Mesmo com uma queda vexatória no número de matrículas da Educação de Jovens e Adultos no Rio Grande do Sul – o estado perdeu 53,9 mil estudantes nessa modalidade entre 2017 e 2022 – Eduardo Leite (PSDB) não disfarça sua falta de compromisso com o ensino público: o prédio do Neeja Paulo Freire, localizado na Coronel Bordini, em Porto Alegre, pode ser fechado pela Secretaria de Educação (Seduc).

A escola, que atende alunas(os) trabalhadoras(es) de 40 bairros da capital e de 12 cidades da região metropolitana, está ameaçada de ser transferida para a rua Felipe de Oliveira, prejudicando o acesso à educação. O atual endereço fica próximo de diversas linhas de ônibus e representa as quatro décadas de história da instituição no bairro Auxiliadora.

Segundo o 2º vice-presidente do CPERS, Edson Garcia, no entorno do Neeja Paulo Freire há comércio, lojas, supermercados e escritórios que contemplam a realidade dos estudantes, que são trabalhadoras(es). “As pessoas não constroem seus vínculos aqui por acaso, os alunos e as alunas não estudam aqui por acaso e a gente tem que manter essa identidade. Porque a perda da identidade implica no enfraquecimento de todo o processo de ensino-aprendizagem”, alerta o educador.
No Rio Grande do Sul, pouco mais de 51,4% da população gaúcha, com 25 anos ou mais, concluiu pelo menos o Ensino Médio. Mesmo que o percentual seja melhor do que a média brasileira, o número ainda é alarmante e denuncia a falta de políticas públicas nesse âmbito educacional.
“O governo Leite tem desmantelado a Educação de Jovens e Adultos. Por isso, estamos aqui, enquanto CPERS, cobrando a permanência do Neeja nesse espaço”, destacou a tesoureira do Sindicato, Rosane Zan.

Justificativa incoerente
Problemas estruturais no telhado e risco de desabamento são as justificativas da Seduc para o fechamento do prédio. No entanto, nenhum laudo técnico foi apresentado às educadoras(es) demonstrando que não há como permanecer no local.
De acordo com o professor de História e Orientador Educacional da escola, Silvio Alexandre, a instituição de fato precisa ser revitalizada. “Todas as escolas públicas precisam de reforma. Mas com as modernas técnicas de engenharia, nós podemos reformar o Neeja Paulo Freire e achar alternativas para se manter trabalhando aqui, onde existe raiz e memória”, afirma.

O que chama atenção, no entanto, é que a escola fica na esquina da Rua Marquês do Pombal, região de grande interesse do mercado imobiliário, fato que sugere a verdadeira razão pela qual Eduardo Leite (PSDB) quer retirar o Neeja dali.
“Tá faltando muito respeito com a história dessa escola. O Neeja Paulo Freire tá calcado e enraizado aqui, nesse endereço”, destaca a professora de Geografia, Graziela Gibrowski.

Ataque ao direito à educação
O Neeja Paulo Freire recebe estudantes dos bairros São Geraldo, Floresta, Auxiliadora, Passo d’Areia, Santa Maria Goretti, Humaitá, Sarandi, Navegantes, Vila Farrapos e Cristo Redentor, localidades onde a maioria da população negra de Porto Alegre vive. Muitas moradoras dessa região são mulheres e mães, que fazem uso da escola.
O estudante Luis Gustavo Prazeres, de 26 anos, deseja que a instituição permaneça onde está, pois vê a conclusão dos estudos ameaçada com a mudança de bairro. “Se eu for lá para a Ipiranga, eu tenho certeza que eu vou um dia e, dependendo, depois eu não vou conseguir ir mais”, desabafa.

O jovem, que tem o sonho de ser nutricionista, chegou ao Neeja por indicação de outros estudantes e tem levado para frente o legado da escola. Ele sugeriu ao pai que também finalizasse a educação básica por lá.
“Para mim, aqui foi uma luz no fim do túnel. Tomara que continue aqui, é isso que os professores e os alunos querem”, destaca Luis.
Para o CPERS, a mudança de endereço significa cercear o direito à educação daqueles e daquelas que não tiveram a oportunidade de estudar no tempo certo. O Neeja Paulo Freire representa a possibilidade da comunidade imigrante, negra e periférica da capital mudar de vida. É revoltante que a memória da escola, construída diariamente na Rua Coronel Bordini, número 190, seja apagada por interesses alheios à democratização do ensino público e à dignidade da classe trabalhadora. NEEJA, FICA!






Fotos: Joana Berwanger/CPERS Sindicato




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