A serviço de quem: relatório da Unesco aponta impactos negativos do uso da tecnologia na educação


Foto destaque: Paula Giolito / Agência O Globo

Nesta quarta-feira (26), a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) divulgou o relatório “A tecnologia na educação: uma ferramenta a serviço de quem?”, que aborda o uso compulsório de ferramentas tecnológicas em sala de aula.

A constatação dos resultados é a mesma que o CPERS vem denunciando há anos: não há dúvidas que as ferramentas auxiliam na educação, mas o custo para que o acesso a aparelhos, aplicativos e internet seja igualitário é muito alto, o que faz com a desigualdade social se escancare ainda mais.

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A tecnologia na área educacional tem sido amplamente adotada nos últimos 20 anos. Neste período, o número de estudantes em cursos online saltou de 0, em 2012, para pelo menos 220 milhões, em 2021. Um investimento que não vemos sendo desembolsado quando se trata da valorização dos educadores(as) e da infraestrutura das escolas.

O estudo da Unesco aponta que uma atenção excessiva à tecnologia, geralmente, tem um alto custo. Estes recursos, quando deixam de ser investidos, por exemplo, em melhorias de salas de aula, na profissionalização de educadores(as) ou aquisição de livros didáticos para crianças em países de baixa ou média renda, provavelmente, colocarão o mundo em uma posição ainda mais distante de alcançar o objetivo de uma educação de qualidade e acessível para todos e todas.

Ainda é relatado que os produtos de tecnologia evoluem tão rapidamente, sendo trocados em média, a cada 36 meses, o que dificulta a avaliação do impacto no aprendizado. Além disso, a Unesco aponta que a maioria dos estudos são conduzidos pelas próprias empresas de tecnologia: “Boa parte das evidências são produzidas pelos que estão tentando vendê-las. A Pearson financiou seus próprios estudos e contestou uma análise independente que demonstrava que seus produtos não tinham impacto algum”, denuncia o documento.

Consequências negativas na aprendizagem

Um dos pontos destacados no estudo, reflete sobre como o uso intensivo dessas plataformas e dispositivos podem gerar um impacto negativo na educação e no aprendizado dos alunos(as).

A convivência e a interação entre estudantes e educadores(as) é parte fundamental do desenvolvimento cognitivo e pensamento crítico. Quando substituídos por uma tela, as capacidades individuais que deveriam avançar são comprometidas.

Foto: Divulgação/MCTIC

Uma avaliação de 23 aplicativos de matemática, usados no nível primário, demonstrou que alunos(as) passaram a se concentrar na memorização, ao invés de habilidades avançadas.

O relatório conclui reforçando que a tecnologia deve ser introduzida na educação com base em evidências que demonstrem que ela seria apropriada, igualitária, escalonável e sustentável. Em outras palavras, seu uso deve atender aos melhores interesses dos estudantes e complementar uma educação baseada na interação humana.

O uso desregrado das tecnologias nas escolas estaduais do Rio Grande do Sul 

Segundo dados apurados pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), de janeiro de 2022 até julho de 2023, a Seduc já empregou cerca de R$ 224 milhões em repasse de recursos da educação para empresas de tecnologia, terceirizando funções e responsabilidades que seriam do governo.

Dinheiro esse que poderia estar sendo investido em alguma obra emergencial, dentre as tantas necessárias na rede pública, ou ainda na valorização salarial dos servidores(as), que acumulam quase 60% de perdas inflacionárias desde 2014.

Foto: Divulgação/CPERS

Qual a real intenção dessas instituições com o ensino público e por que a Seduc permite? A resposta é simples: a educação básica do estado é vista por estes entes como fonte de lucro e nicho de mercado.

Para o CPERS é preciso avaliar se essas ferramentas são realmente úteis para o dia a dia das instituições estaduais de ensino. Não podemos permitir que a gestão das escolas públicas – e o dinheiro dos gaúchos(as) – seja repassado imprudentemente aos grandes empresários.

O Sindicato seguirá vigilante nas formas de aplicação e investimento de verba pública em determinadas tecnologias e na luta incansável por uma educação igualitária e acessível para todos(as) e exigindo respeito ao projeto político-pedagógico de cada escola.

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