O 40º núcleo do CPERS (Palmeira das Missões) realizou uma live na última sexta (29) para debater sobre o desafio de evitar o aprofundamento das desigualdades educacionais em tempos de pandemia, o avanço das privatizações e a realidade dos educando em relação à educação a distância.
A discussão contou com a participação da secretária geral do CPERS, Candida Rosseto, do diretor do núcleo, Joel Oliveira, da doutora em educação e integrante do Conselho Estadual de Educação, Lucia Camini, do pedagogo e doutor em educação, Juca Gil e da diretora da EEEM São João Batista, Daniela Sganzerla.
Ao abordar o tema Privatização Educacional em Tempos de Pandemia, Gil avaliou que o governo do estado, além de omisso, transfere suas obrigações aos educadores e às famílias dos estudantes.
“Os professores estão sendo, como pessoa física, responsabilizados pelo ensino, que é público. Enviam de seu whatsapp pessoal, de dentro de suas casas, materiais para os alunos, por exemplo. Respondem a qualquer dia, hora e lugar utilizando recursos próprios. O governo não está pagando esse tempo extra e não ofereceu uma formação. Sequer deu instruções claras e possibilidades, do ponto de vista estrutural e funcional, para que este formato de ensino funcionasse”, pontuou.
“Uma passo a frente na privatização ocorreu com a última determinação do governo, quando a rede estadual foi jogada nas mãos de uma multinacional de telecomunicações. Ao invés de desenvolver plataformas próprias, o estado simplesmente buscou uma empresa privada”, destacou.
Quanto ao retorno das aulas presenciais, iniciando pela educação infantil, conforme sugerido pelo Executivo, o pedagogo demonstrou extrema preocupação.
“Como cumprir o distanciamento necessário nessa faixa etária? É irracional essa possibilidade em um momento onde a doença ainda está se espalhando. O governador está acenando para a iniciativa privada e o mercado, comprometendo os educadores que, ao abrirem as escolas, colocarão em risco suas vidas, dos estudantes, da comunidade escolar e de seus familiares. Se o governador abrir as escolas terá que ser penalizado civil e criminalmente”, afirmou.
Gil também chamou a atenção para o fato de o CPERS estar fora das discussões sobre os métodos de ensino neste período e os protocolos que serão adotados quando o ensino presencial for retomado. “O sindicato obrigatoriamente deveria estar nessa discussão. O convite não foi feito e pelo jeito não será, pois não há uma disposição dos governantes para o diálogo”, avaliou.
Diante da pandemia, desigualdades se acentuam
Lucia Camini avaliou o cenário atual e falou sobre os desafios para evitar o aprofundamento das desigualdades, diante da pandemia.
De acordo com ela, os governos avaliam que ao ofertar 40% de EAD, a escola pública está funcionando. “Porém, mais de 40% dos lares brasileiros não possuem internet e quando têm é um computador para toda família usar. Então, os governos, mais uma vez, estão se desresponsabilizando pela oferta e garantia da educação. Minha preocupação é sobre quantos ficarão para trás nesse processo”, destacou.
Outra preocupação exposta pela educadora é o fato de o governo ter emitido uma medida provisória flexibilizando os 200 dias letivos sem observar as diferentes realidades da educação nacional, em todos os níveis.
“Quem assumiu esse debate foram às instituições do mercado, o Todos pela Educação e o Banco Mundial, que estavam trazendo propostas para a educação púbica e privada. A escola permanece pública, mas os materiais vêm de empresas privadas. O objetivo é formar mão de obra barata, sem condições de formar sujeitos críticos”, analisou.
“Por que a rede pública, que atende mais de 85% das matrículas do Brasil, não é consultada? Por que não se conversa com o CPERS, que tem mais de 80 mil filiados? Por que não se ouve os conselhos? Porque há interesses muito fortes. A fundação Lemman assinou um convênio com o governo já no início da administração do governador Eduardo Leite. Agora já estipula conteúdos e organiza plataformas. Onde fica o respeito ao planejamento da escola e do professor?”, indagou.
Para ela, o ensino a distância é uma forma de substituir o professor pela máquina.
“Os educadores que não estão preparados para isso sofrerão um estresse ainda maior. A categoria já é penalizada com a severa retirada de direitos. Isso pode levar à diminuição do número de professores, a não contratação de mais profissionais, ao fechamento de turmas e turno”, expôs.
As dificuldades de estudantes e pais
Diretora da EEEF São João Baista, de Novo Barreiro, Daniela Sganzerla identificou as dificuldades encontradas pelos estudantes e suas família com o ensino à distância. Na primeira etapa de suspensão das aulas presenciais foram criados grupos de whatsapp de alunos e pais para o envio dos conteúdos, além de materiais impressos para os que não tinham acesso à internet.
“Nos deparamos com um grupo de alunos que não têm whatsapp, outros que têm, mas que só acessam através da internet da escola e outros que têm acesso apenas à internet com acesso limitado. No interior, os sinais das operadoras são muito ruins. Os alunos têm que sair paro o pátio, o meio da lavoura, para conseguir conexão”, relatou.
A diretora também colocou que alguns pais procuraram a escola preocupados com a aprendizagem dos filhos, pois muitos possuem apenas um celular, que fica com os pais durante o dia, no trabalho.
Além dos problemas com o acesso às tecnologias, Daniela ressaltou que nem todos os estudantes possuem ajuda para a organização do tempo para estudar, principalmente nos anos iniciais. “Muitos pais não têm tempo para acompanhar as atividades e muitas vezes também não compreendem as tarefas”, explicou.
“Tem também as dificuldades dos professores, que precisam fazer uso de seus equipamentos, que estão defasados, assim como os salários”, destacou,
Ela também manifestou a preocupação com a imensa responsabilidade que está sendo jogada nos ombros das famílias e das escolas.
“O EAD não vai resolver os impactos que a pandemia trouxe para a educação. As desigualdades ficarão acentuadas. Precisamos pensar num plano de recuperação para após esse período”, afirmou.
Importância do debate diante da crise política e sanitária
Candida considerou as abordagens importantes e pertinentes, destacando o momento em que se enfrenta uma crise política, social e sanitária em meio à pandemia. “Isso traz muitos reflexos para a área educacional. Deixa ainda mais claras as desigualdades, haja visto todo o movimento de encaminhamento das atividades e do projeto educacional em curso. As orientações que a Seduc passou são no sentido de efetivar a privatização da escola pública, aproveitando um momento de tantas dificuldades para implementar um projeto que destrói a escola pública. Se não bastasse todos os ataques do governo, que levam a categoria a miséria, há muita pressão e sobrecarga aos educadores em um momento de medo em face da pandemia”, considerou.
“Nosso objetivo foi o de proporcionar à categoria uma live com uma temática oportuna para o momento em que os serviços e servidores públicos são tratados como gastos e não como investimentos. Os debatedores trouxeram a importante reflexão o perigo que a educação pública enfrenta, com o governo Eduardo Leite se aproveitando do momento para aplicar seu projeto cruel, de retirada de direitos e implantação do Ensino a Distância, sem conhecer a realidade das escolas e considerar a realidade dos educandos. Professores da rede estadual terão que preparar meios para que as aulas remotas cheguem até seus alunos, independente de estarem com salários atrasados, parcelados e congelados há quase seis anos”, considerou Joel.