Em um boletim especial, dedicado ao 1° de Maio, Dia do Trabalhador, o Dieese apresenta como a atual situação de precarização do mercado de trabalho e o aumento do custo dos alimentos, vividos em 2020, não são consequência apenas da crise sanitária mundial, mas também estão relacionados com o projeto econômico e político implementado após 2016.
> Confira a íntegra do boletim do Dieese aqui.
O estudo demonstra que a implementação das reformas trabalhista, previdenciária e do teto de gastos, medidas defendidas pelo governo Bolsonaro (sem partido) e seus apoiadores, entre eles o governador do Rio Grande do Sul Eduardo Leite (PSDB), intensificaram esses problemas.
Confira abaixo alguns dados preocupantes que demonstram o quanto a situação econômica do Brasil que já era grave, se intensificou com a pandemia.
Desalento e subocupação crescem após reformas
Desde que a reforma trabalhista passou a vigorar, no 4º trimestre de 2017, o número de desalentados e de subocupados por insuficiência de horas trabalhadas aumentou em 681 mil pessoas. Em 2020, o número de desocupados, desalentados e subocupados cresceu 3,5 milhões.
Ocupação aumenta puxada pela informalidade
Segundo dados do IBGE, no 4º trimestre de 2019, havia 3,5 milhões de ocupados a mais do que no mesmo período de 2017. Já 2020 registrou 8,4 milhões de ocupados a menos do que em 2019.
Porém, esse dado não significa uma melhora, visto que o aumento foi puxado principalmente pela informalidade. A quantidade de trabalhadores informais cresceu 5,1%, enquanto a de formais subiu apenas 1,6%, reflexo da reforma trabalhista.
Rendimento médio do trabalho caiu após o início crise do coronavírus
Em 2020 a massa de rendimentos mensal do trabalho caiu 6%, passando de R$ 217,8 bilhões para R$ 204,9 bilhões, o que significa R$ 13 bilhões a menos no bolso dos trabalhadores, todos os meses, e um menor volume de renda disponível para o consumo, o que dificulta a retomada do crescimento econômico.
8,9 milhões de pessoas estão sem trabalho, sem renda e sem perspectiva
No segundo trimestre de 2020, durante a pandemia de covid-19, muitos trabalhadores perderam suas ocupações.
A falta de perspectiva, a possibilidade de contaminação e a necessidade de isolamento social fizeram com que parte dessa população deixasse a força de trabalho, ou seja, muitos desses trabalhadores não saíram em busca de uma nova colocação.
Salário mínimo mal dá para os alimentos básicos
Após a decretação do fim da política de valorização do salário mínimo, o piso brasileiro começou a ser reajustado pela inflação oficial, mas, a partir de 2020, ficou até mesmo abaixo deste índice.
Com o aumento dos preços dos alimentos no último ano, o salário mínimo perdeu poder de compra.
Segundo dados da Pesquisa Nacional da Cesta Básica de Alimentos do DIEESE, em algumas das 17 capitais brasileiras, mais da metade do salário mínimo em vigor tem sido gasto com a compra dos alimentos essenciais necessários para uma pessoa adulta durante um mês.
Política de preços da Petrobras e fim do subsídio do gás de cozinha pioram condições de vida dos mais pobres
A partir de 2016 os valores dos combustíveis passaram a acompanhar os movimentos dos preços no mercado internacional. Desde então, os brasileiros começaram a sentir no bolso as oscilações que ocorrem no exterior.
Com o alto desemprego e a queda da renda, muitas famílias ficaram sem recursos para comprar, ao mesmo tempo, alimentos e gás e se viram obrigadas a usar lenha ou carvão para cozinhar.
Segundo o IBGE, 14 milhões de famílias usavam lenha ou carvão em 2019 (cerca de 3 milhões a mais do que em 2016). O número significa que uma, a cada cinco famílias brasileiras, cozinhava com carvão ou lenha.
Preços dos alimentos estão em alta devido às escolhas do governo Bolsonaro
Em 2020 a população brasileira enfrentou sucessivas altas nos preços dos alimentos. Esse cenário é resultado da drástica redução das políticas de fortalecimento da agricultura familiar, responsável pela produção de mais de 70% dos alimentos consumidos no país.
Outro fator que impulsionou o aumento dos valores de itens básicos da cesta foi o crescimento da exportação de itens alimentícios como arroz, carne bovina, óleo e grão de soja, milho, café e açúcar, impulsionado pela desvalorização do real diante do dólar.
Durante a pior crise sanitária dos últimos tempos, o governo Bolsonaro fragilizou a produção nativa, abriu as fronteiras para a exportação de grande parte das commodities aqui produzidas e esvaziou os estoques públicos reguladores.