Com dificuldade de acesso, escola do campo de São Gabriel luta para manter as atividades


A comunidade da EEEF Ataliba Rodrigues das Chagas, situada no distrito do Batovi, interior de São Gabriel, sofre, há anos, com sérios problemas no transporte escolar e no acesso à instituição.

A escola do campo, que atende mais de 200 alunos(as), em sua maioria filhos e filhas de assentados, precisa suspender as aulas em dias de chuva forte devido à precariedade das estradas. É comum que ônibus e carros atolem no trajeto e, às vezes, são necessários tratores para desatolar os veículos.

Em março deste ano, a escola também precisou paralisar as aulas enquanto a Seduc não resolvia o problema da falta de transporte escolar.

Na última quarta-feira (13), o CPERS visitou a instituição e comprovou a situação da escola, que atualmente está sem diretor, porque a antiga dirigente precisou renunciar ao cargo devido à sobrecarga de trabalho.

“Fiquei como diretora de 2019 a 2021, depois fui reeleita pela comunidade, mas tive que renunciar devido ao acúmulo de funções. O nosso caso é diferenciado, porque são quatro escolas em instâncias distintas, sendo uma unidade a 124 km da escola sede, o que torna inviável fazer prestação de contas sem o auxílio de um profissional. É uma responsabilidade muito grande para apenas uma pessoa”, desabafa a ex-diretora da escola, Tânia Mara Dorneles.

A instituição solicitou à CRE a contratação de mais funcionários(as) para o administrativo, mas o pedido não foi atendido devido ao número de alunos(as): “Pedi ajuda e não fui contemplada. Não fui atendida com a alegação de não termos direito devido ao número de alunos da escola. Eles não consideraram que o diretor tem que atender quatro escolas em suas quatro unidades”, ressalta Tânia.  

A Ataliba atende os alunos(as) em quatro prédios, mas para o atual número de estudantes, o ideal, seria um único edifício. O prédio sede da escola tinha estrutura provisória válida por cinco anos, desde o governo Tarso Genro (PT), mas já passou pelos governos Sartori (MDB) e agora Leite/Ranolfo (PSDB) e segue sem a nova estrutura.

O secretário da escola, Vanderlei da Silva, destaca que a estrutura provisória está cada vez mais frágil. 

“Nesses prédios, que seriam provisórios, as salas de aula estão começando a ficar esburacadas e o banheiro dos alunos também tem problemas. A escola recebe uma verba de manutenção, mas na verdade, é como se não fosse uma única escola, porque temos mais três prédios funcionando. A verba é insuficiente e deveria ser proporcional aos quatro prédios, o dinheiro que vem não dá para nada”.

Lamaçal em dia de chuva impede a chegada de educadores e estudantes à escola 

Para a comunidade da Ataliba, a maior necessidade no momento é um olhar do governo do Estado para as estradas, que deveriam permitir o acesso dos alunos(as) assentados ao seu direito básico de estudar. 

Vanderlei expõe que os atuais governantes, das três esferas – municipal, estadual e federal – se eximem da responsabilidade pela situação. 

“Quando chove, os ônibus não conseguem entrar. O município diz que não é responsabilidade dele, porque é dentro dos assentamentos, o Incra diz que não tem obrigação de arrumar a estrada porque é municipal e a estrada RS 630, que é estadual, está em péssimo estado de conservação e estão refazendo a ponte”, diz o secretário.

Jorge Silva, professor da escola, conta que além do lamaçal, há dificuldade também em razão de uma ponte que caiu: “Agora nós tivemos a queda de uma ponte e temos que fazer um desvio que aumentou o trajeto em quase quarenta quilômetros”. 

Renato Cardoso, motorista de um dos ônibus que realiza o transporte da escola relata as dificuldades de chegar aos assentamentos mais distantes. 

“Nessas estradas não conseguimos chegar, por exemplo, até o assentamento Itaguaçu. A gente vai até onde a gente consegue. Uns 15 dias atrás, toda vez que tentava ir até lá precisava de trator para me tirar, então a gente não tem condições de trafegar lá, os pais cobram da gente, mas nessas estradas não tem condições”, lamenta Renato. 

A supervisora da escola, Leci Soares, destaca que mesmo cinco meses após o início do ano letivo, alguns alunos(as) ainda não conseguem frequentar as aulas: “Nós temos cerca de 10 alunos que não conseguem chegar até a escola em função da estrada, porque o transporte não consegue chegar até a casa deles”.

Com a dificuldade no transporte público para chegar até a escola, muitos educadores(as) precisam se deslocar com veículo particular, mas com o baixo valor da gratificação de local de exercício e os altos custos com gasolina e manutenção, quase pagam para trabalhar, como explica a professora Polyana Schuh. 

“A gente recebe uma ajuda de custo, porém, ela não custeia todo o gasto que a gente tem com o nosso transporte e com gasolina. As estradas estão em péssimas condições, muitas vezes nossos carros atolam. A gente trabalha por amor, porque está cada vez mais difícil trabalhar com a nossa profissão”, desabafa Polyana.

Fortalecer a escola do campo, é fortalecer o direito à educação 

Para o CPERS, defender a escola do campo é defender um projeto educativo que considera a inserção das crianças e dos jovens assentados na prática social e como agentes do futuro da comunidade onde estão inseridos.

Alex Saratt, presidente em exercício do Sindicato, ressalta que o descaso dos governantes com as escolas do campo é o principal responsável pela atual situação.

“Ao chegar na Ataliba, constamos uma realidade muito preocupante, que revela a precariedade que a educação pública se encontra nas escolas do campo do Rio Grande do Sul. Essa realidade é fruto de uma política de abandono do governo do Estado e do completo descaso com que se tratam as necessidades dos estudantes e dos profissionais da educação que trabalham nesse tipo de instituição”. 

A diretora da Comissão de Educação e tesoureira do CPERS, Rosane Zan, destaca que é preciso cada vez mais investimentos nessas escolas. 

“A gente vê que a estrutura e a qualidade não andam junto nesse governo. Temos que investir muito mais nas escolas do campo e no campo, precisamos fazer a luta pela manutenção da estrutura dessas escolas. Lutar pelo acesso à Ataliba é uma luta em defesa do direito das crianças e adolescentes à educação”, destaca a diretora.

O Sindicato reafirma sua permanente luta para assegurar a existência e a ampliação das escolas do campo e tudo o que as mesmas representam e pressionará para uma rápida resolução da situação.

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