central do CPERS, a audiência contou com representantes de entidades como UNDIME, UMESPA, UGES, Sinpro/RS, Movimento de Escolas Privadas da Educação Infantil e ASSERS. 

Gê Minhos, estudante e Presidente da União Gaúcha dos Estudantes Secundaristas – UGES, relatou que tem buscado audiência com o Secretário Faisal quase que diariamente nas últimas duas semanas e ainda não conseguiu apresentar as demandas dos estudantes neste período de pandemia. 

“Nós estamos sem um espaço para falar. O secretário sempre acha uma forma de fugir dos estudantes, nós que estamos entre os principais afetados por todo esse cenário, não temos com quem dialogar”, disse Gê. 

A realidade dos estudantes 

Durante a audiência, representantes de outras entidades representativas dos estudantes, além de alunos e alunas de escolas públicas gaúchas puderam expôr um pouco das suas angústias quanto ao retorno às aulas. 

Entre as principais dificuldades expostas estão o acesso às atividades remotas e o estado psíquico dos estudantes nesse período tão atípico. 

“Os impactos psicológicos dessa quarentena serão muito fortes em todos, imagina para os adolescentes. Eu tenho colegas que em abril já desistiram do ano letivo porque se sentiram desamparados. E o que o governo está fazendo?”, esse é o questionamento do Pedro Possa, estudante do ensino médio da Escola Parobé de Porto Alegre. 

Pedro está preocupado não só com o ano letivo, mas com a evasão escolar que está aumento e segue sendo ignorada pelos governantes. 

“Fico muito triste de hoje não poder expor a realidade do estudante do ensino médio de escola pública para o governo. Toda essa pressão deles vai levar diversos alunos a desistir da escola. Eu vejo muito se falar numa possibilidade de retorno às aulas, num contexto que a gente não está nem conseguindo estudar. Precisamos que o estado apresente políticas condizentes e sensíveis à realidade dos estudantes gaúchos”, desabafa o estudante. 

Thyago Rosa, também aluno do Parobé, aproveitou a preocupação do colega Pedro para admitir que ele mesmo já pensou em desistir do ano letivo em razão das dificuldades durante a pandemia. 

“Eu só não desisti em razão da minha família que não me deixa, mas eu vejo colegas que não tem nem internet e essa semana já surgiu mais uma dificuldade, percebemos que o site do governo não funciona pelo celular, só pelo computador e depois de muita insistência. Como vamos nos inscrever na plataforma sem nem acessar ela conseguimos?”, questiona Thyago.   

A presidente da UMESPA, Vitória Cabreira, relatou que no último mês a entidade realizou uma pesquisa em algumas escolas da capital e constaram que a maioria dos estudantes está enfrentado problemas para realizar as atividades remotas. 

“Na pesquisa verificamos que vários estudantes relataram que não conseguiam estudar, seja por condições econômicas ou até por questões de violência dentro de casa. A Seduc tenta culpabilizar os professores pelas dificuldades ao invés de demonstrar que os grandes culpados são um governo ruim que não cria planos para a educação. A gente precisa que o governo governe!”, enfatiza Vitória. 

Cabreira ainda relatou que se prepara para realizar o vestibular no fim do ano de 2020 e vê que suas incertezas são as mesmas de muitos outros estudantes secundaristas do estado. 

“Não sabemos o que vai ser do ano letivo de 2020, se vamos conseguir realizar o sonho de entrar na universidade e ainda vemos um secretário da educação que tira a nossa cadeira no Conselho Estadual de Educação. Estamos angustiados e sem um lugar de fala para dialogar sobre essas angústias”, complementa.

Retorno das aulas presenciais 

Durante a audiência desta segunda, diversas entidades relataram as suas preocupações com o retorno às aulas presencias e ao fim do encontro, quando se abriu a fala para os representantes das escolas estas preocupações só se confirmaram. 

Laila Ribeiro, professora e diretora da Escola Dr. José Carlos Ferreira, de Porto Alegre, contou algumas das dificuldades do período na sua escola. 

“Nem 10% dos nossos alunos têm acesso à internet. Estamos entregando as atividades impressas com agendamento para retirar. Utilizando nossos celulares pessoais para tudo isso e a Seduc vai para a TV dizer que as atividades remotas são muito bonitas, mas, na prática, os professores estão se expondo, indo na escola”. 

A professora ainda relata outra dificuldade, referente ao desencontro das informações fornecidas pelo governo. 

“Hoje chegou um e-mail dizendo que cada escola deve seguir com os seus métodos como era antes. Avisaram hoje! Nós podíamos ter planejado aulas, mas nos mandaram implementar o class room. Com toda essa confusão, essa semana os alunos vão ficar sem atividade”, conta Laila. 

