O empresariado tentará emplacar, com Michel Temer, temas que foram rechaçados pelo PT e pelos governos de Dilma Rousseff. Na lista que está sendo elaborada pela indústria, haverá pedidos para permitir a terceirização e os acordos fechados diretamente entre patrões e empregados, sem a interferência sindical. O empresariado tentou aprovar esses temas com Dilma, mas enfrentou resistência de grande parte da base de apoio do governo, formada pelo PT, sindicatos e movimentos sociais. A CNI (Confederação Nacional da Indústria) prepara uma lista, por enquanto com 38 propostas, que estão sendo condensadas num documento com o título provisório de “Agenda para o Brasil Sair da Crise”.
Nesta semana, industriais de vários setores se reuniram em São Paulo para acelerar a pauta de reivindicações que pretendem entregar a Temer, caso ele assuma o lugar da presidente Dilma. A ideia é apresentar medidas que possam ser aprovadas nos dois anos que sobrariam de mandato (até 2018). Para marcar posição contra um eventual aumento de impostos, o empresariado vai defender a eficiência e o enxugamento do setor público. “Precisa cortar ministérios e os gastos públicos”, disse Paulo Skaf, presidente da Fiesp (que reúne indústrias de São Paulo). “O novo governo precisa dar o exemplo para retomar a credibilidade.” Em conversas reservadas, pessoas ligadas a Temer teriam adiantado que pretendem reduzir o número de ministérios para 17 pastas.
A avaliação dos empresários é que, com mais crescimento, é possível recuperar a arrecadação de tributos do governo. E fazer novas concessões de infraestrutura é a chave para destravar a economia. “O primeiro choque na economia seria dado se o governo liberasse as concessões de rodovias”, afirma Clésio Andrade, presidente da CNT (Confederação Nacional do Transporte). Segundo ele, há 700 projetos de concessão parados no governo e pelo menos a metade teria interesse de investidores. “Mas para isso é preciso alterar a lei de licitações. Não faz sentido controlar a taxa de retorno [do investidor]”, diz Andrade.
CÂMBIO
Outra reivindicação que ganhou fôlego entre os exportadores nos últimos dias é por uma atuação ainda mais ativa do Banco Central contra a valorização do real (queda do dólar), que reduz o retorno de suas vendas. A euforia em torno de uma possível mudança de governo já está derrubando a moeda americana, movimento que deve se acentuar caso Dilma seja afastada.
Um dos poucos setores que vinham bem na crise, o agronegócio rompeu com o governo quando Dilma recebeu representantes dos movimentos dos sem-terra no Palácio do Planalto. Em apoio à presidente, eles ameaçaram com invasões caso o impeachment seja confirmado. Na agenda da agricultura para Temer, há pontos controversos.
Além de juntar dois ministérios que tratam de assuntos conflitantes –agricultura e reforma agrária–, os empresários querem que as regras de contratação no campo sejam mais flexíveis que nas cidades. Para dar apoio a um possível governo Temer, as lideranças do agronegócio colocaram como principal condição que o Ministério da Agricultura fique fora do previsível loteamento de cargos com os partidos.