Na manhã desta segunda-feira (22), o CPERS sediou o seminário preparatório para a X Marcha Estadual pela Vida e Liberdade Religiosa, que será realizada no final da tarde. Para isso, compuseram a mesa de debates a professora doutora e socióloga, Arlete Aparecida Hildebrando de Arruda; o Doutor em Teologia, Bispo da igreja Episcopal Anglicana do Brasil e presidente do Conselho Nacional das Igrejas Cristãs no Rio Grande do Sul, Humberto Maistegui Gonçalves; o presidente da CUT/RS, Claudir Nespolo; a socióloga, coordenadora geral do Instituto Akanni e Cônsul do Senegal no Estado, Reginete Souza Bispo; a iyalorixá, bacharel e pós-graduada em Direito Público, Winnie de Campos Bueno e o presidente do Conselho do Povo de Terreiro do RS, coordenador Nacional da Rede das Religiões Afro Brasileiras e Saúde, sanitarista formado pela UFRGS, Baba Diba de Yemanjá. A mediação foi realizada por Sandarli de Oxum, yalorixá, secretária executiva do Conselho do Povo de Terreiro/RS e psicóloga.
Na abertura do debate, Sandarli destacou a defesa dos diretos, da democracia e de um Estado laico. “A manutenção da democracia é fundamental, pois somente através dela poderemos manter o caráter laico do Estado. O povo de terreiro está atento as propostas de Temer, que pretende tirar tudo dos menos favorecidos”, afirmou.
Nespolo abordou as consequências do golpe orquestrado por Temer contra os trabalhadores e suas mais diferentes formas de manifestação, sendo uma delas a intolerância religiosa. “Quem deu o golpe no povo brasileiro tinha tudo planejado e acirrou questões que já eram sérias como a discriminação religiosa. Enquanto fazemos a resistência, eles tentam acelerar a reforma da previdência”, observou.
Winnie trouxe reflexões sobre a legalidade discriminatória e os pressupostos religiosos dentro das religiões de matriz africana. “No histórico do direito brasileiro temos figuras que querem impedir direitos fundamentais dos povos e coletivos que não se apresentam dentro de uma perspectiva cristã, criminalizando e intimidando. Este processo é organizado dentro de uma estrutura classista”, frisou.
“O estado democrático de direito é onde o povo é partícipe, é sujeito. Ou seja, participa na construção e desenvolvimento de uma sociedade. As religiões estão dentro deste mesmo processo. Não há estado democrático com uma religião padrão”, afirmou Gonçalves.
A Cônsul do Senegal no Estado, Reginete Souza Bispo, lembrou que ontem, dia 21, é celebrado o Dia de Luta contra a intolerância religiosa. “Essa data precisa ser constantemente lembrada, pois um Estado estruturalmente racista não é um Estado democrático. É só observamos os espaços de decisão e poder, onde está a representação do povo negro?”, questionou.
A socióloga Arlete destacou que há um longo caminho para que a democracia ocorra de fato. Através do jogo de cartas e com embasamento teórico, ela demonstrou a ação dos setores de comunicação, finanças e agronegócios e suas formas de atuação na sociedade, destacando as possibilidades de enfrentamento. “Dessa forma, conseguimos visualizar a conjuntura e desenvolver fortes mecanismos de defesa”, explicou.
Baba Diba de Yemanjá destacou que mais uma vez a Marcha sai as ruas em um momento decisivo para o país. “Estão retirando os nossos direitos. A Marcha é um símbolo de resistência do nosso povo que luta pelo direito de existir e contra o racismo religioso”, destacou.
O segundo vice-presidente do CPERS, professor Edson Garcia, agradeceu a presença de todos e destacou que o CPERS estará sempre de portas abertas para iniciativas de combate a intolerância religiosa e a discriminação. “Após mais de 70 anos de trajetória, estruturamos, em nossa primeira gestão à frente do Sindicato, o Coletivo de Igualdade Racial. Temos representação nos 42 Núcleos do CPERS. Precisamos ter um recorte da nossa representatividade entre os educadores e os estudantes. A invisibilidade nos foi imposta, mas não vamos aceitá-la. No CPERS lutaremos sempre pela nossa representatividade”, afirmou.