“Esse telhado é feito em cima do suor da comunidade. A escola era a casinha do meu avô que cedemos. Desde então, vocês estão trabalhando em cima de uma reforma que nunca acontece? Vocês não têm projeto de educação para a questão indígena”, criticou Arnildo Verá Moreira, liderança Guarani e professor da escola indígena Nhamandu Nhemopu’ã, da aldeia Tekoá Pindó Mirim, de Itapuã, município de Viamão.
A fala de Arnildo foi direcionada a representantes da Seduc e 28ª CRE, em reunião na comunidade, que também teve a participação de dirigentes do CPERS, nesta terça-feira (26).
A irresponsabilidade do governador Eduardo Leite (PSDB) em impor o retorno obrigatório presencial das aulas sem garantir o mínimo – condições físicas, EPIs adequadas e suficientes, recursos humanos e segurança – mostra o seu total desrespeito com pais, alunos(as), professores(as) e funcionários(as), colocando em risco a vida de milhares em meio à pandemia.
Por mais de dois anos, a instituição de ensino sofre com o descaso do governo. Salas de aula sucateadas e insuficientes, biblioteca inadequada, goteiras e rombos no teto ilustram o cenário de abandono.
Graças à pressão do CPERS foi possível abrir uma linha de diálogo com o Estado. Na semana passada, o Sindicato conferiu de perto o drama vivenciado pelos educadores(as) e alunos(as), e denunciou a condição da Nhamandu Nhemopu’ã junto à imprensa. Após a denúncia, foi marcada a reunião, que há mais de um ano não ocorria.
“Eu fico triste que tem que noticiar para o governo poder enxergar a nossa situação” lamentou o diretor da Escola Estadual Indígena de Ensino Fundamental Nhamandu Nhemopu’ã, Leandro Subtil Moura.
A escola precisa urgentemente de um prédio novo para abrigar salas de aula, cozinha, refeitório e escritório. Sem isso, é impossível o retorno das aulas presenciais para 2022.
Hoje, as aulas improvisadas acontecem debaixo de uma árvore, e, para não prejudicar ainda mais o ensino, há dois anos, os 15 professores entregam atividades para as famílias, que retornam com o material para a correção das questões, mesmo sem ter luz e estrutura adequada para os exercícios.
Leandro explica que, desde 2019, foram feitos todos os encaminhamentos à 28° CRE, que nada fez.
“Sobre as obras, foi nos informado que o projeto estava em estudo de solo, mas, na prática, até agora não foi feito nada. Eu sei que existem demandas e pedimos só duas horas de reunião, mas houve uma resistência muito grande do governo. Meu sentimento e da comunidade é de impotência tamanho o descaso do Estado”.
De acordo com o diretor Leandro, foram solicitadas ainda a urgente reforma da biblioteca e da cozinha, mas o processo está parado. “Tenho o registro de todos os arquivos enviados”
Conforme a supervisora da escola, Benures Caselgrandi, a comunidade solicitou a construção de um prédio de madeira para, justamente, evitar a morosidade do processo.
“Não se pediu um prédio de alvenaria e nem isso tivemos. Precisaríamos de uma sala de madeira por ser um serviço mais rápido. Não precisamos de fala bonita, precisamos de prática. Como vamos iniciar o ano letivo de 2022, sem salas e o mínimo de estrutura?”, questionou Benures.
“Temos professores brilhantes, mas não temos um espaço físico. Quando pedimos uma sala de madeira e ninguém da coordenadoria olha para a escola, nosso sentimento é de descaso”, lamentou a supervisora.
Benures foi enfática ao afirmar que a escola não tem a mínima estrutura para atender os 84 alunos, muito menos abrigar professores(as) e funcionários(as).
“Temos três banheiros para nos atender. Cobro dos meus professores, ninguém está brincando de educar. Quando chove aqui, para onde vai a mesa de quem está cumprindo horário? Estamos cansados, me incomoda muito ver a comunidade desassistida”, asseverou.
O que diz a 28ª CRE e a Seduc
Para o assessor administrativo da 28ª CRE, Vinicius Vincenzi, há um pedido de estudo de solo desde 2019, bem como da reforma da cozinha e ampliação da escola, além de construção de sala e refeitório aberto no ano passado.
O pedido foi refeito em um outro segmento como obra planejada, o que torna o procedimento ainda mais moroso e burocrático. “Qualquer construção de ampliação é uma obra planejada”, afirmou.
O assessor da Secretaria de Obras da Seduc, Poty Silva, se colocou à disposição para resolver o problema o mais breve possível.
“Está registrado no nosso Sistema de Obras e no Protocolo já faz algum tempo. Estamos buscando soluções e essa conversa é importante”, assegurou.
“Há questões estratégicas. O deslocamento da construção de estudo de solo é importante; a engenharia precisa nos dar segurança. Sol e chuva, essa estrutura aqui não aguenta, não tem cabimento. Temos que resolver esse imbróglio”, completou Poty.
Conforme o Chefe da Divisão de Políticas Específicas, do Departamento de Educação da Seduc, Rodrigo Venzon, existem partes burocráticas e difíceis de se cumprir, e a população de estudantes não-indígenas é decrescente em relação à população indígena.
“A maior demanda de obras é das comunidades indígenas”, pontuou.
CPERS continuará na pressão para resolver o problema
De acordo com a presidente do CPERS, Helenir Aguiar Schürer, existe uma grande burocratização por parte da coordenadoria, o que contradiz a fala do governador Eduardo Leite (PSDB), que vende a imagem de um governo desburocratizado.
“Precisamos operar para encontrar alternativas e vamos fazer o que for preciso para fazer pressão política em cima do governo. O que queremos é o mínimo: tranquilidade nas escolas para fazer o nosso trabalho”, asseverou.
“Tem que ter um projeto e vontade política, não me venham dizer que o governo não tem dinheiro. São questões emergenciais. Queremos que esse projeto saia do papel”, argumentou o 1° vice-presidente, Alex Saratt.
“Nos interessa as condições de trabalho, a valorização dos profissionais, mas principalmente a educação que a gente faz para os filhos dos educadores e das comunidades”, afirmou a diretora Carla Cassais.
Durante a reunião, também foram debatidos credenciamento do Ensino Médio e Matriz Curricular. Um próximo encontro com as lideranças indígenas, comunidade escolar, CPERS, Seduc e 28ª CRE será marcado em breve.
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