CPERS debate violência política de gênero


Na noite desta segunda-feira (23), o Departamento de Gênero e Diversidade do CPERS realizou o debate “Violência política de gênero: sempre foi sobre nós!”. A atividade teve a participação da escritora, jornalista e ex-deputada federal, Manuela D’Ávila, e da presidente do CPERS, Helenir Aguiar Schürer.

O evento ocorreu de forma híbrida, presencialmente com convidados dos 42 núcleos do CPERS, no salão de Atos Thereza Noronha e nas redes do CPERS.

O debate teve como mediadora a diretora do Departamento de Gênero e Diversidade, Carla Cassais.

O livro escrito por Manuela – “Sempre foi sobre nós: Relatos da violência política de gênero no Brasil” – traz relatos sobre violência política de gênero. As vivências apresentadas na obra são chocantes, não apenas pela agressividade das disputas políticas, mas por sua motivação intrínseca: todas as mulheres citadas na obra foram e são atacadas quase diariamente apenas por serem mulheres.

Entre as mulheres que dão seus depoimentos estão Maria do Rosário, Dilma Rousseff, Benedita da Silva, Sonia Guajajara, Tabata Amaral, Isa Penna e outros nomes femininos importantes da política nacional. O prefácio é escrito por Anielle Franco, irmã de Marielle Franco, figura que simboliza a extrema violência contra mulheres na vida política brasileira.

Manuela contou que no dia que Marielle Franco foi executada ela chorava em casa. “Eu pensava, ela é uma vereadora e foi executada, eu sou candidata à presidência da república, o que pode acontecer comigo?  Isso que aconteceu com a Marielle é um aviso. Me apresente o mandante do assassinato da Marielle e eu vou acreditar que nós estamos protegidas”, destacou.

E continuou: “A maioria das mulheres parlamentares de esquerda têm que viver com seguranças. Não estamos seguras.”

A escritora também falou da importância das mulheres ocuparem os espaços públicos para a luta.

“Espaço público não é só o parlamento. São espaços como aqui no Sindicato. Essa estrutura invisibilizada da mulher com cuidados com os filhos, casa, marido é o que nos impede de estar nos espaços públicos. Nós precisamos falar sobre isso para mudar”, destacou.

Para Manuela a desestrutura do Brasil tem como principais pontos a raça e gênero, o que gera a desigualdade. “Não é sobre a nossa identidade, é sobre a desigualdade e nós não vamos enfrentar a desigualdade se não enfrentarmos o racismo”, apontou.

A ex-deputada federal também destacou a importância de ter mais mulheres de luta no parlamento, assim como na luta de classes. “O poder não é do povo, o poder é da elite. O poder mesmo não está com a gente e temos que saber disso, para lutarmos todas juntas”, concluiu.

A ex-parlamentar agradeceu o convite do CPERS, e destacou o valor de ter o Sindicato junto na luta. “Para mim é sempre uma alegria encontrar vocês, pessoas de luta”, finalizou.

Categoria formada por mulheres de luta e resistência

A presidente do CPERS, Helenir Aguiar Schürer, falou do orgulho que tem da categoria de educadoras, que é basicamente formada por mulheres, que lutaram contra a ditadura e continuam nas ruas resistindo e lutando por seus direitos.

“O CPERS tem 76 anos de uma história lindíssima. Estava aqui pensando se algum presidente homem do CPERS foi gravemente agredido, assim como eu fui em frente ao Palácio Piratini, com um cassetete na cabeça. Se fosse um homem ali no meu lugar, de repente isso não aconteceria.”

A educadora fez uma crítica sobre os últimos governos, onde predominou a violência contra os trabalhadores(as). “Nós mulheres, temos que iluminar os caminhos. Temos que sair dessa treva que o Brasil foi colocado.”

Helenir apontou que quem apoia o governo Bolsonaro é porque se identifica com ele, frisando que o papel dos educadores(as) é preparar os estudantes para se rebelarem, lutarem pelos seus direitos e mostrar para as meninas que elas podem ser o que quiserem.

“Temos que ensinar para as nossas meninas que podem sonhar e fazer o que quiserem. Aprender a não desistir e a lutar pelo que querem”, apontou.

Helenir ainda observou que no Brasil se construiu uma cultura do trabalhador(a) odiar política e ressaltou que nas últimas visitas nas escolas tem buscado orientar os educadores(as) a entrarem no site da Assembleia Legislativa e verificarem como cada deputado estadual votou em projetos que tiraram direitos da categoria.

“Não é a Helenir, não é o CPERS que está dizendo, são os votos dos deputados. Nós temos que nos apropriar da política. Toda nossa vida é atravessada pela política”, concluiu.

A presidente também destacou a necessidade dos trabalhadores(as) se reconhecerem como classe trabalhadora e admitir que somos todos(as) iguais, sem discriminação de cor, gênero ou classe.

“Se não conseguirmos libertar nós mesmas, não vamos conseguir libertar ninguém. Sejamos rebeldes, sejamos de luta. Vamos para as ruas lutar, porque se não a elite vai continuar tirando nossos direitos.”

E prosseguiu: “Nós mulheres, somos a  maioria e se os homens não quiserem vir conosco para luta, que nos deem licença que nós vamos passar”, finalizou Helenir.

O Departamento de Gênero e Diversidade do CPERS é constituído pelos diretores: Carla Cassais, Suzana Lauermann, Vera Lessês e Leonardo Preto Echevarria.

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