A CUT-RS, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB-RS), o Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (CONIC-RS), o Movimento dos Sem Terra (MST-RS), a Cáritas-RS realizam, nesta quinta-feira (07), o 23º Grito dos Excluídos.
Lembrando a história da manifestação, que ocorre desde 1995 em todo o país, sempre no feriado da Independência do Brasil, o bispo auxiliar da Arquidiocese de Porto Alegre, Dom Adilson Pedro Busin, ressaltou o lema desta edição “Por direitos e democracia, a luta é todo dia”. Segundo ele, “neste momento atual de desesperança, a realização do Grito se torna muito oportuna”.
O bispo da CNBB disse também que nas ruas é possível “erguer a nossa voz e a nossa indignação. É um momento em que muitos excluídos se somam a tantos outros que já existiam. Por isso, neste dia 7, vamos caminhar, erguer a nossa voz e lutar por um Brasil melhor”.
Em seguida, o bispo da Igreja Episcopal Anglicana de Porto Alegre, Dom Humberto Eugênio Maiztegui Gonçalves, afirmou que o Grito é uma oportunidade das igrejas se somarem na defesa da democracia e dos direitos. “Após o golpe, as igrejas estão se manifestando de maneira muito contundente, pois estão retirando direitos básicos que garantem a dignidade humana”, declarou.
O representante do CONIC-RS disse ainda que os atuais governos estão acabando com a soberania, uma vez que tiram o direito das pessoas pensarem. “Esse grito é para formar cidadãos. Queremos unir todo o povo na rua”, projetou.
O deus mercado não é um Deus bom para nós
“Para colocar a vida em primeiro lugar, tem que tirar o mercado da frente”, afirmou o presidente da CUT-RS, Claudir Nespolo, ao enumerar os diversos ataques brutais que a classe trabalhadora vem sofrendo com o governo ilegítimo de Michel Temer (PMDB). “O deus mercado não é um Deus bom para nós, pois está transformando o nosso Brasil num país para uma minoria.”
Nespolo anunciou o lançamento de uma campanha nacional, aprovada no Congresso Extraordinário da CUT, para a coleta de no mínimo 1,5 milhão de assinaturas em projeto de lei de iniciativa popular para revogar a lei da reforma trabalhista. “Temos que barrar, de todas as formas, a perda de direitos dos trabalhadores e evitar a precarização do trabalho e o desmonte da Justiça do Trabalho”, destacou.
A coleta de assinaturas será realizada em todo o país, com a organização de comitês municipais. A entrega do projeto está prevista até o dia 11 de novembro, quando entrará em vigor essa legislação que altera mais de 100 artigos da CLT, prejudicando os trabalhadores. “Vamos conversar com os demais movimentos para ampliar a coleta de assinaturas”.
O dirigente sindical encerrou afirmando que a CUT-RS não poderia estar em outro lugar no dia 7. “Estaremos nos somando ao Grito dos Excluídos, pois somente com mobilização e ocupando as ruas vamos desalienar as pessoas”, acentuou.
Todos os gritos
Representando o MST-RS, Aida Teixeira salientou que o movimento sempre participa do Grito dos Excluídos. “Esses atuais governos não nos representam e entregam as nossas terras e as nossas riquezas para o capital estrangeiro”, denunciou. De acordo com ela, no Brasil há 130 mil famílias acampadas. No Rio Grande do Sul o número chega a 2 mil famílias. “O nosso grito é por políticas públicas, pela reforma agrária popular, por assentamentos que garantam condições mínimas”, defendeu.
Para a catadora Michele, o Grito dos Excluídos é uma oportunidade para dar visibilidade aos carrinheiros. “Sobrevivemos daquilo que a sociedade não quer mais, com o que excluem. Queremos e merecemos ser reconhecidos como trabalhadores”, sublinhou.
Em nome dos artistas e trabalhadores da cultura, Patrick Acosta citou medidas dos governos federal, estadual e municipal que desmontam as políticas públicas e incentivos culturais. “Há um empenho de alguns governantes de marginalizarem os artistas, de restringirem o uso dos espaços públicos. A cultura precisa ser vista de uma forma ampla, como geradora de valor, identidade e consciência. Por isso, nos somamos também ao Grito dos Excluídos”, explicou Patrick.
Destacando o desgoverno do governador José Ivo Sartori (PMDB), a diretora do Semapi-RS, Regina Abrahão, falou sobre a vida difícil dos servidores estaduais. “Vivemos num caos. Sartori está sucateando o Estado e desmontando fundações superavitárias que realizam pesquisas de excelência para transformar o Rio Grande do Sul num estado mínimo”, criticou Regina.
Participando pela primeira vez do Grito do Excluídos, entidades de representação de imigrantes participaram da coletiva. O haitiano Prenor Joseph falou da realidade dos trabalhadores imigrantes, que deixam em seus países de origem inúmeras dificuldades, para buscarem melhores alternativas num lugar estrangeiro.
“Estamos aqui para erguer a voz dos imigrantes. Não somos mercadorias, já estávamos à margem da sociedade no nosso país e continuamos aqui. Lutamos todos os dias contra o racismo, a xenofobia, a discriminação e a exclusão”, enfatizou o haitiano.
Ao final, a representante da Cáritas-RS, Roseli Dias, “pediu a sensibilidade e a abertura de espaço na mídia para fazer as informações sobre o Grito dos Excluídos chegarem à população”. Ela salientou que a democratização da comunicação com o direito à informação também é “um dos gritos deste Grito”.
Confira a programação do Grito dos Excluídos em Porto Alegre
9h – Concentração na Rótula das Cuias, no Parque da Harmonia, para acolhida e mística;
10h – Caminhada pela Avenida Beira Rio até a Avenida Ipiranga (local de dispersão do desfile militar) e retorno até a Praça Júlio Mesquita (em frente à Usina do Gasômetro);
12h – Almoço comunitário.