Tainara, Allane, Laysa, Isabely e Catarina. Esses são apenas alguns dos nomes que, nas últimas semanas, escancararam a brutalidade dos feminicídios no Brasil. Cada caso expôs, mais uma vez, a face mais cruel da violência de gênero e reforçou o diagnóstico que motivou a Roda de Conversa promovida pelo CPERS nesta sexta-feira (12), na sede do Sindicato, em Porto Alegre.

Com o apelo contundente “Parem de nos matar!”, o Departamento de Mulheres da entidade reuniu representantes de núcleos de todo o Rio Grande do Sul para debater o avanço alarmante dos feminicídios, a insuficiência das políticas públicas de proteção e os caminhos de enfrentamento para 2026, incluindo a organização das mobilizações do 8 de Março.
A atividade integra a programação do Sindicato na campanha 21 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra a Mulher, iniciativa global que busca mobilizar a sociedade e pressionar governos a enfrentar as múltiplas expressões da violência de gênero. A edição de 2025 também destaca a dupla vulnerabilidade vivida por mulheres negras e o crescimento da violência digital, fenômeno cada vez mais comum no país.

Na abertura do encontro, a presidente do CPERS, Rosane Zan, falou com forte emoção sobre a trajetória histórica das mulheres que constroem o Sindicato há oito décadas. “Nos emociona e nos orgulha representar uma categoria majoritariamente feminina. São tantas mulheres que levam nossas lutas com garra, potência e organização. Mas não podemos aceitar seguir invisibilizadas. Temos que gritar em alto e bom som: parem de nos matar! Os homens ainda querem ser nossos donos e nós não temos donos. Que este encontro nos ajude a refletir sobre nosso papel como educadoras e reforçar nossa luta pela educação pública, pelos nossos direitos e, principalmente, por nossas vidas.”

A diretora do CPERS e coordenadora do Departamento de Mulheres, Joara Dutra, destacou o objetivo central do encontro: fortalecer os coletivos regionais e ampliar o protagonismo feminino dentro e fora do Sindicato. “Somos a maioria, mas ainda somos tolhidas ao ocupar espaços de poder. O cotidiano nos afasta do nosso próprio protagonismo. Hoje vamos refletir sobre isso, ouvir as vivências das colegas nos núcleos e escolas, e construir ações reais para enfrentar essa escalada de violência que insiste em nos silenciar.”

Também diretora do Departamento, a secretária-geral, Suzana Lauermann, ressaltou os retrocessos nas políticas públicas para mulheres no estado. “Somos mais de 80% da categoria. Precisamos estar organizadas, porque toda vez que conquistamos direitos, somos mais atacadas. O RS tem pouquíssimas delegacias de mulheres e aprovou um orçamento irrisório para a pauta no próximo ano. Que este momento nos fortaleça para fazer do 8 de Março um marco da luta feminina em 2026.”

“Vivemos assédios diariamente. O governo Leite nos ataca e precisa ser derrotado. Vamos organizar o conjunto das mulheres educadoras para construir um 8 de Março forte, com a pauta da educação no centro. Encerramos 2025 chamando todas para essa construção coletiva.” A diretora Mari Andrea Oliveira de Andrade lembrou a importância das mobilizações de 2026, destacando o impacto das políticas estaduais na vida das educadoras.

A diretora Sandra Santos reforçou a urgência da mobilização e da formação nas escolas. “Só de estarem aqui, em meio a tantas demandas de fim de ano, já é uma grande vitória. Somos uma categoria com defasagem salarial histórica, mas seguimos na resistência e seguimos sendo usadas politicamente por um governo que diz nos priorizar, mas sequer nos enxerga. Querem decidir sobre nossos corpos e calar nossas vozes, mas não vão conseguir. Precisamos levar esse letramento para o chão da escola.”

Diretoras de outros departamentos do CPERS também se manifestaram, reafirmando que o Sindicato — composto majoritariamente por mulheres — seguirá firme na defesa da vida, dos direitos e da segurança de todas. Participaram as diretoras Vera Maria Lessês, Juçara Dutra, Sandra Regio, Daniela Peretti e Andrea Nunes da Rosa.
Dor, coragem e construção coletiva
O momento de escuta e reflexão foi marcado por relatos emocionados. Educadoras de diversas regiões compartilharam vivências, experiências de violência, angústias e desafios enfrentados nas escolas e comunidades. No choro e nos olhares das presentes, a certeza da indignação diante de um país onde, todos os dias, ao menos quatro mulheres são assassinadas.

Dados recentes do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE) revelam a gravidade da situação. Nos últimos dez anos, mais de 47 mil mulheres foram assassinadas no Brasil. No RS, os números são igualmente alarmantes: apenas no primeiro semestre de 2025, foram registrados 36 feminicídios, um aumento de 20% em relação ao ano anterior, além de 134 tentativas. O estado também apresenta duas mulheres vítimas de violência doméstica por hora e lidera o ranking nacional de feminicídios cometidos contra mulheres que possuíam medidas protetivas vigentes — um retrato doloroso das falhas na rede de proteção.
Diante desse cenário, a Roda de Conversa do CPERS tornou-se um espaço de acolhimento, mas também de articulação: dali emergiram propostas e compromissos para fortalecer a rede de proteção às mulheres dentro e fora do ambiente escolar.

Como encaminhamentos do encontro, foram definidas ações para fortalecer o enfrentamento à violência de gênero ao longo do próximo ano, incluindo o fomento a leituras feministas, a produção de um vídeo com depoimentos, a criação de coletivos regionais nos núcleos, o incentivo a projetos de letramento nas escolas, a realização de atividades de escuta, a participação organizada na Marcha do 8 de Março e a elaboração de materiais do Departamento para ampliar os debates nos núcleos e nas comunidades escolares.
Enquanto milhares de mulheres seguem expostas à violência e à ausência de políticas eficazes de amparo, proteção e segurança, o CPERS reafirma seu compromisso inabalável: seguir na luta pela vida das mulheres, até que nenhuma seja silenciada!
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