Representantes da 1ª Coordenadoria Regional de Educação (CRE) estiveram na manhã desta quinta (3) no CE Cândido José de Godoi, na capital, para verificar a estrutura da escola e tentar justificar o fechamento de três turmas – uma de cada ano do Ensino Médio – e enturmar os estudantes. No local, o grupo encontrou uma escola organizada e que tem como consenso o repúdio à medida imposta pela Secretaria Estadual de Educação (Seduc).
Após conhecer espaços como salas de aula e laboratórios, a coordenadora regional da 1ª CRE, Hilda Liana Silva Diehl, juntamente com os demais integrantes da coordenadoria, reuniu-se com a equipe diretiva e docente da escola. No local, ouviram de professores e estudantes algumas das razões pelas quais a enturmação é extremamente prejudicial à aprendizagem e também as sérias consequências que isso trará como a superlotação de turmas.
O diretor da instituição, Mário Antônio da Silva, entregou aos representantes da CRE um abaixo-assinado sobre a climatização das salas de aula e também um documento oficiado pelo Ministério Público sobre a mesma questão. Segundo ele, na última terça-feira foi realizado um monitoramento das temperaturas nas salas de aula e nos demais ambientes da instituição. “Chegou a 36 graus em uma sala sem nenhum aluno. Considerando que cada corpo humano corresponde a uma lâmpada de 100 wats, imagina o caldeirão que fica com 30 estudantes, por exemplo. Temos situações de alunos e de professores que devido às altas temperaturas vomitam, passam mal, desmaiam”, explicou.
Os estudantes também entregaram um abaixo-assinado em repúdio a enturmação.
Outra preocupação exposta foi a situação dos alunos com necessidades especiais, que deveriam ser atendidos em salas de recursos, espaço que a escola não possui. “Se enturmarem, isso será um sofrimento psicológico muito grande para eles”, expôs o diretor.
“Além do problema de carga horária dos professores, principalmente dos contratados, que terão de se deslocar ainda mais para completar sua carga horária, nós não temos condições de atender turmas com mais de 30 alunos, que já é muito. A preocupação é ainda maior quando se trata dos nossos alunos com necessidades especiais. Não tem como aprenderem dessa forma. Precisaríamos, na verdade, de turmas menores”, explicou a professora de Literatura, Português e Artes, Juliana Terra.
“Não levam em conta nenhum critério pedagógico. Se ocorrer a enturmação teremos turmas superlotadas sem a mínima condição para que isso ocorra, inclusive sem climatização. A qualidade do ensino decai à medida que não se leva em conta que nesta faixa etária há o sentimento de pertencimento ao grupo. Quando se desmancha uma turma o processo de ensino fica extremamente prejudicado”, destaca o professor de História, Rogério Rolim.
A dirigente estadual do CPERS, Sonia Solange Viana, que acompanhou a visita da CRE à escola, destacou que o Sindicato vem acompanhando os inúmeros casos de enturmações e multisseriações que ocorrem em todo o estado. “Temos um mapeamento sobre esta situação. Esperamos que os educadores e os estudantes não sejam ainda mais prejudicados. Não é possível penalizar ainda mais quem já vive uma situação de miserabilidade e descaso”, ressaltou.
Mesmo diante dos apelos, CRE confirma enturmação
Enquanto a reunião ocorria na sala dos professores, os alunos lotaram o saguão da escola e munidos de cartazes que diziam não à enturmação aguardaram a saída dos representantes da CRE.
Ao final da reunião, os representantes do Estado passaram pelo protesto dos estudantes que pediam respeito à educação entoando palavras de ordem como “tem para banqueiro, tem para ladrão, só não tem para a educação”, “eu não quero enturmação porque de cheio já basta o busão”, sem dialogar com nenhum aluno.
“Enturmar, ainda mais agora no final do ano letivo, é um absurdo. Isso pode gerar o desemprego dos professores e turmas superlotadas. Não tem nenhuma condição de lotarem as turmas, passamos muito mal com o calor. Isso sem falar nos colegas com necessidades especiais, pois eles precisam de um grupo fixo para se sentirem seguros”, observou a estudantes do primeiro ano, Mariana Gerard da Silva.
O estudante Pedro Emílio dos Santos passava pelo corredor empurrando um carrinho cheio de maçãs e oferecendo aos colegas como merenda. A função realizada por ele deveria ser feita por uma merendeira, que a escola não tem. “A gente acaba se organizando para ajudar, porque amamos a nossa escola e os professores já estão sobrecarregados”, afirmou.
Além da falta de merendeira a escola está sem secretária e bibliotecário.
Mesmo diante dos relatos de alunos e professores, a coordenadora regional da 1ª CRE confirmou que a enturmação deve ocorrer ainda este ano. “Disse que nos prendermos na questão das altas temperaturas nas salas de aula é um argumento muito fraco para que a enturmação não ocorra”, afirmou o diretor da escola.
No final da tarde desta terça, a direção da instituição deverá reunir-se com representantes da Seduc e da Comissão de Educação da Assembleia Legislativa em mais uma tentativa de sensibilizar o governo para que a enturmação não se concretize.