Eloá Anraku, mãe de aluno da Escola Gentil de Alvorada, questiona como o governo pretende implantar os protocolos quando as escolas não possuem estruturas reais para tanto.

“Nós, pais das escolas estaduais também não somos ouvidos em momento algum. O Gentil, onde meus filhos estudam, é uma das maiores  escolas do estado, com quase 3.000 mil alunos. Nós temos só três funcionários que fazem a limpeza, temos dois supervisores para os três turnos da escola, como essas pessoas vão dar conta desses protocolos de retorno?”.

A diretora do CPERS, Sonia Solange Viana, que coordena o Departamento de Funcionários(as) do Sindicato, alertou que não há possibilidade de retorno das aulas e que fazer isso é colocar em risco a vida dos servidores das escolas. 

“Colocamos em reunião com o governo, na nossa realidade não tem funcionários suficientes para dar conta já do dia a dia das escolas, imagina dar conta dos protocolos impostos pelo governo”.

Buscando amenizar ao menos um pouco as angústias dos educadores(as) gaúchos, o Conselho Estadual de Educação – CEEd, lançou na semana passada um documento formulado pelo Grupo de Trabalho instituído pela Portaria CEEd nº 20/20, composto por representantes da SEDUC/RS, UNDIME/RS, UNCME/RS, FAMURS, SINEPE/RS e CEEd/RS. 

A presidente do CEEd, Marcia Adriana de Carvalho, explicou que o documento é fruto de reflexões, estudos e debates dos integrantes do GT e que pretende expressar preocupações com as questões pedagógicas e subsidiar o planejamento para uma possível reabertura do ensino presencial. 

“Precisamos de ações bem planejadas, que possam ser efetivamente implementadas pelas escolas e que auxiliem no enfrentamento desse momento de excepcionalidade. É preciso pensar nas distinções das escolas, mesmo sendo da mesma rede. Por isso dividimos o material em três frentes: o acolhimento, a avaliação diagnóstica e a relação com as famílias para participação no plano de ação pedagica”.

Marcia ainda complementa que somente levando em consideração essas questões é que se pode começar a pensar na possibilidade de reabertura das escolas.

“Precisamos pensar o acolhimento, não só dos estudantes, mas de todos os profissionais dos estabelecimentos de ensino. Essa pandemia trará impactos de todas as ordens e precisamos pensar na preparação desses profissionais para o recebimento dos estudantes. É preciso pensar também nas formas de avaliação. Como validar as atividades realizadas no distanciamento? Para o CEEd a validação só pode ser feita ao fim do período de isolamento. Inclusive, estamos elaborando uma normativa solicitando o acompanhamento das atividades domiciliares para saber qual a forma de registro, qual o controle da mantenedora, a preocupação agora deve ser não só com a qualidade, mas com a equidade”, enfatizou Carvalho.

Confira aqui a íntegra do documento “Indicativos Pedagógicos para a Reabertura das Instituições de Ensino no RS” lançado pelo CEEd.

A vice-diretora do Colégio Estadual Cândido José de Godói, de Porto Alegre, Clarice Dal Médico, lamentou que a Seduc não tenha participado do encontro para tomar conhecimento de todas essas dificuldades. 

“Nós estamos vivendo uma crise dentro de uma crise. Somamos cinco anos sem reajuste, anos de salário atrasado e ainda assistimos o desmonte da nossa carreira no início do ano. O governo está se eximindo da responsabilidade dele e agravando uma situação que já era grave antes”.

Clarice ainda questionou como o governo quer implantar um protocolo de segurança para retorno das aulas em escolas que antes mesmo já não tinham estrutura.

“Não existe protocolo que dê conta da realidade da escola pública. O ano letivo precisa ser repensado não só em razão da pandemia, mas repensar esse sucateamento, resultado da implementação de uma política liberal que quer privatizar a escola pública”. 

A educadora ainda complementa, “As escolas estão sozinhas, abandonadas, o protocolo diz uma coisa e a CRE e a Seduc dizem outra. Nós estamos vivendo uma crise uma humanitária que não se via desde a 2ª Guerra Mundial, como tu vai fazer um professor sair de casa e ir até a escola entregar atividade nessa realidade? Isso é coisa de um governo desumano que quer massacrar a educação”. 

Encaminhamentos

Ao fim da audiência, a deputada Sofia Cavedon se comprometeu em enviar as considerações dos participantes ao Ministério Público e buscar novamente audiência com o governo para expôr os relatos de pais, estudantes e educadores que participaram do encontro. 

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